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17/01/2011

A Senhora de Shalador, Anne Bishop

A Senhora de Shalador, Anne Bishop

Título Original: Shalador's Lady
Núm. páginas: 496
Editora: Saída de Emergência

Sinopse: Durante longos anos, o povo de Shalador suportou as crueldades das Rainhas corruptas que reinavam, proibindo tradições, punindo quem se atrevia a desafiá-las e forçando muitos à clandestinidade. Pese embora os refugiados tenham encontrado abrigo em Dena Nehele, nunca conseguiram considerar esse lugar como a sua terra. Agora, depois da aniquilação dos Sangue deturpados de Dena Nehele após a purificação, a Rainha de Jóia Rosa, Senhora Cassidy, assume como seu dever restaurar a terra e dar provas das suas capacidades como soberana. Ciente de que para assumir tal tarefa irá precisar de todo o ânimo e coragem que conseguir reunir, invoca o poder dentro dela que nunca fora posto à prova, um poder capaz de a consumir caso não consiga controlá-lo. Ainda que a Senhora Cassidy sobreviva à sua prova de fogo, outros perigos a aguardam. Pois as Viúvas Negras descortinam nas suas teias entrelaçadas visões de algo iminente que irá mudar a terra - e a Senhora Cassidy - para sempre.


Opinião: A história deste livro passa-se logo a seguir aos acontecimentos de Aliança das Trevas. Cassidy é Rainha de Dena Nehele, com um contrato de apenas um ano de experiência. Este povo muito fragilizado e maltratado está tão sedento de uma boa Rainha como a própria terra. Depois de ter recuperado o tesouro de Lia, a antiga Rainha de Jóia Cinzenta do território, Cassidy conquistou a simpatia e a confiança da sua corte e dos habitantes da sua casa. Esta Rainha de Jóia Rosa está gradualmente a demonstrar a sua capacidade de fazer renascer Dena Nehele, quer junto dos Sangue e dos plebeus da povoação de Grayhaven como também junto dos Sangue influentes do resto do território. Mas nem todos sentem que Cassidy possa fazer a diferença, e existem aqueles que sobreviveram à purificação dos Reinos mas que contêm em si uma semente de perversidade e da deturpação dos Sangue. Essa semente pode encontrar terreno para germinar no coração de uma jovem e insegura Rainha, e destruí-la se esta não for protegida. 



Sou uma fan incondicional de Anne Bishop. O seu mundo das Jóias Negras arrebatou-me de forma inesperada e irregovável desde Filha do Sangue, e estas personagens e o seu negro mundo nunca mais me largaram. Para quem já leu a trilogia das Jóias Negras, é fácil perceber que sou uma apaixonada por este mundo e as suas personagens. Basta atentar no próprio nick que escolhi para me apresentar: SaDiablo. É um nome que traz tanto significado. É o nome da minha personagem favorita desta autora, e é o nome da minha segunda personagem favorita, e também (com uma ligeira variação) da minha terceira personagem favorita. A minha quarta personagem favorita não se chama SaDiablo devido a um acontecimento que é desvendado na trama da trilogia, mas é filho da favorita e irmão da terceira. Confuso? Para os estreantes no mundo fascinante de Anne Bishop, cedo percebem que esta é uma família a ter em consideração, e que aprenderão a amar. Para os já convertidos, desafio-vos a adivinhar as minhas preferências. Mas adiante... (para uma descrição muito precisa do significado que esta autora tem para mim, convido-vos a ler este post da Carla Ribeiro, leitora convidada da Célia no Estante de Livros). É sem dúvida uma das minhas autoras favoritas (só perde para Juliet Marillier) e aguardava com expectativa este A Senhora de Shalador.



Apesar da minha devoção a esta autora, foi a muito contragosto que me tive de admitir não ter gostado tanto de alguns dos últimos livros publicados. Em Jóia Perdida achei que muito do potencial da história ficou por terra, e nem o protagonismo da fantástica Surreal e do rebenta-paredes Lucivar, ambos sempre deliciosos, conseguiu trazer o livro ao nível que Bishop nos tinha vindo a habituar. Com Sebastian e Belladona, Bishop apresenta-nos todo um novo universo, Efémera. E apesar de serem livros que gostei imenso e me terem agarrado do início ao fim, não me arrebataram como as Jóias Negras (que estão por si só num patamar muito elevado de comparação). O Anel Oculto apresenta-nos acontecimentos fora da série temporal dos anteriores das Jóias Negras, e apesar de ser um excelente livro, não evitei sentir saudades das personagens que tanto adoro. É no seguimento deste que surge Aliança das Trevas, com novas personagens principais, mas um protagonismo partilhado com o clã SaDiablo e companhia, e devo dizer que isso fez toda a diferença.



E assim chegamos a este A Senhora de Shalador, continuação directa do anterior. O melhor elogio que posso fazer a este livro é que me fez regressar ao mundo das Jóias Negras de uma forma tão arrebatadora como já não acontecia desde a trilogia e Teias de Sonhos. Uma Anne Bishop da qual já sentia saudades e que tem em mim um efeito de droga. Este livro deixou-me ao mesmo tempo saciada e exultante, com vontade de ter mais; para logo a seguir começar sofrer os terríveis efeitos de abstinência com o esgotar da dose. Li-o em dois dias, com direito a noitadas e olheiras consideráveis no dia seguinte. 

A história desta nova Rainha, da sua corte e do seu povo cativou-me e fez-me ler noite adentro. As novas personagens, densas e tão interessantes como as já conhecidas conquistaram-me. Os Parentes fizeram-me rir e quase chorar. A malvadez e a deturpação dos vilões, e a estupidez e cegueira daquele que não é vilão no coração fizeram-me virar páginas furiosamente para ler mais. E claro... as minhas personagens favoritas agarram-me em todos os capítulos em que surgem. Um balão de oxigénio que eu mal conseguia largar, um pedacinho mais desta droga que me faz rir tanto como faz chorar. Matei algumas das saudades destas pessoas que não existem, e fiquei com muitas mais. Talvez seja impressão minha, mas creio que detectei na escrita sentimentos semelhantes da própria autora, como se cada linha escrita acerca de Jaenelle, Daemon, Lucivar, Saetan, Deamonar, Draca e Karla (Beijinho, Beijinho) fosse um presente auto-imposto. Como se a autora sentisse tanto prazer a escrever sobre este mundo, como nós a ler. E tanto carinho e adoração pelas suas criações como os seus leitores mais fieis.

Acredito mesmo que assim seja, e recomendo sem qualquer reserva este livro a leitores de Anne Bishop, mesmo aqueles que se desligaram um pouco da autora. E recomendo também, e recomendo sempre, àqueles que ainda não conhecem esta autora que não percam tempo. Não é um tipo de leitura para todos os gostos, e há quem recomende apenas a estômagos fortes, mas é sem dúvida um universo arrebatador e apaixonante.


Deixando apenas umas notas finais, positivas e negativas (que este testamento já vai longo). Mais uma vez uma capa muito bonita e apelativa, e uma excelente tradução da Cristina Correia, como tem sido hábito! 
Por outro lado, além do enorme azar que tiveram com a exclusão inadvertida de um capítulo da história, é impossível não reparar no pobre trabalho de revisão que este livro foi alvo. Para aqueles que, como eu, não perdoam uma dose considerável de gralhas, exorto-vos a ignorá-las e prosseguir a leitura, que recompensa os pequenos erros. Não é nada comum no trabalho desta editora, que nos tem proporcionado livros com excelente qualidade gráfica e edições muito boas, por isso esperemos que este livro tenha nos próximos tempos uma nova edição com as devidas correcções.


O melhor: Um excelente regresso ao universo das Jóias Negras.

O pior: Os problemas de nível gráfico que têm assolado esta edição, mas que acabam por não ensombrar a qualidade do livro.



5/5 - Excelente!

9 comentários:

  1. Olá Cat,
    Não vou ler para não correr riscos, é que tenho este menino à espera na prateleira e estou ansiosa para o ler. :)

    Beijinhos*

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  2. Acho que não tenho spoilers, mas fazes bem em não ler, para não te influenciar de forma alguma.
    Eu adorei :)
    Depois quero saber o que achaste.

    **

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  3. Terminei de ler recentemente este livro e devo dizer que partilho quase a 100% com o teu comentário.

    Andava um pouco desligado da escritora, mas este livro fez-me voltar a estar entusiasmado com a mesma e espero em breve comprar o livro Aliança com as Trevas.

    Sabes bem que desejo que algo que mude o rumo deste universo, por exemplo o surgimento de um bom vilão, a morte de umas das personagens prinicipais, e este livro acaba por me dar razão, este universo tem muito por explorar.

    Concordo contigo que a revisão esteve menos bem, alias penso que a editora deve ter um espeical cuidado come sta escritora, pois quanto a mim é uma imagem de marca da Editora, tal como George Martin. (Mereçemos ser compensados com uma visita da escritora a Portugal LOL).

    e por fim mais uma vez sou obrigado a concordar contigo, Juliet Marrilier ainda está um patamar acima, muito por culpa do livro A Joia Perdida.

    Para mim a Bishop esteve ao seu melhor nível com este livro.

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  4. cat,sem querer entrar em polémicas,e muito menos ser do "contra", e não sendo própriamente fã da Anne Bishop e nem deste "género" de romances, há no entanto uma alusão que vi repetida já uma série de vezes e que se reporta ao facto de esta série "não ser para todos os estomagos", que me tem deixado perplexo.

    É que já li livros tão negros, tão viscerais, tão brutais, que estes me parecem delicodoces ( perdoem-me todos os que gostam da série)quando comparados com esses outros autores que li no género fantástico, e dou um exemplo, "dead girls" de Richard Calder que é uma fantasia erótica, mórbida e completamente alucinante/ alucinada e provocadora, que gostava que alguem me explicasse onde começa e termina um estomago, digamos que, "delicado", no que se refere à leitura desta autora e desta série "as joias negras".Pode ser?

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  5. Olá Archeth, é sempre um prazer ^^
    Bom, acho que no fundo tudo é relativo. Eu não acho os livros da Anne Bishop muito chocantes nem fiquei propriamente impressionada com as cenas mais violentas. Fiquei muito mais, por exemplo, nos dois livros do Stieg Larsson que li.
    No entanto, entendo e subscrevo a tal expressão "não ser para todos os estomagos", porque de facto não é! Todos temos diferentes graus de tolerância a estes cenários negros (já para não falar dos gostos), e tenho amigas e conhecidas com as quais partilho 90% dos meus gostos literários, a quem tentei converter à Bishop, e para minha surpresa não passaram do primeiro, por acharem demasiado pesado e negro. Demasiado forte. E da trilogia eu até considero o mais soft :)
    Acho que basicamente é uma questão de contextualizar a obra. Claro que comparativamente a livros de horror ou thrillers policiais estes livros podem ser "para meninos", mas quando os inseres na categoria que considera o público alvo o feminino, talvez saia um pouco do considerado "normal". Para uma pessoa que procura uma obra de fantasia e algum romance, pode ficar chocada com descrições precisas de tortura, violações infantis, escravidão sexual e mutilação genital feminina.
    Apesar de, como mulher, qualquer descrição de violação me incomode (não digo que não tenha o mesmo efeito em homens), eu não posso dizer que estas cenas me tenham chocado ou impressionado.

    Respondendo mais claramente à tua pergunta, acho que o que faz com que os livros de Anne Bishop sejam fortes (para quem os assim considera) é a forte componente sexual e violência associada ao sexo (não necessariamente física).
    Quanto à fronteira entre estômagos fortes e mais delicados, não saberei dar uma resposta minimamente satisfatória. Fico-me pelo tão cliché, mas não obstante, verdadeiro: depende da pessoa, dos seus gostos pessoais e do que já terá lido antes.
    A tua "bagagem literária", por exemplo, é incrivelmente superior à minha! Isso, aliado a gostos pessoais, não me admira minimamente que não sejas fan deste género (que incluirá no mesmo saco Anne Bishop e Jacqueline Carey).

    Lá porque tens um estômago mais forte que o meu não quer dizer que alguém tenha mais delicado que eu :P

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  6. Cat, obrigada pela explicação,a qual respondeu e bem à questão que coloquei.Finalmente, ufa!!
    Por outro lado levantaste outra questão que é a de existir uma literatura marcadamente feminina ou de "sensibilidade" mais feminina, na qual inseres a Anne Bishop, e sim essa daria para muita conversa.
    Quanto a ter mais bagagem literária do que tu, eu não tenho essa visão.Digamos que temos percursos, como leitores, diferentes, que se entrecuzam em determinados pontos.Mas isso não me faz ter mais bagagem,apenas me proporcionou outras leituras, nada mais, nem melhores nem piores que as tuas..).)

    E o meu estomago só se torna fraco com a má literatura, e não com a "mais chocante".

    Já agora, como adivinhaste que a Bishop e a Carey, estão para mim, no mesmo patamar?...).)

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  7. Fico contente por te ter esclarecido de alguma forma :)
    Quanto à questão da literatura supostamente "feminina", tens razão, isso daria pano para mangas. Mas acho que não podemos ter muitas ilusões. Apesar de conhecer vários homens que lêem e gostam de autoras como Anne Bishop, Jacqueline Carey, Juliet Marillier ou Marion Zimmer Bradley, é impossível dissociar a clara tendência para o público feminino (mas também há mulheres que as abominam!). Devem ter um conjunto de características que apelam à sensibilidade feminina, não sei.

    Bom, posso dizer que a maioria dos fans de Bishop gosta também bastante de Carey, e vice versa. Eu incluo-me nesse grupo :P
    São autoras que para muita gentes estão no mesmo patamar: para uns esse é alto, para outros é baixo.

    Além disso tenho um dedinho que adivinha estas coisas ^^

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  8. ..tambem quero um dedinho desses^^.
    Vou tentar arranjar no mercado um,nem sabia que já eram comercializados :):), muito embora não me imagine com um dedo a mais para alêm dos doze que já tenho(não esclareceste se esse dedo indiscreto faz parte da mão ou do pé..), e se não conseguir..posso pedir o teu emprestado?...:):):)

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  9. ola
    so queria comentar gostei da openiao, cat SaDiablo
    apesar de so ter lido a trilogia das joias negras gostei muto da autora
    :b

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