Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

28/04/2011

Booking Through Thursday — Em breve, num cinema perto de si


Se pudesses ver um livro transformado no filme perfeito - um que iria captar no ecrã tudo aquilo que tu adoras, os personagens, o estilo, o sentimento, a estória - que livro escolherias?

Bom, antes de mais, vou considerar uma trilogia como um livro, para este efeito. Adoraria ver na tela a trilogia Sevenwaters, da Juliet Marillier, mas teria de ser como sugere o desafio: perfeito e capaz de captar tudo! 
Mais difícil ainda de adaptar seria outra trilogia, a das Jóias Negras, de Anne Bishop, quase impossível, diria.
Também gostava de ver uma adaptação de Os Leões de Al-Rassan, de Guy Gavriel Kay ou d'A Rapariga que Roubava Livros.
Não sei se já foi feita alguma adaptação do Diário de Anne Frank... Também gostaria de ver. 

1808


1808, Laurentino Gomes

Nº de páginas: 392
Editora: (Livros D'Hoje (Publicações Dom Quixote 2008)

Sinopse: Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu. 


Em tempo de guerra, reis e rainhas tinham sido destronados ou obrigados a refugiar-se em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe, a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colónias imensas em diversos continentes, até àquele momento nenhum rei tinha posto os pés nos seus territórios ultramarinos para uma simples visita - muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos da sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colónia de Portugal. 


D. João VI foi o único soberano europeu a visitar terras americanas em mais de quatro séculos e foi quem transformou uma colónia num país independente. 

No entanto, o seu reinado no Brasil padece de um relativo esquecimento que, quando lembrado, é tratado de forma caricata. 

Mas o Brasil de D. João VI não se resume a episódios engraçados. A fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleónicas, revoluções republicanas e escravidão formaram o cenário no qual se deu a mudança da corte portuguesa e a sua instalação no Brasil. 

O propósito deste livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver os seus protagonistas à dimensão mais correcta possível dos papéis que desempenharam há duzentos anos. 

Como se verá, estes personagens podem ser, inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se poderia dizer de todos os governantes que os seguiram, incluindo alguns actuais.



Opinião: Li este livro por insistência do meu pai, professor de História. Confesso que pensei que era um retrato da fuga da família real portuguesa para o Brasil, escrito em forma de romance histórico, e não o documento histórico que é. Este livro, conforme o próprio autor explica logo na sinopse, é fruto de uma investigação exaustiva e longa acerca deste período da História do reino. É um relato preciso, completo e detalhado da realidade política e social de Portugal nas vésperas na Invasão Francesa, das suas relações com Inglaterra e o resto da Europa, do estado do Império e finalmente, das consequências da partida de Portugal e estabelecimento da corte portuguesa no Brasil.

Todos nós aprendemos esta matéria na escola. Mas a verdade é que os livros de História não nos ensinam muito mais além da fuga precipitada da corte, acerca da fragilidade mental da Rainha D. Maria e a timidez do seu filho, o príncipe regente D. João VI. Sabemos que a aliança foi Inglaterra foi determinante nesta empreitada, e que esta fase da nossa História culminou com a independência do Brasil, pela mão de D. Pedro I (do Brasil, IV de Portugal).

Este livro oferece-nos uma descrição detalhada e fundamentada dos acontecimentos e da situação da época, muitas vezes pela própria “voz” de personalidades cuja correspondência constitui hoje documentação valiosa. Faz-nos realmente compreender o contexto em que esta insólita partida para a colónia teve lugar e os seus efeitos políticos, sociais e comerciais que desencadeou não só no Brasil, como em Portugal e na Europa.

O mais fabuloso neste livro é a maneira como conta História de forma precisa, sem se tornar em momento algum aborrecido. A escrita do autor é divertida e ritmada, incentivando o leitor a ler mais e a relacionar informação. Ao mesmo tempo, achei muito bem conseguida a estruturação da obra.

Em suma, é um excelente livro de História, muito bem escrito, e permite-nos aprender mais sobre esta fase da nossa História.

O melhor: O grande nível de detalhe e precisão dos dados; e a escrita cativante

O pior: Sinceramente acho que não tenho nada a apontar.


4/5 – Gostei bastante

21/04/2011

Booking Through Thursday — Capa

Con­se­gues jul­gar um livro pela capa?



A sério, alguém consegue? Todos o fazemos, claro, mas esse julgamento é obviamente sujeito a falha.

Muitas vezes numa livraria é a capa que nos prende os olhos e nos faz pegar num livro. Se o compro apenas pela capa? Não. Acho que a única vez que o fiz, o livro custava 2€, ou seja, fosse qual fosse a qualidade do conteúdo, o estrago não seria grande.

É sempre bom quando os livros que gostamos têm capas bonitas, que nos regalam os olhos ainda fechados. Mas a verdade é que há por aí tanto livro bom com capa horrível, e vice versa. Mas considero mais incómoda a moda de elaborar capas bastante semelhantes a outras de livros populares do mesmo género. Parece que de repente as livrarias estão cheias de livros iguais.

É verdade que os olhos também comem, mas digam-me, escolhem uma guloseima pela embalagem? :)

20/04/2011

Estante à Quarta (7)

You got to love built-in sheves...


14/04/2011

Booking Through Thursday — Personalidade

Relacionado com a pergunta da semana passada –

Estava no outro dia a ler uma citação de JFK Jr, que disse que na morte da sua mãe, ela estava rodeada pela família, amigos e pelos seus livros. Aparentemente, os livros de Jackie eram em muito uma parte dela, da sua personalidade, do seu ser. Até há pouco tempo, uma pessoa podia observar a tua estante e ficar a saber muito acerca de ti – quais são os os teus interesses, a tua faixa de temas, autores favoritos, quanto lês (ou pelo menos quantos livros compras).
No entanto isto está a mudar cada vez mais. As pessoas já não estão a comprar tantos livros como os que requisitam nas bibliotecas. Ou lendo-os nos seus leitores de e-books ou computadores. Não há nada físico nas estantes que diga aos estranhos em tua casa, para o melhor ou para o pior, quem tu és.
Achas que é uma coisa boa? Má? Discutam!

Sinceramente acho que, pelo menos à minha volta esta questão ainda não se coloca de forma tão evidente como descrita (acho muito mais flagrante, por exemplo, o caso das fotos digitais, que muitas vezes ficam no pc ou numa pen, nunca chegando a conhecer uma moldura. Se entrarem em minha casa podem pensar que sou uma pessoa solitária e sem família, porque não há um único retrato exposto). É verdade que muito mais gente tem começado a aumentar os empréstimos de bibliotecas em detrimento da compra de alguns livros. É também verdade que muita gente tem adquirido recentemente e-book readers, mas também acho que os livros que se tornam especiais e nos marcam, acabam por encontrar sempre um caminho para a nossa estante. Muitos dos livros que mais me marcaram foram lidos emprestados de amigas, e acabei por os ir adquirindo. Alguns demoraram 10 anos a chegar à minha estante, outros ainda hão-de cá vir parar no futuro.  
Além disso, existem cada vez mais plataformas virtuais dedicadas à leitura, e podemos ver a estante de uma pessoa sem entrar em sua casa. E essa estante contém não apenas os livros que possui mas todos os que leu e não tem, e os que tem e não leu. Os blogs são um bom exemplo disso mesmo, e particularmente no mundo virtual da internet, em que não conhecemos a maioria das pessoas fora dela, julgamos muito uma pessoa pelos seus livros e leituras. É por aí que nos relacionamos e encontramos pontos em comum nos interesses e gostos (daí que não ache nada estranho quando me dizem que o melhor amigo de alguém foi conhecido pela internet, mas isso é discussão para outra altura). Particularmente em relação aos e-books, acho que uma pessoa que investe numa nova tecnologia de leitura tem uma maior probabilidade de usar as novas tecnologias para partilhar as suas leituras e opiniões (seja em blogs ou outras plataformas), não só com as pessoas que visitam a sua casa, mas potencialmente com o mundo. 

13/04/2011

No fim de semana antes da Páscoa é mais barato

Bons eventos de literatura não é coisa tão frequente em Portugal como se desejaria. É verdade que estão a aumentar (em quantidade, pelo menos), e o período destas semanas antes das Feiras do Livro da Apel, em que os leitores por essa altura já se começam a agitar em pulgas, é propício a reuniões em torno de livros e autores.
Se os eventos literários não são abundantes, se filtrarmos os que não têm lugar na região da grande Lisboa, os números reduzem-se drasticamente. 
Não obstante, a gente "livresca" de outras regiões procura cada vez mais organizar e dinamizar encontros literários por este país fora, combatendo este centralismo. Exemplos de sucesso foram os recentes Correntes D'Escritas, na Póvoa do Varzim e o Festival Literário da Madeira.

Precisamente por não serem assim tão frequentes os eventos do género fora de Lisboa é que fiquei positivamente doente quando vi que, no grande Porto, vão decorrer três eventos literários com presença de autores e pessoas ligadas à publicação... no mesmo dia! (ou pelo menos têm todas o dia de sábado em comum).
Marcarei presença no Conversas Imaginárias, que decorre dias 16 e 17 no Clube Literário do Porto. 
No entanto, gostaria imenso de ir também o LeV, Literatura em Viagem, na Biblioteca de Matosinhos, mas devido ao acima referido, só poderei estar presente nos dois últimos dias. 
Apesar de ser algo mais específico e reservado, fiquei também curiosa com o Palavras Para que Vos Quero, o segundo encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Sociedade Portuguesa de Autores, que decorre na Biblioteca Almeida Garret, no Palácio de Cristal, nos dias 15 e 16. 

Com esta desafortunada coincidência, depreendo que o preço de aluguer dos espaços é mais barato no fim de semana que antecede a Páscoa. Ou isso ou há falta de comunicação (ou excesso dela) neste meio. 
Só sei que em vez de fortalecer os eventos com a efluência do público, o efeito é contrário, porque a assistência divide-se entre os vários eventos. É pena. 

O Espectáculo da Vida - A Prova da Evolução

O Espectáculo da Vida - A Prova da Evolução, Richard Dawkins


Título original: The Greatest Show on Earth - The Evidence for Evolution
Tradutor: Isabel Mafra
Nº páginas: 421
Editora: Casa das Letras (2009)

Sinopse: A evolução é um facto que não suscita dúvidas razoáveis, dúvidas sérias, dúvidas inteligentes, informadas e saudáveis. Não há dúvida de que a evolução é um facto. As provas da evolução são pelo menos tão fortes como as do Holocausto, mesmo considerando a existência de testemunhas oculares deste último. É uma verdade inquestionável que somos primos dos chimpanzés, primos mais distantes dos macacos, primos ainda mais afastados dos papa-formigas e manatins, primos ainda mais distantes das bananas e dos nabos… a lista poderia continuar para sempre. Ora isto não tem de ser verdade. Não se trata de uma verdade evidente, tautológica, óbvia e houve tempos em que a maior parte das pessoas, mesmo as instruídas, pensava que não era. Não tem de ser verdade, mas é. Sabemos isso porque uma vaga crescente de provas o confirma. A evolução é um facto e este livro demonstrá-lo-á. Nenhum cientista respeitável o discute e nenhum leitor imparcial concluirá este livro com dúvidas a esse respeito.


Opinião: Estava com bastante vontade de ler um bom livro de divulgação científica, principalmente tendo acompanhado no Fórum Bang! as leituras, dentro desse género, da pessoa que me recomendou este livro (um obrigada ao Magnus Marco), e que me abriram o apetite. Sendo a minha formação e interesses pessoais e profissionais na área da Biologia, esta foi uma escolha natural para iniciante.

A verdade é que provavelmente teria sido mais útil ler um livro fora da minha área de formação, mas confesso que temia que a divulgação científica fosse mais um discorrer de ciência pouco cativante, ao invés de uma forma interessante de conhecer ciência. Quanto a este livro, não podia estar mais enganada.

Dawkins escreve numa linguagem clara e acessível, sem deixar de ser eloquente, precisa e detalhada. A maior surpresa foi precisamente o bom humor que transparece nesta escrita, e a forma cativante como apresenta factos científicos bem como históricos.

O objectivo deste livro é expor de forma clara e inequívoca as provas conhecidas da evolução, de forma a constituir uma base de informação completa e simples disponível aos cidadãos do mundo moderno. Após anos de “luta” contra as teorias criacionistas, o autor sentiu que a influência dos criacionistas é cada vez maior, quer nas escolas (onde se começa a proibir o ensino da evolução!) quer junto do público em geral, numa política de desinformação. Com este livro, Richard Dawkins procura tão simplesmente expor as provas conhecidas, e explicar a razão pela qual constituem provas de que a evolução, qualquer que seja o seu caminho, é inegável.

O que senti na leitura deste livro foi que o programa completo de Biologia do 12º ano que estudei na escola está aqui explicado de forma facilmente assimilável, interessante e até divertida. A diferença é que o currículo de Biologia está acessível apenas aos estudantes dessa disciplina, ao passo que este livro constitui uma fonte de informação disponível a qualquer pessoa. O autor apresenta as referências (como cabe ao cientista), inclui apêndices com informação detalhada de estudos e inclui 12 páginas centrais com fotografias a cores, que refere ao longo do texto. Além destas imagens coloridas de alta qualidade, ao longo do texto surgem frequentemente imagens a preto e branco que elucidam passagens e raciocínios.

Fiquei impressionada com a enorme carga de informação apresentada de forma natural e facilmente compreensível até para o mais leigo dos leitores, muitas vezes recorrendo a metáforas improváveis mas interessantes. A minha favorita (além da que reproduzi no excerto) é a analogia entre as primeiras fases do desenvolvimento embrionário e uma estrutura de origami: a parte de um pedaço de papel único, e sem introduzir mais papel, parte-se se um simples quadrado, passando por várias construções até chegarmos a um complexo barco de bambu. Facilmente se interioriza o conceito, um pouco abstracto e difícil de “visualizar”, da divisão celular que ocorre no verdadeiro início da vida de um embrião. Conceitos específicos e “complicados” são explicados com igual naturalidade com que surgem explicações de fenómenos que conhecemos quase empiricamente, o que demonstra que o autor se dirige ao leitor sem preconceitos, sem distanciamentos intelectuais.

Obviamente eu não pertenço ao público-alvo deste livro, uma vez que tendo já estudado e compreendido os processos evolutivos, a evolução é para mim algo perfeitamente aceite. No entanto esses processos da evolução e os exemplos concretos não deixam de me fascinar, e como tal, este livro cativou-me e aprendi imensas coisas e relembrei outras mais esquecidas. Voltando ao público-alvo, este livro dirige-se ao comum cidadão, por assim dizer, e não à comunidade científica. É acessível a qualquer pessoa que sinta curiosidade pelo tema, e será com certeza uma leitura interessante.

Curiosamente, visitei recentemente a exposição Darwin, presente na Casa Andresen, no Jardim Botânico da Universidade do Porto, e tive oportunidade de observar fisicamente muitos elementos referidos ao longo do livro, o que se revelou um exercício bastante interessante. Aproveito também para recomendar a visita à exposição (decorre até Julho), bastante completa e interessante, além de permitir a visita à magnífica casa onde viveu Sophia de Melo Breyner.

O melhor: A forma clara e precisa, mas acessível, como conhecimento científico é exposto.
O pior: Pessoalmente, muita da informação já fez parte da minha informação, pelo que senti como uma repetição (apreciação pessoal, independente do livro em si).

4/5 – Gostei bastante



Estante à Quarta (6)

There's no such thing as too many books.


10/04/2011

Imagine o leitor...

Árvore Evolutiva de Darwin (1837)


Imagine o leitor que é professor de História de Roma e de Latim, desejoso de transmitir o seu interesse pelo mundo antigo, pelas elegias de Ovídio e as odes de Horácio, pela economia vigorosa da gramática latina patente na oratória de Cícero, as subtilezas estratégicas das Guerras Púnicas, a perícia de Júlio César e os excessos lúbricos dos últimos imperadores. Trata-se de um grande empreendimento que exige vagar, concentração e dedicação. Porém, o leitor está a ser constantemente interrompido e os seus alunos são distraídos por uma turba barulhenta de ignorantes, que, gozando de forte apoio político e especialmente financeiro, não desistem de tentar convencer os desafortunados alunos de que os Romanos nunca existiram, e de que nunca houve um Império Romano. Além disso, o mundo teria surgido há pouquíssimo tempo. As línguas castelhana, italiana, francesa, portuguesa, catalã, occitana e romanche, bem como os dialectos associados, teriam nascido espontânea e independentemente, e nada deveriam a qualquer idioma predecessor como o Latim. Em vez de dedicar toda a sua atenção à nobre vocação de professor e académico classicista, o leitor via-se forçado a perder tempo e energia na defesa aturada da proposição de que os Romanos existiram de facto: uma defesa contra uma manifestação de preconceitos ignorantes que o fariam chorar se não estivesse demasiado ocupado a combatê-los.

O Espectáculo da Vida – A Prova da Evolução, Richard Dawkins, p.15. Tradução de Isabel Mafra. Casa das Letras (2009)

08/04/2011

Marina

Marina, Carlos Ruiz Zafón



Tradução: Maria do Carmo Abreu (+)
Nº de páginas: 260
Editora: Planeta (2010)

Sinopse: «Marina disse-me uma vez que apenas recordamos o que nunca aconteceu. Passaria uma eternidade antes que compreendesse aquelas palavras. Mas mais vale começar pelo princípio, que neste caso é o fim.» «Em Maio de 1980 desapareci do mundo durante uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro.» «Não sabia então que oceano do tempo mais tarde ou mais cedo nos devolve as recordações que nele enterramos. Quinze anos mais tarde, a memória daquele dia voltou até mim. Vi aquele rapaz a vaguear por entre as brumas da estação de Francia e o nome de Marina tornou-se de novo incandescente como uma ferida fresca. «Todos temos um segredo fechado à chave nas águas-furtadas da alma. Este é o meu.» 



Opinião: Li este livro numa noite. Peguei nele a meio do serão e só o larguei quando o terminei, de madrugada. Se não me tivesse prendido imediatamente pela história, que começa como descrito na sinopse, ter-me-ia rendido apenas à escrita de Zafón. Deste autor já tinha lido o cada vez mais célebre A Sombra do Vento, ao qual fiquei rendida. Sabendo que este Marina foi o primeiro romance do autor, creio ter notado alguma diferença na escrita, mais descontraída e divertida (reflectindo também a personalidade do protagonista, Óscar), menos elaborada, se for esse o termo, mas igualmente descritiva de forma belíssima. 

Óscar é um jovem de 15 anos que mora num internato na cidade de Barcelona. A sua rotina passa por aproveitar a janela de tempo entre o fim das aulas e o jantar para explorar Barcelona, e num desses dias acaba por entrar numa casa aparentemente desabitada, atraído por uma música sublime. Uns dias mais tarde, após uma fuga assustada que precipita um furto inadvertido, Óscar conhece a improvável inquilina desta mansão semi-abandonada, onde vive com o seu pai. Marina. 

Não pude obviamente deixar de identificar alguns pontos em comum com a história de A Sombra do Vento. A fórmula é em muito semelhante: Um jovem rapaz perdido nos mistérios de uma intriga em Barcelona, acompanhado de uma bela jovem. 

Esta história está repleta de mistérios e reviravoltas. Adivinhei todas as revelações antes de acontecerem, mas isso não fez com que tivesse gostado deste livro nem um bocadinho menos. Passo a explicar. Numa certa discussão familiar há uns meses, chegou-se à conclusão que todas as grandes obras literárias (ou uma grande maioria daquelas que nos apaixonam) e/ou cinematográficas, retirados todos os contextos e cenários e deixando apenas o núcleo, evocam o enredo tronco das tragédias gregas ou peças Shakespeareanas. Não foi por não ter sido apanhada de surpresa que deixei de me comover com a forma como esta história foi escrita, e o seu enredo apresentado. 

Este livro foi uma delícia do início ao fim, quer pela mistura de elementos históricos e fantásticos, pela graciosidade da linguagem e até, como piscadela de olho ao romance de terror, uma María Shelley no meio de um mistério que surge com estranhos objectos que ganham vida. E mais não digo. Mesmo no fim, acabei por ser surpreendida pelo rumo que os acontecimentos tomaram e pela forma como a história foi terminada… tal como começou. E já mencionei como adoro a escrita deste autor? Terminei este livro com aquele suspiro de quem termina uma aventura, mas que apreciou cada momento. 

O melhor: A escrita de Zafón. 
O pior: Alguns pontos de contacto com a obra que conheço do autor, e mais uma vez fiquei frustrada por não conhecer Barcelona. 

4/5 – Gostei bastante

07/04/2011

Booking Through Thursday — Visível

Colo­cas os livros que tens (sejam quan­tos forem) à vista, para todo o mundo ver (pelo menos o mundo que entra na tua sala)? Ou mantém-​los escon­di­dos no escri­tó­rio, no quarto, na bibli­o­teca ou nou­tro sítio menos “público”?




Tenho a maioria dos meus livros na sala, e alguns na estante embutida na parede do hall de entrada, portanto qualquer pessoa que entra em casa vê logo esse, e as portas de vidro da sala deixam ver a estante. Não é que os tenha nesses sítios por algum motivo especial: os livros do hall de entrada estão lá porque essa estante não é móvel, e tem a profundidade perfeita para os paperbacks em inglês e livros de bolso em português, por isso estão todos juntinhos por lá. A sala é o local mais natural para ter as estantes (não tenho escritório), e sem dúvida que acho que uma parede cheia de estantes será a decoração mais bonita dessa divisão. 
Tenho outra estante pequena no quarto, que além de servir de móvel de aparelhagem, aparador e mais uma infinidade de coisas, tem um dos cubos com livros técnicos e revistas. Escolhi esses para o quarto não apenas por uma questão de organização, mas porque preferi manter os mais bonitos na sala, onde os posso ver eu própria, mais do que mostrá-los. 

Se bem que me apaixono por divisões forradas de livros, obviamente não é essa a razão pela qual os adquiro. 

Lua de Mel

 Lua de Mel, Banana Yoshimoto



Tradução (do italiano): Sandra Escobar (+)
Nº de páginas: 120
Editora: Cavalo de Ferro (2007)



Sinopse: Manaka e Hiroshi conhecem-se desde pequenos. Cresceram juntos, tornaram-se cúmplices, confidentes e casam-se ainda muito jovens. O seu amor foi construído sobre um passado em comum, mas as suas personalidades são muito diferentes. Manaka é serena e vive o seu jardim de forma profunda e meditativa, enquanto Hiroshi continua assombrado por traumas familiares. Hiroshi sofre a perda do avô e o casal decide então partir numa segunda lua-de-mel para a Austrália, uma viagem que lhes vai reservar surpresas, reencontros inesperados e a forte magia dos pequenos nadas. Banana Yoshimoto envolve o leitor no romance de dois jovens cujo amor e inocência vai chocar com as mais torpes manifestações do género humano. 






Opinião: Confesso que comprei este livro apenas por 3 razões, nenhuma relacionada com o conteúdo. Primeiro, pela capa. Ou melhor, pelas capas. Tentei fotografar de forma a mostrar como a edição cuidada deste livro é deliciosa (como tenho reparado que é a maioria das edições da Cavalo de Ferro. Porque nunca reparei nesta editora antes?!). A sobrecapa em forma de “caixa” sobre a capa vermelha faz uma montagem engraçada, o que me chamou à atenção para o livro e para o nome da autora. Nunca tinha lido um autor japonês, mas há muito que queria e isso levou-me a analisar o 3º motivo: o preço. Por 2€ (isso mesmo! Comprei na mesma ocasião d’O Reino de Glome) não hesitei em experimentar. 


Este pequeno livro conta a história de dois jovens, Manaka e Hiroshi, que se conhecem desde que se lembram. Passam juntos pela infância e pela adolescência, e da amizade e convivência vai nascendo um amor inocente e sereno. Observamos o ponto de vista de Manaka (que para os leigos ocidentais esclareço que é a rapariga), cuja personalidade serena é muito diferente do inseguro e traumatizado Hiroshi, que tem dificuldade em compreender. Essa incompreensão e questões que Manaka coloca a si própria passam para o leitor. 

Não me senti muito cativada pelas personagens e a sua relação, mas fui sendo seduzida pela escrita simples, mas fluída e de certa forma espiritual da escritora, que creio ser também devida à sua cultura. A história destas duas personagens é feita de dúvidas e desencontros emocionais, é acerca de enfrentarmos os nossos medos e evoca também a enraizada convicção japonesa de sermos melhores para dessa forma sermos melhores para os outros. 

Apesar de não me ter conquistado completamente, gostei, e vou seguramente ler mais livros da autora. 


O melhor: A escrita e o retrato de parte da cultura japonesa 

O pior: Só ter reparado no fim da leitura no glossário de termos japoneses, que teria gostado de ter visto ao longo da leitura 

3/5 - Gostei

06/04/2011

Estante à Quarta (5)

Alguém falou em aproveitar o espaço?
Que cantinho adorável.

03/04/2011

The Northern Lights

The Northern Lights, Philip Pullman
Editora: BBC Audiobooks (2002)
Narrador: Philip Pullman


Sinopse: In a landmark epic of fantasy and storytelling, Philip Pullman invites readers into a world as convincing and thoroughly realized as Narnia, Earthsea, or Redwall. Here lives an orphaned ward named Lyra Belacqua, whose carefree life among the scholars at Oxford's Jordan College is shattered by the arrival of two powerful visitors. First, her fearsome uncle, Lord Asriel, appears with evidence of mystery and danger in the far North, including photographs of a mysterious celestial phenomenon called Dust and the dim outline of a city suspended in the Aurora Borealis that he suspects is part of an alternate universe. He leaves Lyra in the care of Mrs. Coulter, an enigmatic scholar and explorer who offers to give Lyra the attention her uncle has long refused her. In this multilayered narrative, however, nothing is as it seems. Lyra sets out for the top of the world in search of her kidnapped playmate, Roger, bearing a rare truth-telling instrument, the compass of the title. All around her children are disappearing, victims of so-called "Gobblers", and being used as subjects in terrible experiments that separate humans from their daemons, creatures that reflect each person's inner being. And somehow, both Lord Asriel and Mrs. Coulter are involved.

Opinião: Este foi o primeiro livro que ouvi (não considerando uma colecção Disney que ouvia em criança acompanhada dos livros), e como tal esta opinião do livro é indissociável da minha opinião do audiobook por si só. A verdade é que já tinha lido este livro em 2008, mas nunca li os restantes dois livros da trilogia dos Mundos Paralelos (His Dark Materials, no original). Já andava com vontade de ler o resto da trilogia, mas tendo passado tanto tempo desde a leitura do primeiro, fui adiando. Quando decidi que ia experimentar ouvir audiobooks, decidi também que iria começar por um livro que já tivesse lido, e portanto ao escolher este livro foi uma matança de dois coelhos de uma cajadada só. Não só experimentei um audio-livro, como relembrei o primeiro livro da trilogia. 

Já tinha gostado bastante do livro na minha primeira leitura, há 3 anos. Não o considerei um livro para crianças, apesar da história nos ser contada do ponto de vista de uma. Lyra Belacqua é uma criança activa e irreverente, a crescer no seio da Universidade de Oxford (principalmente os telhados, as caves e outros locais proibidos), numa Inglaterra em muito igual à que conhecemos, mas em tudo o resto bastante diferente.  
Gostei bastante do conceito de "daemon" (creio que traduziram para "génio", em português) e de todo o significado profundo da ligação entre cada humano e o seu. Este livro tem todos os elementos de um verdadeiro livro de fantasia.  Entre o povo do rio (cultura em parte semelhante à cigana), estudiosos e teólogos, instrumentos misteriosos, clãs de bruxas em guerra, aeronautas em balão e fabulosos ursos armados. A intriga desenvolve-se em redor da entidade religiosa Magisterium, os estudos divergentes relacionados com a Poeira (Dust no original), reflexões filosóficas e crianças desaparecidas. Todas as aventuras da pequena Lyra, desde a Inglaterra steampunk à gelada e inóspita região do Norte, nos prendem do início ao fim, bem como os mistérios, as personagens enigmáticas e o terrível destino que se adivinha.

Se já tinha gostado de ler o livro, adorei ouvi-lo. Esta edição da BBC é narrada pelo próprio Philip Pullman, e as vozes das personagens pertencem a um pequeno elenco. Adorei o dinamismo do narrador, que conta a história ao ritmo da verdadeira acção e verbaliza o estado de espírito de Lyra mesmo fora dos diálogos.  Adorei a perfeita interpretação das personagens, que diferem nos sotaques e maneirismos próprios das personagens, e exploram os seus estados de espírito. 
Resumindo, não só fiquei cheia de vontade de continuar a ler a trilogia, como adorei esta experiência com os audiobooks, e continuarei a ouvi-los. É óptimo estar a aproveitar o tempo em que não podemos estar a ler, mas podemos ouvir. 


O melhor: O conceito de Daemon e a narração.
O pior: Algumas personagens surgem repentinamente a apenas com um propósito, perdendo alguma da ligação com a história.

4/5 - Gostei bastante