Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

27/03/2013

Estante à Quarta (39)


Estante improvável. 

(Imagem daqui)

Estante à Quarta (35)


Livros e bebés, corações bibliófilos a derreter.

(Imagem e detalhes do projecto August month-by-month no Making it Lovely, o blog da mãe do August)

22/03/2013

O Último Livro

Autor: Zoran Živković

Título original: Poslednja knjiga

Tradutor: João Cruz (+)

Editora: Cavalo de Ferro, 2011

ISBN: 9896231443

Nº de páginas: 238

Publicação original: Novosti, 2007

Sinopse: Uma série de mortes misteriosas na Livraria Papyrus conduz o inspector Dejan Lukic, aficionado por literatura, a uma investigação. Aqui ele encontra a atraente proprietária, Vera Gavrilovic, e descobre que a única relação existente entre as vítimas é o facto de momentos antes das suas mortes estarem a ler o mesmo livro – O Último Livro.
Com a multiplicação do número de mortes aparentemente sem explicação, envolvem-se no caso a Agência de Segurança Nacional – uma seita secreta e apocalíptica, e um exótico salão de chá; ao mesmo tempo a crescente ligação entre Dejan e Vera é ameaçada por pesadelos e uma eminente sensação de perigo. Estará um louco apaixonado por literatura à solta, assassinando leitores de acordo com o método apresentado em O Nome da Rosa?

Numa corrida contra o tempo, o inspector Lukic precisa de descobrir o segredo do Último Livro e também porque sente que já leu algures tudo o que lhe está a acontecer. O desenlace extraordinário revela verdades escondidas sobre o choque de diferentes realidades, e o incrível poder da imaginação.

Opinião: Gosto de livros sobre livros. Quando vejo um livro cuja história inclui livros, bibliotecas ou livrarias, sinto-me imediatamente curiosa. Do mesmo autor deste O Último Livro já tinha lido o pequeno A Biblioteca, do qual gostei bastante, e portanto parti para esta leitura com algumas expectativas, quer pelo tema, quer pelo autor. 

Conhecemos o inspector da polícia Dejan enquanto percorre com interesse as estantes da livraria Papyrus. Chamado ao local devido a uma morte inesperada na livraria, rapidamente se chega à conclusão que a morte natural de um leitor com um livro nas mãos não é caso de polícia, mesmo para um inspector licenciado em Literatura. Mas as mortes misteriosas na livraria sucedem-se, e juntamente com Vera, a dona da livraria, Dejan vê-se envolvido numa investigação tão policial quanto literária, juntando referências a O Nome da Rosa com suspeitas de uma arma biológica e o segredo do Último Livro. 

Este livro tinha tudo para resultar como um mistério sobre livros e leitores: o ambiente de uma livraria especial, com personalidade e ideal para amantes de livros, a pouca distância de uma interessante casa de chá; o cenário de uma cidade na Europa Central, cinzenta de chuva e frio; um livro misterioso que ninguém sabe que aspecto tem nem que conteúdo encerra; referências a grandes obras literárias; a curiosa sensação de déjà lu do protagonista, que sente que está a viver a história de um livro que já leu; e personagens excêntricas como só bibliófilos podem ser. Todos estes elementos me agradaram como leitora, e por eles fiz o esforço de tentar adorar este livro, mas tal não aconteceu. A culpa, acuso, é da escrita. Não consegui entrar na história nem sentir empatia pelas personagens, superficiais e banais, nem com um romance mal conseguido e pouco surpreendente. Os maus diálogos, como as linhas mais clichés de um filme pouco original, não compensaram o ritmo agradável do desenrolar do mistério, e a verdade é que a escrita não me agradou no geral. 

Não considero uma má leitura, e admitindo que seja meramente uma questão de gosto pessoal, este livro pode vir a agradar a outros leitores, mas a mim soube-me a pouco, pelo potencial que lhe vi e pela concretização que acabou por ter.

Ainda assim, depois de uma boa experiência e uma "assim-assim", vou manter-me atenta ao autor e provavelmente lerei mais livros seus, se se proporcionar uma nova oportunidade.


O melhor: O cenário em redor da história, que me agradou bastante: a livraria Papyrus, o ambiente cinzento e chuvoso que convida à leitura e o conceito engraçado de déjà lu

O pior: Os diálogos e o romance clichés e banais. 

3/5 - Gostei


20/03/2013

Estante à Quarta (34)

18/03/2013

A estante não faz o bibliófilo

Várias vezes nos últimos meses me apercebi de como a minha postura perante a aquisição de livros mudou no último ano, e o meu último post de aquisições deixou-me a reflectir sobre essa mudança. Não digo que gastasse fortunas em livrarias, até porque não teria como, mas quando comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio ordenado, e principalmente quando fui morar sozinha na minha própria casa, comecei a comprar livros a um ritmo muito superior ao meu ritmo de leitura, o que resultava num aumento constante da pilha de livros por ler. Até há um ano, fazia mais ou menos mensalmente pelo menos uma encomenda de livros online, Amazon, Book Depository, Fnac ou Saída de Emergência, poucas vezes comprava livros por impulso, mas aproveitava promoções e descontos quando estes surgiam e valiam a pena. Desde ofertas de livros na compra de outros, vales de desconto, promoções online, livros em segunda mão ou feiras do livro, aproveitava sempre que o valor compensava e o livro me interessava. Para ler de seguida ou mais tarde, fui enchendo a estante de livros lidos e para ler. 

Isso nunca me incomodou. Sempre olhei para a coisa como um investimento, além duma paixão. Como qualquer bibliófilo, nunca deixei de comprar um livro porque ainda tinha muitos para ler em casa (isso não faz sentido nenhum), e nunca achei que era altura de ter menos livros, pelo contrário. 
The Bookworm - Carl Spitzweg, 1850

Sempre soube que queria a minha casa cheia de livros, e que se não tivesse tempo para os ler todos, fariam sempre parte da minha biblioteca, disponível para amigos e família, e principalmente disponíveis em qualquer altura no futuro. Sempre soube que os meus livros me acompanhariam na minha vida e até a uma geração seguinte. 

Quando não os estava a ler, dava por mim simplesmente a olhar pasmada para as minhas estantes repletas e a pensar como as lombadas eram bonitas todas alinhadas, como os volumes das minhas sagas favoritas ficavam tão bem todos juntos e de como a sala seria tão mais triste sem livros. A sensação maravilhosa de orgulho parvo de alguém entrar em minha casa e exclamar com admiração "Uau! Tantos livros!"


Nunca vivi numa casa sem livros. Os meus pais sempre nos rodearam de livros e conhecimento enquanto crescíamos e continuei a rodear-me de livros na vida adulta. Aos 18 anos, deixei a terra natal e levei comigo os livros que eram apenas meus e não da casa (muito poucos, resultado de uma infância e adolescência passadas a ler e reler livros emprestados de amigos e bibliotecas). No Porto, mudei de casa inúmeras vezes e de cada vez etiquetei mais caixas com "livros" do que na vez anterior. Na minha última mudança, a mais drástica de todas, foi obviamente difícil separar-me da família, amigos e gatas, mas esteve tudo envolto no véu do entusiasmo com os preparativos e preparações nos meses anteriores. Foi quando a minha avó me ajudava a empacotar os meus mais de 400 livros que de repente se tornou real: estava a deixar a minha casa para trás. 

Apercebi-me subitamente que os livros sempre me deram a familiar sensação de estar em casa. Levei os meus livros juntamente com as minhas gatinhas para a casa dos meus pais, por isso posso literalmente dizer "Home is where your books are". 


Passei disto:
(fotos péssimas tiras à pressa e sem luz!)











Para isto:
(incluindo livros do namorado)








Depois da separação física que acabei de dramatizar aqui, tenho de admitir que já não consigo comprar livros com a mesma leveza com que o fazia antes. Numa altura em que muita gente deixa de comprar livros por razões de orçamento, eu tenho as condições mas tenho outras reticências. 

Estou numa casa diferente, num país diferente, e sabendo que estarei por aqui por agora, também sei que não vou ficar aqui para sempre. Tenho o meu Kindle maravilhoso e adorado, que me facilita a vida de leitora desterrada como nunca imaginei, mesmo quando choramingava que o queria. Por cada livro que compro surgem-me as questões: "Vou poder levar-te comigo se decidir mudar outra vez?", "Vou ter de te deixar para trás?", "Cabes na bagagem de mão?", "Vou-te levar se tiver de escolher entre ti e a máquina de café?". 

Como não sei como responder a estas perguntas, a maioria das vezes decido não comprar. Ainda assim, sempre que vou a casa tento trazer pelo menos um livro, dando preferência a livros em português. Ao longo de um ano e ultrapassando as limitações de peso e dimensões de bagagem das companhias aéreas (por vezes com batota descarada), alguns dos livros "arquivados" foram regressando ao regaço de sua dona. 


Se por um lado não posso encher-me de livros dos quais posso ter de me desfazer, por outro já não preciso de ter livros, de os possuir fisicamente e sempre mais. Cada nova compra é um misto de vontade de o ler, preço e oportunidade, e também de recordação. Compro livros de autores favoritos, em locais especiais, quando me fazem pensar em alguém. Sinto-me triste por não ter a minha biblioteca comigo (por vezes sinto saudades dos meus livros, sim, isso mesmo, agora pensem o que quiserem!),mas ao mesmo tempo sinto que evoluí no meu percurso de leitora. Já não preciso (tanto) do conforto físico dos livros para saber que os adoro. Não preciso de ter uma biblioteca enorme para ser uma bibliófila. 


A minha biblioteca viajou de volta para a terra natal, desta vez sem mim. Eu continuo a fazê-la crescer do outro lado da fronteira, e qualquer dia junto as estantes outra vez.

15/03/2013

Atlas das Nuvens


Autor: David Mitchell

Título original: Cloud Atlas

Editora: Dom Quixote, 2007

Tradução: Artur Ramos e Helena Ramos (+)

Nº Páginas: 616

ISBN: 9789722029940

Primeira Edição: Sceptre, 2004

Sinopse: Um viajante forçado a atravessar o oceano Pacífico em 1850; um jovem compositor deserdado, conquistando à força de tortuosas invenções um modo de vida precário num solar da Bélgica, entre a Primeira e a Segunda Grande Guerra; uma jornalista com princípios morais na Califórnia do governador Reagan; um editor menor fugindo aos seus credores mafiosos; o testamento de uma «criada de restaurante» geneticamente modificada, ditado na ala da morte; e Zachry, jovem ilhéu do Pacífico que assiste ao crepúsculo da Ciência e da Civilização: são os narradores de ATLAS DAS NUVENS, que escutam os ecos uns dos outros através dos corredores da história e vêem os seus destinos alterados de várias maneiras.

Opinião: Não sabia que este livro existia até começar a promoção do filme baseado nele. No final do ano passado, antecipando a estreia do filme em portugal, vários conhecidos cujas opiniões valorizo o começaram a ler, e perante opiniões unânimes de aprovação, resolvi começar a ler a edição inglesa. Confesso que desisti ao fim de algumas páginas, para pegar na edição portuguesa uns meses mais tarde, porque a escrita densa e repleta de peculiaridades geográficas e de época me desarmou logo no primeiro capítulo. Ao pegar no livro em português, gentilmente emprestado pela Célia (Obrigada!), imediatamente me rendi à escrita e à história deste Atlas das Nuvens. 

É-me muito difícil falar acerca deste livro. É difícil de explicar com precisão porque é que o devem ler, mas por favor, façam-no. 

Atlas das Nuvens é um conjunto de 6 histórias independentes entre si em geografia, data e tema, mas ligadas por subtis linhas do destino. As páginas do diário do americano Adam Ewing ao atravessar o Pacífico em 1850; as cartas do jovem compositor Robert Frobisher, caído em desgraça em Inglaterra e que encontra abrigo na Bélgica pós-Primeira Guerra Mundial; as aventuras de Luisa Rey, jornalista cujo caminho se cruza com um relatório contendo os planos defeituosos de uma central nuclear na América de 1975; no tempo presente, Timothy Cavendish, um editor de 65 anos vê-se forçado a fugir da família de um autor pouco sério, acabando na Escócia em condições preocupantes; num futuro distópico, Somni~451, uma "fabricante" oriental geneticamente modificada para pertencer à classe trabalhadora presta declarações gravadas digitalmente a um "arquivista" antes da execução da pena de morte; o relato de Zachry, um idoso habitante de uma ilha no Pacífico, que conta histórias da sua juventude num mundo depois da "Queda", onde a tecnologia não existe e a própria linguagem está fragmentada.

Este é o conteúdo do Atlas das Nuvens, e se analisando as curtas sinopses ficamos com a sensação que pouco há em comum entre as histórias, ao lê-las sentimos que poderiam ser, não apenas livros diferentes, mas até escritas por autores diferentes, tal é a variação na narrativa, nas personagens e nos géneros. Desde a ficção histórica de Adam Ewing e Frobisher, o thriller de Luisa Rey, passando pelo texto quase humorístico de Timothy Cavendish até à ficção científica e distópica de Somny~451 e Zachry.

Mas muito mais do que o conteúdo em si, o que me fascinou neste livro foi a forma. A estrutura física da obra e da escrita fazem este livro único e imperdível. David Mitchell constrói uma narrativa diferente para cada uma das suas histórias, e apresenta-as numa curiosa estrutura de cebola, com as suas camadas dispostas em redor do miolo central (foi a melhor analogia que me consegui lembrar, mas também já li em reviews a analogia com as bonecas russas Matryoshka, que me parece mais engraçada e menos aromática). Começamos o livro pela primeira metade diário de Adam Ewing, avançamos no tempo e no espaço até à primeira parte das cartas de Frobisher, depois a primeira parte da história de Luisa Rey, seguidas da primeira parte da Terrível Provação de Timothy Cavendish até ao início do Orison de Somni~451. Neste ponto chegamos à história de Zachry, a única história a não ser dividida e a peça central do livro, passado no ponto mais avançado no tempo. Finda a odisseia de Zachry, regredimos novamente no espaço e no tempo, com as segundas metades das histórias surgindo pela ordem inversa, completando as camadas em redor da história central e terminando o livro com a história que o começou. 

Confuso? Pelas minhas palavras, provavelmente, mas pelas de David Mitchell. não. A brilhante escrita e visão do autor transformam uma cebola numa peça literária inesquecível, e as ténues e ao mesmo tempo fortíssimas ligações entre as histórias são deliciosas e transformam o leitor num cúmplice das personagens. A cada pequena peça de informação sentimo-nos como alguém que lê os sinais e os entende e às suas consequências, mais do que as próprias personagens, e apetece dizer-lhes "Eu sei! Eu sei!" (pequena piada privada para quem já leu o livro). É difícil de definir o tema deste livro, mas eu diria que é uma história sobre a natureza humana e sobre o poder que os seres humanos têm um sobre os outros.

Uma obra fantástica, para ler com disposição e com calma para apreciar todos os detalhes das 6 histórias e mais de 500 páginas. Pode não ser uma leitura fácil (o que determinou a diferença entre as 4 e as 5 estrelas) mas fico imensamente feliz por não ter desistido de vez deste livro singular. 

Uma nota muito positiva desta tradução da Dom Quixote (não sei se a edição da Presença tem os mesmos tradutores), que numa obra complexa e muito difícil de traduzir, conseguiram fazer um excelente trabalho. 


O melhor: A estrutura da obra e a escrita

O pior: Nada que me ocorra


4/5 - Gostei bastante


13/03/2013

Estante à Quarta (33)

(daqui)

12/03/2013

Aquisições e reentradas de Março

O último post de aquisições foi em Outubro de 2011! 
Obviamente que desde então até agora muitos livros deram entrada na estante, mas principalmente, quase todos foram arquivados numa estante a milhares de km de distância da dona. Talvez traumatizada com a separação dos meus livrinhos, a minha perspectiva em relação a comprar livros mudou um pouco e por isso agora consigo controlar mais as novas aquisições.

Com tão poucas aquisições, achei justo incluir as reentradas (ou os livros contrabandeados de Portugal) neste post. 
Na pilha da direita estão as aquisições desde o início do ano, e as reentradas na pilha da esquerda. 



Dos retornados, trouxe o primeiro da trilogia do Joe Abercrombie, The Blade Itself (que por acaso foi recomendado pelo Martin há uns dias) e resolvi terminar finalmente A Saga do Assassino da Robin Hobb, por isso trouxe os dois últimos: A Vingança do Assassino e A Demanda do Visionário. 

Nas aquisições, a Célia emprestou-me o fabuloso Atlas das Nuvens de David Mitchell, e cedeu-me o Enciclopédia da História Universal de Afonso Cruz, no meio de outras dezenas de livros que encontraram novo dono
Uma amiga conseguiu trazer-me do Brasil o muito desejado e nunca publicado em Portugal Um Farol no Pampa da Leticia Wierzchowski, a continuação d'A Casa das Sete Mulheres, que adorei, e outra deu-me o Mundo no Fim do Mundo, de Luís Sepúlveda, que encontrou perdido. 


Le papier ne sera jamais mort / O papel nunca irá morrer


Numa altura de constante discussão acerca do futuro dos livros físicos face ao apogeu dos digitais, uma marca francesa apresentou este tv spot engraçado. Emma mostra que o papel não está ameaçado!



Pouco a ver com ebooks, mas vocês percebem a ideia ;)
Visto aqui.



06/03/2013

Bibliofilia pelo Mundo (VI) - Shakespeare & Co.



Na margem esquerda do Seine, a dois minutos de marcha de Notre Dame, encontramos uma das livrarias mais famosas do mundo, a Shakespeare and Company.


(daqui)
Fundada em 1951 pelo americano George Whitman (embora o nome original fosse Le Mistral e tenha sido mudado para o actual em 1964), esta livraria sempre foi muito mais do que apenas uma loja de livros em inglês no coração de Paris.
Continuando uma tradição de partilha de livros e experiência de leitura da parte do seu fundador, Shakespeare and Company foi desde o início um lugar de encontro de autores, artistas e pensadores de língua inglesa na boémia Paris. São inúmeros os autores famosos que frequentaram, pernoitaram e compraram livros neste pequeno apartamento de dois andares transformado em livraria.


Ainda hoje é uma influência na cultura literária, promovendo encontros de escritores e leitores, realizando workshops e conversas em redor de livros, incentivando publicações independentes e diversas actividades culturais. 

Além de uma referência cultural, a Shakespeare and Company tornou-se ao longo das décadas desde a sua abertura também uma referência turística em Paris. A localização privilegiada permite aos visitantes desinformados de uma zona nobre de Paris descobrir uma encantadora e histórica livraria no meio de dezenas de artistas de rua e bancas de livros usados, quase como uma gravura antiga típica de um postal. 

Para outro tipo de visitantes que, como eu, se deslocam a esta zona da cidade especialmente para visitar a mítica livraria, a experiência é fantástica. O próprio espaço envolvente tem uma atmosfera artística e o cantinho onde se localiza a livraria (ou antes livrarias) convida ao registo fotográfico e mental.

Num espaço acolhedor e convidativo, ladeado por um pequeno jardim, com uma fonte antiga no passeio mesmo em frente, as luzes coloridas penduradas entre os ramos das árvores, a famosa fachada amarela e verde, este canto bibliófilo seduz imediatamente, e isto tudo é antes de ver os livros.

Em plena calçada, caixas de livros usados a preços fantásticos, livros antigos em pilhas numa mesa, expositores gastos repletos de livros também eles bem lidos e até prateleiras na parede, sem faltar o conjunto de mesa e cadeiras à entrada da loja, para folhear livros com calma.

Na verdade existem duas livrarias, a famosa e generalista, e mesmo ao lado, no mesmo edifício e com aparente ligação interior, encontramos a loja especializada em livros raros e antigos. Uma versão alfarrabista da Shakespeare and Company, que permanece vazia e sossegada, em oposição à "loja-mãe".
Não cheguei a entrar na loja de livros raros mas enquanto investigava no exterior as pilhas de livros pouco valiosos, mas de encadernação antiga em couro, descobri na montra maravilhas como uma primeira edição de Pictures by J. R. Tolkien, de 1979 (120€), uma primeira edição do Le Petit Prince,de 1943 (150€) ou um conjunto dos 14 livros de James Bond de Ian Fleming nas suas publicações originais, de 1953-66 (395€).






                          (daqui)

Em ambas as lojas, quer na fachada quer no interior (pelas paredes fora, em degraus de escada e vãos de portas), encontram-se citações de livros ou declarações atribuídas a autores famosos. Há nas paredes e nas estantes recortes de jornais, ilustrações, notas de leitores maravilhados, peças de merchandising de livros, fotos de autores na livraria com o proprietário ou simplesmente fotos autografadas e posters de filmes baseados em livros (o grafismo do site oficial da livraria é feito com imagens estes recordes e citações). 

(daqui)


Há lugar para um piano rodeado de sofás-cama e almofadas (estava uma rapariga a tocar e a cantar em francês enquanto lá estive!), inúmeros cantinhos de leitura feitos a partir de camas ou sofás, forradas de estantes, cortinas e pilhas de livros, que terão acomodado os inúmeros escritores que por aqui passaram. 

(daqui)
(daqui)



E livros. Milhares e milhares e milhares de livros. Novos e usados, recentes e antigos, todos os géneros, livros obscuros, best sellers e clássicos. Nesta livraria as paredes parecem feitas de livros, tal é a quantidade caótica de exemplares. O espaço é ínfimo, e a divisão das pequenas salas por estantes repletas para proporcionar mais superfície de exposição origina corredores estreitos onde é preciso ter cuidado para não atirar livros ao chão.


(daqui)
(daqui)



















No meio de tudo isto, o difícil foi escolher um livro para comprar nesta mítica livraria. Assim que entrei perdi imediatamente a noção da minha wishlist, tantos livros à minha volta que me deixaram embriagada! Depois de escolher o livro, consegui localizar a caixa de pagamento no meio de tantas estantes e pessoas, e acabei por comprar esta edição linda de um livro que tenciono ler há anos (e o facto de ser pequeno cumpria os requisitos da minha bagagem já lotada), The Great Gatsby, e pedi o carimbo da praxe na primeira página.





(daqui)
É proibido tirar fotos do interior, por isso deixo-vos aqui fotos que estão publicadas na internet. Mesmo que tivesse podido tirar fotos (claramente outros visitantes o fizeram), não o teria feito porque a livraria estava a abarrotar de gente e a circulação era perigosa. Além disso, nunca teriam feito justiça ao espaço, tal como estas fotos não o fazem. A luminosidade fraca e amarelada que estabelece o fantástico ambiente da livraria não favorece fotos. Só mesmo uma visita ao local lhe fará justiça.

Uma das livrarias mais famosas do mundo, palco e tema de várias histórias, filmes e livros, e sem dúvida um lugar apaixonante para qualquer bibliófilo.