A Caixa em Forma de Coração, Joe Hill
Título Original: The Heart-Shapped Box
Páginas: 324
Editora: Civilização
Sinopse: Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais... uma corda usada num enforcamento... um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta, um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira.
Por mil dólares, Jude tornar-se-á o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real.
Opinião: Judas Coyne é um homem de cinquenta e quatro anos que viu a sua banda ser um sucesso no mundo do metal, e que continua a ser uma estrela de rock mesmo depois da banda se ter desmembrado devido à morte dos seus dois companheiros. Jude vive numa quinta no estado de Nova Iorque, com os seus dois pastores alemães e a sua namorada do momento, Georgia. Esse não é o seu verdadeiro nome. Ao longo da sua carreira Jude foi coleccionando namoradas, raparigas góticas, fans da sua música, raparigas que se querem distanciar das meninas de província que foram. Enquanto estão com Jude são apenas o nome do estado de onde são originárias. Além de Georgia, Jude lida diariamente com o seu secretário pessoal Danny, um jovem simpático e falador que gere os contactos de Judas Coyne na sua carreira a solo, no escritório instalado nas traseiras da casa.
A vida de Jude encontra-se bastante calma na manhã em que recebe a encomenda. Quando Danny lhe falou no leilão do “Fantasma do Padrasto”, Jude não hesitou em pagar mil dólares para terminar o leilão e adquirir um fato do homem morto, que a vendedora diz estar assombrado pelo espírito perturbado do seu padrasto. Quando abre a encomenda e descobre a caixa preta em forma de coração que é o receptáculo do fato do homem morto, algo se agita nas entranhas de Jude com um sentimento que algo não está bem.
Bom, então isto é que é um livro de horror. Acho que afinal sou fan do género. Adorei este livro. Joe Hill escreve de forma fluída, espirituosa e terrivelmente real. Gostei particularmente da forma como a personagem principal, Jude, é construída. A ideia inicial é a de uma personagem de certa forma estereotipada e superficialmente interessante. Mas à medida que a história avança, e sempre com o ponto de vista da cabeça de Jude, vamos assistindo ao desdobramento da personagem, vamos conhecendo mais profundamente esta personagem e perceber que está extremamente bem construída, sem deixar de ser real. O mesmo se aplica ao enredo em si: aquilo que aparenta ser apenas um embuste ou uma mera his´toria de fantasma revela-se algo mais denso e profundo. E Negro. Foi surpreendente chegar ao fim e aperceber-me que a acção propriamente dita decorreu durante apenas alguns dias. O livro está cheio de flashbacks (que não o são realmente), personagens do passado que se confundem no presente, noites demasiado longas e dias em que os acontecimentos se precipitam.
Com este livro tive finalmente aquela sensação fantástica de ligeiro temor, que aumenta ao passar das páginas, mas que me impele ainda mais na leitura. Aquele formigueiro que se sente quando se sabe que algo de mau e assustador vai acontecer. Ao pousar o livro, a sensação permanece e queremos saber ainda mais.
Não conhecia o autor, e com este livro fico com a sensação que se trata de uma mente interessante, culta e livre de preconceitos. Suponho que não seja fácil escrever sobre uma personagem envolvida no mundo da música, em particular no mundo negro do metal, e construir uma história que não cai nos aterradores clichés associados a esta cultura e às pessoas que a constituem. Joe Hill conseguiu fazê-lo, e com uma graça e elegância que me fizeram soltar algumas gargalhadas ao longo do livro, e estabelecer imediatamente uma empatia com a personagem principal.
Terminado este livro, sinto que testemunhei algo grande e íntimo, que não sei verdadeiramente explicar. Acho que algo do autor foi deixado nestas páginas. Não algo de literal, mas um vislumbre da natureza espirituosa e do humor negro e inteligente do escritor.
Nas páginas finais da leitura deste livro, já pela noite dentro, dei por mim a levantar os olhos do livro e olhar para o rectângulo negro que era o corredor através da porta do quarto entreaberta. Sorri para mim e pensei para o livro “Raios. Apanhaste-me!”.
O melhor: Jude e o conceito da “Estrada da noite”.
O Pior: Demorei a entrar no ritmo de leitura, devido a falta de tempo para ler mais do que algumas páginas de cada vez.
4/5 – Gostei bastante
Aproveito para informar que este livro está agora à venda nas Fnacs e na Wook por apenas 5€!
Li este livro em 2009. Ao contrário de ti, não me suscitou tanto medo, já li bem piores que este. Claro que gostei da história, a escrita é boa assim como o humor. Não sei se sabes, o Joe Hill é filho do Stephen King e o seu pai é um mestre de Terror. Sim, o Joe para a primeira vez vai muito bem, mas precisa de melhorar mais. Os livros do Stephen King é que são mais aterrorizadores. Já experimentaste?
ResponderEliminar=)*
Olá :)
ResponderEliminarSim, sabia que ele é filho do Stephen King, nunca li nada dele, mas sinceramente acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Refiro-me à comparação entre os dois.
Não me parece que o Joe Hill tenha de melhorar depois deste primeiro livro, porque apesar de nunca ter lido Stephen King (e portanto nem devia falar mas pronto :P) acho que o tipo de horror que escrevem é totalmente diferente.
E tenho a certeza que o Joe Hill não aspira a ser outro Stephen King, senão até assinava os seus livros como Joe Hill King :P
Em relação ao livro em si, acho que este nem sequer tem a pretensão de ser verdadeiramente aterrador. É sim uma história nu cenário de horror, mas achei que o fio condutor do livro não é o terror.
Eu não disse que senti medo durante a leitura, e nunca me assustei verdadeiramente. Senti sim o temor agradável e obscuro. Não me perguntes qual a diferença, que não sei explicar melhor :P
Ler Stephen King está nos meus planos, sem dúvida. Alguém que tem o carimbo de "mestre do terror" não é para ignorar :)
Pois então Cat, não deves perder o seguinte romance do Joe Hill,"Cornos", que é uma magnifica história de horror(?) sobre o amor, o ciume, e os segredos mais intimos que separam/unem as pessoas. Uma grande leitura está à tua espera!
ResponderEliminarE concordo que Joe Hill tem uma forma de escrita totalmente diferente do Stephen King, e ainda bem.O King quando está no seu melhor é genial, mas por vezes torna-se demasiado palavroso e entediante.Para já o Joe Hill mantem um registo muito contido, resultando os seus livros em leituras no "timing" perfeito!.
Olá Archeth, obrigada pela visita :)
ResponderEliminarA verdade é que quando saíu recentemente o Cornos fiquei imediatamente interessada. Só depois é que decidi ler primeiro este, porque gosto de ler as obras dos autores pela ordem de publicação :)
Fico ainda mais ansiosa pelo Cornos depois do teu comentário. Está na lista :)
Um livro de horror, a sério?:o realmente agora olhando bem para a capa...mas não fazia ideia!
ResponderEliminarOlá! Gostei muito mesmo da tua opinião, os sentimentos que exprimis-te no final foram os mesmos que senti noutros livros de terror que já li!! Comprei este livro hoje e não conhecia o autor, mas fiquei muito curiosa e ainda por cima tava em promoção!
ResponderEliminarE também não fazia ideia que ele era filho de Stephen King! :)
Beijinhos
Só agora é que descobri que tinhas escrito esta opinião! Gostei imenso, ainda por cima porque gosto do Joe Hill e porque ainda não li o Heart-Shaped Box.
ResponderEliminarDe momento sigo a BD dele ilustrada pelo Gabriel Rodriguez, o Locke and Key, de que já deves ter ouvido falar e que vale mesmo muito a pena ler.
Sim, conheço o Locke and Key de nome (sigo o Joe Hill no twitter e ele só fala disso :P) mas só quando li no teu blog a descrição da BD é que soube qual a premissa e fiquei muito curiosa. Sou capaz de mandar vir o primeiro volume para ver se gosto, porque como sou nova nestas andanças da BD moderna não sei o que gostarei ou não :)
EliminarTenho o Horns dele para ler, mas a minha edição português ficou em PT. *faz festinhas ao kindle*