Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

27/02/2013

Estante à Quarta (32)


Cantinho acolhedor de um bibliófilo amante de cinema, café e Virginia Woolf.


24/02/2013

Gone Girl

Autora: Gillian Flynn

Nº Páginas: 560

Primeira edição: Crown, 2011

Sinopse: Marriage can be a real killer.
On a warm summer morning in North Carthage, Missouri, it is Nick and Amy Dunne’s fifth wedding anniversary. Presents are being wrapped and reservations are being made when Nick’s clever and beautiful wife disappears from their rented McMansion on the Mississippi River. Husband-of-the-Year Nick isn’t doing himself any favors with cringe-worthy daydreams about the slope and shape of his wife’s head, but passages from Amy's diary reveal the alpha-girl perfectionist could have put anyone dangerously on edge. Under mounting pressure from the police and the media—as well as Amy’s fiercely doting parents—the town golden boy parades an endless series of lies, deceits, and inappropriate behavior. Nick is oddly evasive, and he’s definitely bitter—but is he really a killer?

As the cops close in, every couple in town is soon wondering how well they know the one that they love. With his twin sister, Margo, at his side, Nick stands by his innocence. Trouble is, if Nick didn’t do it, where is that beautiful wife? And what was in that silvery gift box hidden in the back of her bedroom closet?

With her razor-sharp writing and trademark psychological insight, Gillian Flynn delivers a fast-paced, devilishly dark, and ingeniously plotted thriller that confirms her status as one of the hottest writers around.


Opinião: Este livro chamou-me à atenção pela primeira vez no Goodreads pelas classificações positivas, tendo inclusive sido o livro com mais votações na categoria de Thriller/Mistery nos Prémios Goodreads de 2012, e acompanhei os updates da leitura da Célia, que foram (para variar) o empurrão decisivo para começar a ler. 
A premissa pareceu-me interessante, e prometedora: no aniversário de casamento de Amy e Nick, a mulher desaparece e o marido torna-se imediatamente o foco dos olhares do público e da polícia. Tratei de me manter completamente às escuras em relação à história até finalmente começar a ler. Este início tão clássico em histórias de mistério não foi propriamente o que me atraiu, mas sim a sensação que esta história teria necessariamente de ser mais do que isto. 

E não me desiludi. O livro está escrito numa estrutura que nunca muda ao longo de toda a história: capítulos intercalando o ponto de vista dos dois protagonistas, Nick e Amy. Os capítulos de Nick relatam os desenvolvimentos no momento presente, desde o desaparecimento de Amy, que por sua vez nos surge na história na forma de relatos de um diário. A maneira fabulosa como a autora começou por apresentar a dinâmica deste casal cativou-me imediatamente. Conhecemos as suas vidas do ponto de vista de ambos, alternadamente, cada capítulo passado num ponto temporal diferente, mas evocando a história do casal, por memórias no caso de Nick, por descrições do diário, no caso de Amy. Vemos, por exemplo, como um qualquer acontecimento das suas vidas teve uma percepção diferente da parte da cada um deles. 

Sem querer revelar demasiado da história, porque acho que aqui o factor surpresa é determinante, queria apenas elogiar a capacidade da autora de me enganar e surpreender por diversas vezes. Comecei o livro pensando que a história era sobre algo, chegando a meio senti que afinal o livro era em tudo diferente do que pensava, e ainda assim consegui ficar embasbacada de surpresa e ultraje antes do final da história. 

Apesar da estrutura de capítulos de pontos de vista diferentes - por vezes bastante curtos e sempre com um acontecimento ou revelação determinantes em foco - fazer deste livro um verdadeiro page-turner, para mim o ponto forte do livro é sem dúvida as personagens, muito bem construídas psicologicamente. A autora faz um retrato impressionante da normalidade (e anormalidade) das relações, das aparências e de como factores como desemprego e pressões familiares e sociais podem interferir nas mesmas. Fez-me reflectir também sobre como a forma como somos educados afecta a nossa personalidade e as pessoas em que nos tornamos quando crescemos, e principalmente como nos relacionamos com os outros. Deixou-me também a pensar sobre uma série de coisas sobre a natureza humana, mas sobre isso não vou falar, só lendo saberão ao que me refiro.

Não digo que este Gone Girl seja o livro do ano, mas foi sem dúvida uma leitura surpreendente e que me deu imenso gozo. Recomendo vivamente e fiquei com vontade de ler mais coisas da autora.


O melhor: A caracterização das personagens e os (vários) momentos "wtf?!"

O pior: Achei que o crescimento da narrativa merecia um final mais gritante, mas foi surpreendente à sua maneira.


4/5 - Gostei bastante.

13/02/2013

Estante à Quarta (31)


12/02/2013

O vício das sagas

Sagas... Amamo-las e odiamo-las.
Quando vi no vídeo piloto do Só Ler Não Basta a Telma a dizer algo do género "tenho sagas para a vida toda", a minha primeira reacção foi a vontade de rir pelo tom com que o disse, e por me identificar tanto com essa declaração. Depois fiquei séria. Tenho mesmo séries para a vida toda? Há relativamente pouco tempo comecei a marcar no Goodreads os livros com a estante "series", onde já tenho cerca de 200, sem nunca ter chegado a fazer triagem de todos os livros que poderia adicionar a essa saga. Resolvi ir ver quantas sagas tenho nas minhas estantes e descobrir se estou afogada em sagas.

Já sabia que deviam ser bastantes. Como qualquer fã de fantasia saberá mais que bem, este é um género literário muito dado a histórias de arco prolongado. Quer seja uma sequência de livros dependentes do anterior ou com arcos independentes a cada volume, arriscaria dizer que para estes autores, as suas histórias combinam com o formato de saga como pão quente combina com manteiga.

Tal como muitos bibliófilos, no meio de tantas sagas de fantasia, já por várias vezes dei por mim a desejar ler somente um stand-alone, para variar. Cansada de histórias longas, de livros sem final, de ter sempre que comprar o próximo volume, de ter de esperar (e às vezes desesperar) para poder comprar o próximo volume, finalmente começar a leitura e com desalento constatar que detalhes essenciais para a compreensão deste recente volume se perderam algures na memória desde a leitura do anterior... Outro factor negativo: o aumento exponencial da pilha de livros para ler que representam as sagas: basta ler um, para adicionar três, ou quatro, dez! (ou mais) à lista de desejos. De tudo isto é feito o grito de guerra "estou farto de sagas!" que ocasionalmente se ouve nas redondezas de um bibliófilo, e constitui a razão pela qual as odiamos.

Mas o bibliófilo é feito de contradição, e ficar desesperado por ler o livro seguinte não significa que o livro em mãos não tenha sido viciante. De alguma forma ainda torna o vício pior. Personagens deixadas em suspenso no último capítulo, arcos complexos e densos que necessitam de centenas de páginas para serem explorados, aventuras independentes a cada novo livro. E principalmente, a maravilhosa sensação de termos mais um livro através do qual poderemos acompanhar aquelas personagens queridas e aquela história apaixonante. Mais outro, e outro, e outro. Querer que a história nunca acabe, desejar conseguir prolongar a leitura mas ao mesmo tempo saber que podemos acabar o livro, porque a continuação está à espera na estante. E é por tudo isto que amamos sagas.

Entre sagas lidas e terminadas, incompletas e que quero iniciar (com base no Goodreads que por sua vez está sujeito a falhas de memória da minha parte), efectuei o meu inventário de séries. Se livros fossem considerados bens monetários, era este o momento em que contratava um contabilista. 

Considerei "saga" um conjunto de livros que, quer tenham uma sequência de leitura obrigatória ou não, estão de alguma forma ligados cronologicamente pelos autores. Isso inclui livros prequelas, sequelas e complementos cronologicamente sequenciais, cuja compreensão total da história pressupõe a leitura dos livros anteriores. 
Em nome da minha saúde mental e do tamanho deste post, não incluí short-stories, novelas, contos ou pequenas histórias que frequentemente são publicadas no mesmo universo das sagas, antes, depois ou entre volumes; apenas volumes "a sério"! Pela mesma razão, mas ainda mais importante nos resultados, incluí "sagas que quero mesmo ler, mas não sei quando" (como a série Dark Tower de Stephen King, 7 livros), mas deixei de fora as que "gostava, eventualmente, de ler, mas não sei quando" (como a saga Malazan Book of the Fallen de Steven Erikson, 10 livros) . Percebem a diferença, certo? É tudo uma questão de prioridades e realismo. Igualmente, considerei sagas lidas aquelas em que já li todos os volumes publicados, mesmo que o autor ainda não tenha terminado a série, e seja tecnicamente uma saga a ser lida. Comecei por enumerar e contabilizar as sagas lidas, a ler e ainda por iniciar. De seguida veio a contabilização do número de livros em cada uma das sagas, e do número de páginas de cada livro. Recorrendo a ferramentas básicas e dotes rudimentares, compilei os resultados, e os números finais revelaram-se impressionantes.

Detalhes técnicos finalizados, e com a ressalva de podem surgir alguns erros algures, eis a minha contabilidade de sagas.







       




A minha primeira reacção foi: fiz mal as contas. Como será possível 61 sagas, 246 livros, mais de 100 mil páginas?

Mas não, está correcto. O Excel e o Goodreads não enganam, e qualquer erro pecará por defeito. 

Estes números totais, sendo impressionantes, não são completamente assustadores, se vistos como um todo, certo? Afinal, é uma massa de livros que já li e quero ler, e pilhas de livros para ler e estantes cheias de livros temos todos, certo?

Então comecei a fazer a contabilidade, não apenas como um todo, mas por categorias, e fiquei ainda mais impressionada! Tenho muito mais sagas por ler do que as que já terminei! Este resultado surpreendeu-me imenso. Tinha a sensação que, com todos os livros que li, e com a minha fixação por sagas, já tinha terminado mais do que 13 sagas. O resultado foi desanimador, especialmente comparando a pequena pilha de livros Lidas com as irmãs mais crescidas, A ler e Quero ler.

Provavelmente o meu sentimento enganador de que já li muito mais sagas do que o que realmente li vem do facto de ter imensas ainda em leitura. Uma assustadora quantidade de 28 (!!!) sagas que estou actualmente a ler. Quer tencione continuá-las num futuro próximo ou não, a verdade é que as comecei (sagas que iniciei e não tenciono, de todo, continuar não foram contabilizadas). Quanto às sagas que ainda nem comecei e que quero ler, bastou verificar que o seu número é quase o dobro das que já li até hoje, para me assustar. Como assim só li 13 e quero ler 20? Se em 26 anos de vida só li 13, quanto tenho de viver para ler todas?

Esta linha de raciocínio levou-me à analise seguinte: Tempo. Quanto tempo levarei a ler todas as minhas sagas? Fiz os cálculos em função de duas velocidades de leitura: o meu ritmo de 2012 - 32 livros por ano - e o que pretendo que seja o meu ritmo em 2013 - 40 livros por ano. Seguindo estes valores,  as séries que já iniciei representam uns meros 3 a 4 anos de leitura futura, e mais 2 a 2,5 anos constituem aquelas sagas que ainda nem sequer comecei.

Assumindo que deste momento em diante apenas lerei sagas, que não adiciono mais nenhuma saga à lista, e adoptando o ritmo de leitura mais realista (2012), demorarei seis anos e meio a ler todas as sagas que já iniciei e quero iniciar. Se a este tempo juntar as sagas que já li (assumindo também o ritmo de 2012 para as sagas lidas), terei passado 8 anos e meio da minha vida a ler sagas.

Voltando ao início deste post... Sim, acho que definitivamente estou afogada em sagas. 
Vemo-nos em 2018.


06/02/2013

Selos e blogs

Nos últimos dias vários prémios/selos foram espalhados pela blogosfera literária portuguesa. A mim calharam-me uns quantos, e queria agradecer à Cláudia, à Nádia, ao José, à Leitora Compulsiva e à Maria pelo Liebster Award (para dar a conhecer blogs com menos de 200 seguidores) e à Cristiana e novamente ao José pelo selo 2013 Literário (com o objectivo de incentivar à leitura). 
Apesar de muito agradecida, sou muito preguiçosa nestas coisas, e sei que me vão perdoar, mas vou passar a retribuição dos selos. Alguns blogs nem conhecia e foram agradáveis surpresas. Obrigada mais uma vez :)



Bibliofilia pelo Mundo (V) - Little Free Library



Esta adorável mini biblioteca parece ser apenas uma estante fora do normal, mas é muito mais especial. Esta caixa de livros é apenas uma de milhares espalhadas pelo mundo inteiro, sendo exactamente o que o nome indica: uma pequena biblioteca gratuita (Little Free Library). Qualquer leitor pode chegar, abrir a portinhola da estante e escolher um livro. No fim da leitura, pode devolvê-lo, passá-lo a outra pessoa ou mesmo ficar com ele para si. Da mesma forma, qualquer pessoa pode doar um livro simplesmente deixando-o na estante. O importante é o livro ser lido, circular e fazer a diferença para alguém. 





Quem o diz são os fundadores desta organização norte-americana, Little Free Library, dedicada a construir pelo mundo fora pequenas bibliotecas acessíveis a qualquer pessoa. 
Esta iniciativa começou em 2009 como um programa de uma organização não governamental sediada no Wisconsin e conta hoje com inúmeros parceiros, colaboradores e voluntários, responsáveis pela construção de milhares de bibliotecas que espalham a bibliofilia além das fronteiras do estado e do país. 


O objectivo principal é promover a literacia e o gosto pela leitura, através do livre acesso a livros, mas também contribuir para estabelecer espírito de comunidade e aprendizagem de artes de construção (carpintaria). Hoje em dia a Little Free Library pode deslocar-se a uma comunidade e construir e rechear uma pequena biblioteca; e qualquer comunidade no mundo pode por sua vez associar-se a este projecto construindo a sua própria estante com a colaboração da associação. No quintal da sua casa, no jardim da comunidade, na entrada da escola ou da empresa, qualquer sítio em que haja autorização para tal pode ser o local de uma pequena biblioteca gratuita.  Há também a possibilidade de efectuar doações a esta associação, uma outra forma de contribuir.
E quanto à questão que decerto vos está já a ocupar a mente "E se os livros forem roubados?", devo dizer que conta na lista de perguntas mais frequentes do site, e adorei a resposta: Ninguém pode roubar um livro que é gratuito. E se alguém o roubar, pode ser que acabe por o ler, e esse é o objectivo final do projecto. 

Aqui está um mapa com a localização de todas as Little Free Libraries distribuídas pelo planeta, vejam se haverá alguma perto de vocês! Naturalmente, a maioria das bibliotecas localizam-se nos Estados Unidos, mas já se espalham pela Europa e há também alguns projectos para crianças em África e na Ásia. 
Os designs são os mais variados, dos mais simples aos mais elaborados, mas todos cumprem o mesmo propósito, partilhar livros.





(Todas as fotos  retiradas daqui.)

As bibliotecas são para sempre

A propósito de e-books e a sua coexistência com o livro impresso na minha vida, de que falei neste post, deixo aqui este infográfico muito interessante - Libraries are Forever - E-Books and Printed Books can Coexist. Visto no blog Ler Ebooks, que já agora recomendo vivamente a quem quer estar informado acerca das novidades e tendências tecnológicas dos e-books e e-readers, ou simplesmente a curiosos.
Vale a pena ver todo o gráfico com atenção, mas chamo a atenção para alguns pontos em particular, como a conclusão que os leitores de e-books leram mais livros em 2012 do que leitores "físicos", dos quais alguns foram em formato impresso e outros em e-book. Igualmente, os leitores digitais estão a qualquer momento a ler livros em ambos os formatos, e a situação em que se encontram influencia qual o formato elegido nesse momento. A maioria de nenhuma faixa etária considerada afirmou estar preparada para abandonar livros impressos em função dos digitais. Achei curioso que, ao contrário da minha experiência pessoal, tenham concluido que a leitura no kindle é mais lenta. 

No final, a única e verdadeira conclusão a retirar na comparação de e-books e livros impressos: Seja qual for o formato, não há nada melhor do que um bom livro, e não podia concordar mais. 





03/02/2013

Bibliofilia #5


Bibliofilia é
(Visto originalmente aqui.)

01/02/2013

A Series of Unfortunate Events #1-3

Autor: Lemony Snickets (Pseudónimo de Daniel Handler)
Série: A Series of Unfortunate Events
Editora: Harper Collins
Edição: Áudio-book 
Publicação original: 1999-2000

 The Bad Beginning (#1)

Sinopse: I'm sorry to say that the book you are holding in your hands is extremely unpleasant. It tells an unhappy tale about three very unlucky children. Even though they are charming and clever, the Baudelaire siblings lead lives filled with misery and woe. From the very first page of this book when the children are at the beach and receive terrible news, continuing on through the entire story, disaster lurks at their heels. One might say they are magnets for misfortune. 


In this short book alone, the three youngsters encounter a greedy and repulsive villain, itchy clothing, a disastrous fire, a plot to steal their fortune, and cold porridge for breakfast.

It is my sad duty to write down these unpleasant tales, but there is nothing stopping you from putting this book down at once and reading something happy, if you prefer that sort of thing. 

With all due respect, 

Lemony Snicket

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The Reptile Room (#2) 

Sinopse: After narrowly escaping the menacing clutches of the dastardly Count Olaf, the three Baudelaire orphans are taken in by a kindly herpetologist with whom they live happily for an all-too-brief time.

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The Wide Room (#3)

Sinopse: If you have not read anything about the Baudelaire orphans, then before you read even one more sentence, you should know this: Violet, Klaus, and Sunny are kindhearted and quick-witted, but their lives, I am sorry to say, are filled with bad luck and misery. All of the stories about these three children are unhappy and wretched, and this one may be the worst of them all.If you haven't got the stomach for a story that includes a hurricane, a signalling device, hungry leeches, cold cucumber soup, a horrible villain, and a doll named Pretty Penny, then this book will probably fill you with despair.I will continue to record these tragic tales, for that is what I do. You, however, should decide for yourself whether you can possibly endure this miserable story.


With all due respect,

Lemony Snicket


Opinião: Esta longa série é constituída por 13 curtos livros, cada um dos quais contando as trágicas desventuras dos órfãos Baudelaire. Por serem livros bastante curtos e episódicos, decidi agregar a opinião dos três primeiros, e fazer o mesmo com os restantes volumes à medida que avançar na saga. 

Travei conhecimento com esta saga através do filme de 2004, que adapta os 3 primeiros livros da saga, Lemony Snicket's A Series of Unfortunate Events, com Jim Carey no papel do vilão Count Olaf e Jude Law como Lemony Snickets, o narrador da história. Na altura gostei bastante, quer das personagens e do enredo catastrófico, quer do ar gótico-depressivo da história, salpicada com laivos de humor. Já conhecendo a história dos três primeiros volumes, esses elementos continuam a ser os que mais me cativam nestes livros infanto-juvenis. 

Em cada livro, começamos por entrar na história pela voz do narrador, Lemony Snicket, que avisa imediatamente o leitor de que está na posse de um livro cheio de desgraças, sofrimento e desespero. O próprio autor é uma personagem (Lemony Snicket é o pseudónimo de Daniel Handler) que conta a história dos órfãos Baudelaire - Violet, Klaus e a bebé Sunny - após a perda dos pais num grande incêndio na sua casa. Lamentavelmente, os órfãos não têm familiares próximos, e a responsabilidade em encontrar um guardião para  as crianças está a cargo do gestor da fortuna dos Baudelaire, o bancário Mr. Poe. 

Todos os irmãos são especiais, inteligentes e brilhantes à sua maneira. Violet é a irmã mais velha, uma inventora, adora mecânica e afins. Quando ata o cabelo num rabo de cavalo sabemos que está a concentrar-se para inventar alguma coisa. Klaus, o prodígio das palavras, memoriza tudo o que lê, e não é pouco, e pode-se sempre contar com ele para definir o significado de uma palavra difícil. Sunny, a bebé adorável, exprime-se por monossílabos de linguagem de bebé que só os irmãos entendem. Adora morder coisas, e os seus dentes afiados são a sua arma não secreta. Bibliotecas são as coisas favoritas dos Baudelaire.

No primeiro livro, The Bad Beginning, a sua primeira escolha revela-se desastrosa, sendo os órfãos entregues à guarda do maléfico Count Olaf, cujo único objectivo é deitar as mãos à fortuna dos órfãos, sem ter qualquer problema em maltratar as crianças e cometer outros crimes horríveis. Desse ponto em diante, os órfãos Baudelaire vêem-se perseguidos por esquemas mirabolantes, personalidades inventadas por Count Olaf para enganar o tuberculoso Mr. Poe de forma a ganhar mais uma vez a custódia (e o acesso à fortuna) dos Baudelaire. No segundo, The Reptile Room, os  órfãos são postos ao cuidado do excêntrico Uncle Monty, que possui uma sala repleta de répteis do mundo inteiro, uma biblioteca sobre répteis e que pretende levar os irmãos numa excitante excursão ao Peru. No terceiro livro, The Wide Window, Violet, Klaus e Sunny são deixados ao cuidado de uma tia distante. Aunt Josephine, uma viúva que vive numa casa sobre o lago Lacrymose, que tem medo de tudo (especialmente do lago), menos de gramática, e possui uma extensa biblioteca constituída unicamente por livros de gramática inglesa.

Adoro o tom destes livros, a maneira como a narração decorre, intercalando a angústia dos órfãos com saídas de humor negro por vezes hilariantes. Os três irmãos são personagens adoráveis com as quais é muito fácil criar empatia. Acho especialmente piada às inúmeras referências literárias e trocadilhos ao longo dos três livros, começando com os nomes das várias personagens e locais. 
Segundo li, estes livros foram criticados em diversos contextos, pelo conteúdo catastrófico e pelas diversas coisas que acontecem às personagens, especialmente tratando-se de livros infantis. Os livros estão classificados para maiores de 9/10 anos, e creio que se trata de uma classificação adequada. As crianças por vezes têm uma maior capacidade de entender histórias "pesadas" do que o que lhes damos crédito.

Quanto ao audiobook em si, estou a adorar a narração. Os 1º e 2º livros são narrados pelo actor Tim Curry, com a excepção da introdução por Lemony Snicket, narrada pelo próprio autor. No entanto, o livro 3 é narrado na íntegra pelo autor, e apesar da mudança de me ter feito alguma confusão no início, rapidamente me habituei, e gosto das duas vozes. Enquanto que a edição em papel destes livros inclui ilustrações que obviamente se perdem na versão áudio, o audio-book tem interlúdios musicais no início e final de cada livro.

Como já referi, oiço audiobooks quando vou pela rua a caminhar ou ando por casa a fazer tarefas (cozinhar, passar a ferro, arrumar  e limpar a casa, etc. Gosto especialmente de ouvir livros quando estou a fazer bolos, não me perguntem porquê), actividades essas que podem ser mais ou menos regulares, e requerer mais ou menos concentração e multitasking da minha parte. Por essa razão, nem todos os livros são os mais adequados, para mim, para o formato de audiobooks. Estes Series of Unfortunate Events pertencem ao perfeito tipo de livro para eu ouvir em audiobook: curto, fácil de retomar o fio à meada mesmo passados vários dias desde a última paragem, história leve com narrador espirituoso e volumes episódicos mais ou menos independentes. É uma excelente maneira de aproveitar tempo em que não posso estar a ler. 

Estes livros são uma boa leitura para quem procura algo leve e divertido. Classifiquei os três volumes da mesma forma e considero que são bastante semelhantes em termos de conceito e narrativa. Estou curiosa para ver se se tornam demasiado repetitivos até ao 13 volume. 

O melhor: As personagens e o humor negro.

O pior: A narrativa dos 3 livros é quase igual.

4/5 - Gostei bastante