"Imaginem que têm de partir o braço a alguém.Não interessa se o direito ou o esquerdo. A questão é que têm de partir o braço a uma pessoa, senão... Bom, isso também não interessa. Digamos apenas que se não fizerem sofrerão as consequências.O que eu pergunto é o seguinte: partiriam o braço rapidamente - tipo, crac, ups, desculpa lá, deixa-me lá ajudar-te com essa tala improvisada - ou arrastariam todo o processo por uns bons oito minutos, aumenando de vez em quando a pressão em ligeiríssimas doses, até que a dor se tornasse cor-de-rosa e verde, quente e fria ao mesmo tempo, e absolutamente insuportável?Exactamente. É óbvio. O correcto, a única coisa a fazer, seria tratar do assunto o mais rapidamente possível. partir o braço e depois servir o brandy como qualquer bom cidadão. É a única resposta possível.A não ser que.A não ser que... A não ser que... A não ser que...Quer dizer, se odiassem a pessoa a quem pertencesse o braço? Odiassem a sério?Isto era algo a ter agora em conta.Quando digo agora quero dizer naquela altura, o momento que pretendo descrever. Essa fracção de segundo antes do meu pulso ser puxado até à minha nuca e o meu úmero esquerdo se partir em pelo menos duas partes, possivelmente mais, fragilmente unidas entre si.É que o braço de que estamos a falar é o meu. Não se trata de um braço abstracto, do braço de um filósofo. O osso, a pele, os pêlos, a pequena cicatriz branca no cotovelo, resultado de um aquecedor de uma sala de arrumações da Gateshill Primary School, tudo isso me pertence. E agora é a altura de pôr a hipótese de que o homem atrás de mim, a agarrar-me o pulso e a puxá-lo para junto da minha coluna com requintes de natureza quase sexual, em odeia a sério. Odeia-me mesmo muito a sério.Está a demorar imenso."
O Traficante de Armas, de Hugh Laurie, p. 9. Caderno (2007), Tradução de João Henriques.
Quando um livro começa assim, promete!
Assustaste-me com este título. :P Pensei que ias falar do filme 127 Hours, com o James Franco.
ResponderEliminarIsto é a primeia página do livro? Uau. O Hugh Laurie actua, toca, canta e agora escreve? O rapaz é talentoso. ^^
Credo. Partir o braço a alguém a alguém sempre é melhor do que ter de arrancar o próprio! :P
ResponderEliminarO livro começa assim. É claro que me fartei logo de rir, e o melhor é que tem mantido o nível ao longo das 80 páginas. Não consigo evitar associar o tom da escrita do Hugh Laurie à personagem House (só por acaso uma das minhas séries favoritas), apesar de me esforçar por isso. Mas o tipo de humor é tão semelhante que faz pensar no quanto do homem passa para a personagem.
Talentoso indeed. Não só é um excelente actor e um músico fantástico (nunca o ouvi cantar! tenho de procurar isso) como sabe escrever, ainda é jeitoso, e inglês. O que mais se pode pedir? ^^
Oh, mas é claro que já o ouvi a cantar! Duh! Na Band from TV, claro xD
ResponderEliminarAdorei o texto :) Agora fiquei curiosa com o livro...
ResponderEliminarBeijinhos*