Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

31/03/2011

BTT - Leituras insólitas




Depois de um interregno na semana passada, volto ao BTT esta semana:


Se és como eu, cresceste a ler tudo o que encontras, desde caixas de cereais enquanto tomas o pequeno almoço a jornais que estão a ser lidos por outras pessoas ou os títulos das revistas quando entras numa loja.

Qual foi a coisa mais estranha que leste (E não me refiro a livros, revistas, contos, poemas ou artigos)?



Eu já li isso tudo! Caixas de cereais, incluindo os jogos infantis que alguns trazem, e de tudo o que estiver embalado em redor do meu pequeno almoço, incluindo o rótulo do pacote de leite, a composição da comida da gata, ou as instruções da máquina de café, pela milésima vez.... o.O

Tenho o vício horrível de, assim que detecto alguém a ler um livro em público, imediatamente tentar descobrir qual é, quer seja a ler as margens, o próprio texto ou mesmo pôr-me em posições parvas para espreitar as capas (ai que comichão no pé me deu de repente). Digo vício horrível porque, além de ser ridículo, eu detesto que o façam comigo. Quando sinto olhares por cima do meu ombro tento esconder o livro de olhares invasores (o que não impede que continue a invadir os livros dos outros!). Se alguém estiver a estudar no comboio, não descanso enquanto não descubro qual a cadeira...

Normalmente tenho uma revista no WC para evitar estes momentos de crise. O pior é quando só há o catálogo do Ikea (que texto tem muito pouco), e tenho de escolher entre ler as características de toda a gama Billy ou os rótulos das embalagens de champô e gel de banho, bulas de medicamentos, etc.

Quando vou na rua leio tudo, desde os estampados na roupa das pessoas, a cartazes e títulos de revistas/jornais nas mãos de outrem ou nos expositores. Já para não falar das placas nas estradas (não sou condutora, portanto nem tenho obrigação de ler), graffitis e/ou stencils (alguns são bem engraçados) ou publicidade e anúncios de imobiliária nos prédios e as moradas das lojas nos sacos de compras (é verdade....). Quando vou aos correios levantar encomendas e apanho o autocarro a seguir, as primeiras paragens são passadas a ler tudo o que está no envelope, incluindo os gatafunhos específicos dos serviços postais. 
Enfim, acho que leio tudo o que os meus olhos apanham, mas isso é normal, acho eu. Se bem que às vezes vou na rua com pessoas que não se apercebem de ter passado por determinado cartaz ou anúncio...  

Acho que a coisa mais estranha que já li.... pensei que eram os pacotes de cereais e os rótulos de champô, mas parece que não!... Foram sms's de pessoas nos autocarros. Pronto, eu admito, já li mensagens de pessoas totalmente estranhas. Não é de propósito. As pessoas estão com os telemóveis na mão a escrever ou a ler, aquilo faz barulho, o meu reflexo é seguir o som, e pimbas! Já olhei, já li! Não consigo evitar, e até fico com vergonha. Já sabem, se virem uma jovem com ar teimoso a tentar ler o vosso livro, tenham cuidado porque posso ser eu, e a seguir leio-vos as mensagens! 

Comecei este post com um sentimento de "afinal não sou só eu", mas depois desta enumeração toda começo a pensar que sou um bocado doente.... 

30/03/2011

Estante à Quarta (4)

Ora digam lá que, no tempo que lá passam, nunca tinham pensado no jeito que daria.


Imagem original daqui.

Nota do Tradutor

A partir de hoje, quando der a minha opinião dos livros lidos, passarei a atribuir também uma nota ao tradutor, da mesma forma que dou ao livro. Porque uma má tradução pode estragar um bom livro, mas uma boa tradução pode revelar-se uma mais valia para os leitores estrangeiros, também merecem receber os louros pelo seu trabalho (ou receber nota negativa, se for o caso).
Já comecei com a opinião publicada há minutos, O Traficante de Armas, de Hugh Laurie, em que a boa tradução foi determinante para manter a voz humorística do autor. 

O Traficante de Armas


O Traficante de Armas, Hugh Laurie
Título original: The Gun Seller
Tradutor: João Henriques (nota ++)
Editora: Caderno



Sinopse: Thomas lang é um ex-polícia que se tornou um mercenário. Um dia recebe a visita de um tal McClusky, que lhe oferece cem mil dólares para assassinar Alexander Woolf, um empresário americano com negócios na Inglaterra e Escócia. Indignado, Lang recusa o trabalho e decide avisar a vítima para o perigo que corre, em vez de matá-la: uma boa acção que não ficará impune. 

A partir do momento em que o protagonista entra em contacto com a família Woolf ver-se-á imerso num turbilhão de mentiras, corrupção e violência, que o obrigará a esmagar umas quantas cabeças com a estatueta de um Buda, a medir o seu engenho com multimilionários malvados e deixar a sua vida (entre outras coisas) nas mãos de um grupo de femmes fatales. 

Hugh Laurie apresenta-nos um engenhoso e ácido romance que fará as delícias não só dos seus fãs, mas também de todos os leitores ávidos por enredos originais e cativantes. 


Opinião: Eu juro que tentei ler este livro sem ter em mente que o seu autor é um dos mais brilhantes comediantes europeu das duas últimas décadas. Eu juro que tentei ler este livro sem associar o narrador ao sotaque britânico delicioso do autor, e tentei ser imparcial relativamente ao sentido magnífico de humor de Hugh Laurie. Eu tentei, mas ele não deixou. 

Este livro respira Hugh Laurie em todas as letras. São vários os elementos: o excelente sentido de humor do narrador e personagem principal (publiquei aqui as primeiras linhas do livro, e dá para ver o tom do discurso); a mentalidade de superioridade britânica face à América da parte de um inglês “obrigado” a lidar com americanos em contexto profissional; até a necessidade de disfarçar o sotaque britânico tão próprio para exercer uma profissão e até fazer-se passar por americano nascido e criado; e Londres, cidade que adoro, como pano de fundo de grande parte da acção. Todos estes elementos, além de me remeterem para o artista Hugh Laurie e para as suas performances enquanto actor e comediante, prenderam-me do início ao fim como narrativa. Muitos só conhecem este artista pela famosa (e excelente, uma das minhas favoritas) série de TV House (e uns poucos pela fantástica Black Hadder), mas a carreira dele no Reino Unido começou há muitos anos atrás, e além de cantar, tocar e representar com um humor apurado, também escreve. Recomendo uma breve pesquisa no YouTube dos vídeos mais antigos dos programas deles se quiserem rir-se um bom bocado. Mas voltando ao livro...

Um homem britânico que anda metido com pessoal do governo de Sua Majestade, por causa de uma confusão com uns americanos brutos e limitados (não são todos?), que apenas procura levar a sua vida descansado, e se possível com uma Glock à mão. No meio disto tudo há uns negócios de venda de armas que envolvem terrorismo, e Thomas Lang é deixado numa encruzilhada moral, da qual só consegue ver os olhos da bela americana Sarah Woolf. 

Gostava de ter conseguido dedicar mais tempo à leitura deste livro, para que esta tivesse sido mais fluída, porque este enredo está repleto de reviravoltas, surpresas inesperadas e personagens determinantes. Infelizmente não tive disponibilidade para tal, e acabei por me sentir uma ou duas vezes perdida no meio de tantas curvas, mas sempre divertida e a soltar gargalhadas no autocarro. Se é verdade que por vezes me senti confusa com as reviravoltas no enredo, considero que além da escrita fantástica do autor, um dos pontos fortes neste livro é precisamente o facto de o leitor não saber em quem acreditar. Se por um lado Thomas Lang parece não poder confiar em ninguém (e quando parece que confia, nós não sabemos se confia mesmo ou se quando virar costas vai agir ao contrário), nós também não sabemos bem se confiamos em Thomas Lang. Estranho, não? Tendo em conta que o ponto de vista é dos pensamentos da personagem, é preciso o escritor ser terrivelmente engenhoso e inventivo para não revelar o que não quer que seja revelado. Até ao final, a dúvida quanto às verdadeiras intenções das personagens permanece juntamente com a verdade acerca do nosso herói. Porque ele torna-se o nosso herói desde o primeiro momento em que entramos na sua cabeça, mas mesmo assim o final é surpreendente. Reconheço que o enredo é pouco sólido de forma geral, porque se foca muito nos pormenores, mas não deixa de ser brilhantemente bem escrito, um livro despretensioso e uma óptima forma de passar o tempo. 


O melhor: A escrita divertida, chegando a ser hilariante. 

O pior: O enredo em si pouco sólido em certos pontos. 

4/5 – Gostei bastante

29/03/2011

Kreativ Blogger Award


Foi com muita satisfação que recebi este destaque da parte da Olinda. Foi certamente o efeito das insónias que a fez tomar tal decisão, mas eu cá não me queixo! :) Vou apenas cortar a metade o nº 10, e reduzir os itens para 5.

Começo por enumerar 5 coisas que gosto, e que gosto de partilhar:
1 - Livros, gosto de emprestar e dar a conhecer a outros os livros que me apaixonam.
2 - Opinião, sim, difícil é ficarem sem saber o que acho de dado assunto.
3 - Novidades sobre livros e autores, estou sempre à procura e adoro partilhar
4 - Sorrisos
5 - Blogs :)

E atribuo aos seguintes blogs o Kreativ Blogger Award, pela criatividade e coerência com que publicam, e porque são sempre textos interessantes. O chamado serviço público da web.
Bitaites
Horas Extraordinárias
Bela Lugosi is Dead
Lâmpada Mágica
Rascunhos

28/03/2011

Cuidado com a Língua

Está no ar a 4ª temporada deste programa do qual sempre gostei. 
Um formato curto e informativo, onde todas as edições se aprende algo de novo da Língua Portuguesa. Desde as gralhas mais comuns na grafia, às pequenas imprecisões que se foram banalizando (ao ponto de serem admitidas nos dicionários) cujas origens nos são explicadas, passando pelos agressivos pontapés na Língua, há sempre alguma coisa que não sabíamos, ou julgávamos saber. Sempre com uma boa dose de humor e sem julgamentos. 

Na edição de hoje aprendi que a palavra "injustiçado" é imprecisa e deveria ser preterida em relação a "vítima de injustiça". Isto porque justiçado descreve aquele que foi alvo da acção da Justiça, que foi condenado pelos órgãos da Justiça; ao passo que a palavra "injustiçado" é o antónimo, por adição do prefixo de negação "in". 
Assim sendo, um "injustiçado" é aquele que fugiu da Justiça, ou que foi ilibado, o que não corresponde ao sentido que normalmente lhe damos, de pessoa que sofreu uma injustiça.

Enquanto escrevi este texto, o corrector ortográfico do browser detectou um erro as 3 vezes que escrevi a palavra em questão. Nem sempre têm razão, mas desta vez estava certo :)

Mais uma vez com a apresentação de Diogo Infante, com participações especiais de actores conhecidos da televisão. Esta temporada do Cuidado com a Língua reveste-se de especial importância numa época de introdução das regras do novo Acordo Ortográfico, e espero que venha assim colmatar uma falha grave de informação relativamente a este tema, facilitando esta transição. Este programa é verdadeiro serviço público. É uma sugestão que deixo a todos, porque todos damos uns erros de vez em quando, e por esta internet fora há muitas pessoas que darão bom uso a este serviço público (e não me refiro a erros relativos ao Acordo!), que confesso que me assusto vezes demais, e ler muito parece não ser suficiente para escrever bom português. 


Deixo aqui o link para a emissão de hoje, que acabou de sair do ar, e podem ver-se as anteriores também online.

Edito o post para referir que gostei especialmente da edição de hoje do Cuidado com a Língua, por ser passada num alfarrabista (não consegui apanhar qual é, mas é fantástico, terei de pesquisar), e por realçar algumas "biblio-palavras", algumas que eu não conhecia! Ainda uma referência especial ao falecido Artur Agostinho, que é um dos convidados desta emissão. 

23/03/2011

Estante à Quarta (3)

Edição especial biblio cat :)

19/03/2011

Même Literário


1 -  Há vários. Um deles é O Filho das Sombras, de Juliet Marillier, e outro é A Rainha das Trevas, de Anne  Bishop

2- O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas

3 - Os Leões de Al-Rassan, Guy Gavriel Kay

4 - Deixo aqui uma lista de blogs que gostava de ver responder a este pequeno même, se quiserem, mas qualquer pessoa pode "roubar" o botão e responder também :)



5 - Fui desafiada pela Cris, d'O Tempo Entre os Meus Livros


Mofo


Se uma casa velha ou fechada cheira a mofo, abrem-se portas e janelas para arejar...
O que fazer quando um livro cheia a mofo? Comprei um livro em segunda mão, e cheira imenso a mofo! A mofo mesmo, não a livro velho ou manuseado. Reparei no alfarrabista, mas no meio daquele cheirinho a livros não me apercebi que cheirava tanto a mofo, e o livro até está em muito bom estado. Já peguei em livros com 100 anos com melhor aroma. Felizmente não tem marcas de humidade (senão não o tinha comprado), deve ter estado guardado muito tempo numa divisão ou caixa a tresandar fungos.
Não tenho nada contra os fungos, sou a favor de todas as formas de vida do planeta, desde que não vivam nos meus livros.
Sugestões?


E já agora, a propósito de cheiro de livros.... O meu pai falou-me disto há tempos, mas pensei que era uma piada. Ainda assim não estou segura que não seja. 

17/03/2011

Booking Through Thursday — Be strong Japan



As notícias têm sido horríveis durante esta semana, com catástrofe atrás de catástrofe, a um nível que – se eu lesse isto num livro ou visse num filme – estaria a protestar que seria simplesmente demasiado improvável, demasiado rebuscado. 

Mas temas para romances são retirados dos títulos das notícias a toda a hora. Ou então acontecimentos da vida real fazem lembrar ficção (quer sejam “acreditáveis” ou não) acerca da qual lemos mas nunca esperámos testemunhar. Ou então a vida real torna-se tão inacreditável que expande o nosso sentido de realidade. 

Não consigo lembrar-me de uma pergunta concreta para fazer, mas pensando na teoria da ficção, em como pode afectar ou ser afectado por acontecimentos do mundo real, poder funcionar como efeito-tampão ao lidar com os horríveis acontecimentos das noticias, e a ter de facto que enfrentar esse horror. Então... O que acontece quando a linha entre ficção e realidade se torna demasiado ténue? Discutam! 




A verdade é que não sei muito bem o que dizer acerca disto. Até estava para nem participar esta semana… 

E uma das razões para isso é o facto de ser muito mais fácil lidar com acontecimentos desta gravidade e seriedade quando podemos fechar o livro e não pensar nos efeitos tão devastadores que significam. Por outro lado, em termos de emotividade, acho que mais facilmente nos perdemos nas páginas de um livro, e sentimos a aflição das personagens como nossas quando não passa de ficção. Certamente não deixo de me sentir tocada quando os acontecimentos são reais e concretos, quando envolvem pessoas reais e concretas. Mas penso que o choque da realidade da tragédia actua como uma espécie de filtro de emoções. É demasiado sério, demasiado terrível para imaginar. O mesmo acontece em livros de não ficção. Apesar de chorar em livros e filmes com facilidade e de não me importar com isso, quando li o livro Vendidas, de Zana Muhsen, não derramei uma lágrima. Ao ler aquela história, que sabia real e absolutamente verdadeira em todos os pormenores mais impressionantes, senti-me muitas vezes como um zombie, em choque. Depois da fase da incredulidade, o que senti foi uma profunda revolta e uma solidariedade genuína por aquelas e outras mulheres que sei que existem nas mesmas circunstâncias. Era demasiado sério para sentir pena. Emocionei-me com a realidade daqueles relatos e desejei poder mudar o mundo. 

Tal como aí, a situação do Japão é demasiado séria para considerar seja o que for. Ao ver aquelas imagens horríveis e assustadoras senti por uns minutos uma incredulidade seguida de pânico interior. Parece que é como dizem, uma desgraça nunca vem só, e é isso que dá um toque tão irreal à tragédia. Se fosse um filme seria inverosímil. O que vou dizer a seguir pode ser considerado um ultraje, mas não me interpretem mal. No meio de tanta tragédia, a única sorte foi tamanha devastação ter ocorrido aos japoneses. Não conheço todos os povos do mundo, nem sequer conheço assim tão bem os japoneses, mas sei que se há povo capaz de recuperar desta calamidade, são o povo do Japão. Séculos e séculos de perseverança de uma cultura que luta contra a hostilidade da natureza, e que tem profundamente enraizado nas pessoas o sentimento de entre-ajuda, de construir a ordem e trabalhar para o bem comum. Nunca estive no Japão, mas li e ouvi relatos de estrangeiros maravilhados com esta cultura e vejo-o nos filmes, nas reportagens, e nos autores japoneses. 

Ao mesmo tempo, são pessoas que não exteriorizam o sofrimento, de forma a não perturbar a ordem global. E mesmo quando esse sofrimento é terrível, como certamente o é agora, procuraram continuar com ordem e com força. São pessoas muito fortes e com uma mentalidade que lhes permite ultrapassar muitas dificuldades antes de se lembrarem de se lamentar. É por essa razão que estou convicta que este país se vai reconstruir mais rapidamente do que qualquer outro, e é graças à força das suas pessoas. 

Be strong Japan.

16/03/2011

Estante à quarta (2)


Imagem daqui.

Adoro esta estante a rodear a porta. Tenciono imitar este design de estantes na minha sala, em redor das portas de vidro. É pena do outro lado da porta não ter também aquele cantinho acolhedor...

Imaginem que têm de partir o braço a alguém.

"Imaginem que têm de partir o braço a alguém.
Não interessa se o direito ou o esquerdo. A questão é que têm de partir o braço a uma pessoa, senão... Bom, isso também não interessa. Digamos apenas que se não fizerem sofrerão as consequências.
O que eu pergunto é o seguinte: partiriam o braço rapidamente - tipo, crac, ups, desculpa lá, deixa-me lá ajudar-te com essa tala improvisada - ou arrastariam todo o processo por uns bons oito minutos, aumenando de vez em quando a pressão em ligeiríssimas doses, até que a dor se tornasse cor-de-rosa e verde, quente e fria ao mesmo tempo, e absolutamente insuportável?
Exactamente. É óbvio. O correcto, a única coisa a fazer, seria tratar do assunto o mais rapidamente possível. partir o braço e depois servir o brandy como qualquer bom cidadão. É a única resposta possível.
A não ser que.
A não ser que... A não ser que... A não ser que...
Quer dizer, se odiassem a pessoa a quem pertencesse o braço? Odiassem a sério? 
Isto era algo a ter agora em conta.
Quando digo agora quero dizer naquela altura, o momento que pretendo descrever. Essa fracção de segundo antes do meu pulso ser puxado até à minha nuca e o meu úmero esquerdo se partir em pelo menos duas partes, possivelmente mais, fragilmente unidas entre si.
É que o braço de que estamos a falar é o meu. Não se trata de um braço abstracto, do braço de um filósofo. O osso, a pele, os pêlos, a pequena cicatriz branca no cotovelo, resultado de um aquecedor de uma sala de arrumações da Gateshill Primary School, tudo isso me pertence. E agora é a altura de pôr a hipótese de que o homem atrás de mim, a agarrar-me o pulso e a puxá-lo para junto da minha coluna com requintes de natureza quase sexual, em odeia a sério. Odeia-me mesmo muito a sério. 
Está a demorar imenso."

O Traficante de Armas, de Hugh Laurie, p. 9. Caderno (2007), Tradução de  João Henriques.


Quando um livro começa assim, promete!

14/03/2011

Take us to Bruges



Vi hoje esta notícia no jornal (online):


“Maria vai leiloar o recheio da casa na blogosfera para estudar no estrangeiro”


A Maria tem um sonho, estudar em Bruges, na Bélgica, e levar o gato. Para isso decidiu leiloar o recheio da casa num blogue, começando pelos livros e, "qualquer dia", até o velhinho carro poderá ser licitado.



Uma tarde, Maria estava a fumar um cigarro sentada no sofá, em casa, e decidiu: "Aqui não fico. Dinheiro não tenho. Só tenho as minhas coisas. Então vou vendê-las".
O "mega dream", como é carinhosamente apelidado na blogosfera, passa para já por fazer um mestrado em relações internacionais e estudos diplomáticos no Colégio da Europa, em Bruges, uma especialização de um ano com uma propina de 21 mil euros.



Como é óbvio, o/a jornalista não se lembrou de publicar o link, mas eu descobri-o, aqui!

Admiro a iniciativa desta jovem, e tenho uma certa inveja pela coragem. Admirações à parte, é um blog onde uma bibliófila está a leiloar livros, e portanto não foge ao tema deste blog. Vou passar a seguir e a divulgar. Tal como o Déjà Lu, é uma óptima oportunidade de arranjar livrinhos baratos e ajudar uma boa causa: o sonho da Maria e a subsistência do Gato!

13/03/2011

Excertos...


"Podemos estar confinados a um quarto no interior de um arranha-céus sem ver montanhas, nem rios, nem mar, mas enquanto correr sangue no nosso corpo, o homem vive mergulhado num fluxo igual ao da natureza."

Lua de Mel, Banana Yoshimoto, p. 98. (Tradução do italiano de Sandra Escobar)

No Reino de Glome

No Reino de Glome - Até Termos Rostos, C. S. Lewis

Título original: Till We Have Faces: A Myth Retold
Tradutora: Isabel Milhazes
Nº de páginas: 256
Editora: Cavalo de Ferro


Sinopse: «Agora já estou velha e não temo a fúria dos deuses… irei escrever neste livro tudo aquilo que uma pessoa que é feliz não se atreveria a escrever. Vou acusar os deuses, especialmente o deus da Montanha cinzenta. Vou contar tudo o que ele me fez, como se estivesse a apresentar a minha acusação perante um juíz. Eu sou Orual, a filha mais velha de Trom, rei de Glome.» 
O Reino de Glome, situado nas montanhas da fronteira com a antiga Grécia, é um reino bárbaro que pratica um culto obscuro à cruel deusa do amor, Ungit, e ao seu filho, o deus da montanha, a que os gregos chamam Afrodite e Cupido. Quando Trom, o rei, casa novamente e dessa relação nasce Psique, a sua irmã mais velha, a princesa Orual, está longe de imaginar que esse nascimento irá modificar a sua vida e o curso da história. 
Psique é de uma beleza inigualável, tão bela que o povo se esquece do culto a Ungit. A cruel deusa exige que a princesa seja oferecida em sacrifício ao deus da montanha e os acontecimentos precipitam-se… 





Opinião: Esta é uma recriação do mito grego de Eros e Psique. Segundo o próprio C. S. Lewis, quando leu este mito pela primeira achou que “faltava” alguma coisa, e decidiu-se portanto a recriá-lo. Não sabia nada deste livro quando comecei a lê-lo, por isso acho que as minhas expectativas não eram muito elevadas. O que me fez comprar o livro, além do preço quase ridículo de 3€ (exemplar novo, numa livraria) foi a belíssima edição. Achei a capa muito bonita (na imagem não dá para ver os relevos das figuras e os dourados), e quando li o primeiro parágrafo (transcrito na sinopse) fiquei imediatamente cativada pelo livro. 

No entanto esse entusiasmo inicial foi esmorecendo. Tudo nesta obra grita tragédia grega. Além do próprio enredo, com guerras entre humanos e deuses, e tarefas impossíveis (com as quais podia bem), as personagens e principalmente os diálogos e os monólogos, quase me levaram ao desespero. Numa altura estava a gostar, no momento a seguir estava quase a largar o livro. Talvez estivesse à espera de uma obra de fantasia, mas a verdade é que se trata de uma recriação de uma obra clássica, e procura de certa forma recriar o estilo clássico de escrita da tragédia grega. Não uma adaptação, que teria considerado interessante, mas sim uma verdadeira recriação. 

Confesso que com o avançar do livro fui gostando cada vez menos, até fazer o esforço para terminar. Já estava saturada de tanta tragédia grega, literalmente. 

O melhor: Fiquei a saber um pouco mais acerca deste episódio da mitologia grega. 
O pior: Fiquei saturada principalmente com os diálogos. 

2/5 – Está OK

10/03/2011

Booking Through Thursday — Multi tarefas

Fazes várias coi­sas enquanto lês? Tais como mexer comida que está no fogão, lavar os den­tes, ver tele­vi­são, cos­tu­rar, cami­nhar, etc.?
Ou sou só eu, e tu sentas-​te e não fazes mais nada a não ser focares-​te no que estás a ler?
(Ou, se fazes ambos, porquê, quando, e qual preferes?)


Bem, ler quanto cozinho não iria resultar nada bem para a comida nem para o livro! 
Normalmente não preciso de muito sossego para ler, mas por vezes distraio-me com o som da TV, por isso costumo ler com ela em mute, e vou dando uma espreitadela de vez em quando, e a mesma coisa com o computador. Leio nos transportes públicos, no meio de toda aquela confusão e barulho, e confesso que muitas vezes quando saio e o livro está cativante, leio enquanto caminho (não façam isto em casa se não tiverem uma boa visão periférica). Sempre tive o hábito de ler às refeições, e com o passar dos anos desenvolvi o vício inverso: comer enquanto leio. Cá em casa há, infelizmente, sempre algum petisco pouco saudável e altamente calórico para acompanhar as minhas leituras. 
Recentemente e devido a testemunhos de bloggers, tenho pensado cada vez mais em audiobooks, e em como gostaria de ouvir livros enquanto arrumo coisas em casa, caminho na rua (lavo os dentes, cozinho, costuro). Tanto que me pus a pesquisar sobre o assunto. O meu maior problema é saber por onde experimentar (nunca ouvi um livro sem ser em criança), por isso estou perdida. Suponho que em breve vos falarei disso.

09/03/2011

Quarta estante vs Estante à Quarta

A bagagem de mão do bibliófilo...


Imagem daqui.


É oficial, é uma rubrica semanal, em todas as semanas em que não me esquecer dela.

07/03/2011

A Rainha no Palácio das Correntes de Ar

A Rainha no Palácio das Correntes de Ar, Stieg Larsson (Millenium #3)

Título original: Luftslottet som sprängdes
Tradutor: (do inglês) Mário Dias Correia
Nº de páginas: 720
Editora: Oceanos (2009)


Sinopse: Lisbeth Salander sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com outro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no mesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas… Entretanto, mantêm-se as movimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurança sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho. Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também não está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, Anika Gianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger? Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser ameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?

Opinião: Depois da maneira arrebatadora e atordoante como termina o segundo livro desta trilogia Millenium, estava ansiosa por deitar as mãos a este terceiro e derradeiro livro. Alguns elementos mantêm-se: Lisbeth continua em maus lençóis com a justiça e a sociedade suecas, e Mikael Blomkvist continua a ser um verdadeiro amigo desinteressado. Fervoroso jornalista que se mantém empenhado em desvendar toda a conspiração que envolve a morte dos seus dois amigos e a personagem misteriosa Zala, e acaba por juntar as peças que ligam Lisbeth Salander à conspiração.

O livro começa muito bem, precisamente no ponto em que terminou o anterior, e no mesmo ritmo. No entanto, com Lisbeth hospitalizada e ao mesmo tempo detida por vários crimes, a narrativa envereda por um caminho diferente, liderado essencialmente por personagens secundárias (mas importantes) e pela investigação a partir de vários pontos de abordagem.
Entra-se então numa fase que considerei algo aborrecida, mas que admito essencial para que o leitor considere verosímil aquele que será o apogeu deste livro. Este chega com o final da investigação, com vários núcleos diferentes de investigação envolvendo várias personagens, seguido do julgamento de Lisbeth Salander.

Além deste apogeu que considerei brilhante, algumas notas que considerei muito positivas prendem-se com as personagens. Primeiro, Lisbeth Salander, claro. Sendo esta mulher o ponto forte da trilogia e a razão pela qual ela existe, este livro não podia deixar de ser afectado pelo facto desta personagem se ver impedida pelas circunstâncias de “actuar” e de brilhar sendo simplesmente Lisbeth. Mas apesar de tudo mais perto do final temos oportunidade de ver mais uma vez os seus talentos. Gostei também da derivação da narrativa da investigação para a perspectiva paralela dos desafios a Erika Berger. Não só temos a oportunidade de conhecer melhor esta personagem, que se revela ainda mais interessante, como também proporciona a intervenção de outras personagens femininas.

Estes foram os pontos que me fizeram adorar este livro, mas também há notas negativas. Já referi acima uma parte mais enfadonha que explica o funcionamento da polícia secreta sueca, mas que não só é útil como essencial para perceber toda a evolução da conspiração. A outra parte, achei essencialmente dispensável, é a “porra do Super Blomkvist”, aka, engatatão barrigudo de serviço. Sim, ele é fantástico e tudo isso, mas satura um bocado estar sempre a saber que ele, juntamente com a sua ausência de boa forma física, tendência abusiva de se envolver em situações perigosas e/ou escandalosas, capacidade de ficar dias sem dar sinais de vida e incapacidade para qualquer compromisso emocional, são extremamente sensuais e qualquer mulher se sente irrevogavelmente atraída sexualmente para este sueco.

Tirando isso, gostei muito deste livro, mas não tanto como dos dois primeiros. É pena pensar que poderiam existir dez livros em vez de três, mas, ao contrário dos dois primeiros, que deixam o final totalmente dependente da continuação, este terceiro volume termina de uma forma bem “atada”, sem pontas soltas, mas deixa um espaço aberto à imaginação. É uma excelente conclusão para uma trilogia absolutamente recomendável.

O melhor: Lisbeth Salander, claro. O julgamento e a conspiração.
O Pior: Super Blomkvist vs Mikael Blomkvist

3/5 – Gostei.

06/03/2011

Os Dragões estão a chegar....

...preparem-se para a Dança.

É oficial, e quem o diz é George R. R. Martin, o autor daquela que é a nossa saga de Fantasia favorita. Se não é, só pode ser porque ainda não a leram! As Crónicas do Gelo e do Fogo têm neste momento 4 livros publicados (8 em Portugal, onde os calhamaços foram divididos em livros transportáveis na minha carteira!), sendo que o último foi publicado no original em 2005. Desde essa altura que fans e simpatizantes esperam, e alguns desesperam, por este A Dance with Dragons.
Sim, o Martin já deu outras datas antes, como ele próprio admite na sua declaração, e muitos são aqueles que há muito desistiram de ver o livro cá fora ainda nesta vida. Mas desta vez, aparentemente, é diferente. O livro não está pronto, mas estará a 12 de Julho de 2011, e pronto para nos chegar às mãos!

Esta é a data a marcar nos vossos calendários e para preparar a encomenda no BookDepository. Muitos ainda não acreditam, e querem esperar para ver. Até lá, e para não nos distrairmos, e para não corrermos o risco de nos distrairmos e deixar passar a data (yeah sure!), arranjei esta imagem para sabermos quanto tempo falta. Hmm... não gastei assim muuuito tempo a fazê-la. Não se preocupem, o vosso pc não se vai auto-destruir quando a contagem terminar (segui o exemplo do próprio autor, esse sim deve temer pela própria vida se não puser o livro cá fora. Muahaha!).

À altura da publicação desta entrada, faltam 127 dias, 22 horas, 25 minutos e 40 segundos.
Não que alguém esteja a contar, claro :)




Outra contagem decrescente para Westeros está por conta da HBO, é mais curta, e podemos ter a certeza que não é adiada! A série com base no primeiro livro, Game of Thrones estreia já a 17 de Abril e cada vez há mais vídeos a surgir para abrir apetites. Precisamente para esse efeito, fica aqui o mais recente trailer. Estou ansiosa. Parece que 2011 é o ano de Westeros, o Inverno está a chegar. 


04/03/2011

Um Crime no Expresso do Oriente

Um Crime no Expresso do Oriente, Agatha Christie
Tradutor: Alberto Gomes
Nº de páginas: 236
Editora: Edições RBA


Sinopse: Em pleno Inverno, Poirot encontra-se em Istambul, decidido a tomar o Expresso do Oriente. Depois de uma noite mal passada, a sua tranquilidade é perturbada quando uma tempestade de neve obriga o comboio a parar e aparece o cadáver de um passageiro brutalmente apunhalado. 


Opinião: Este é apenas o segundo livro que leio da mestre do crime, Agatha Christie, depois de Morte no Nilo. É também o primeiro em que travo conhecimento com o mítico Hercule Poirot, apesar da sua fama o preceder, claro. 


Além do enredo em redor do crime, este livro conquistou-me logo pelo cenário, comboio mais famoso do mundo: o Expresso do Oriente. Adorei a maneira como cada uma das personagens (os suspeitos, portanto) foi sendo introduzida juntamente com um pedaço de informação relevante, mas aparentemente casual. 

Gostei do tom dedutivo dos diálogos e o livro prendeu-me desde o início até à última página. A única coisa que consegui adivinhar, quando estava quase no fim do livro e já se isolavam alguns suspeitos, foi que provavelmente nas poucas páginas que faltavam alguma reviravolta surgiria e mudaria tudo. E não me desiludiu. 
Tenho este livro numa edição da colecção de banca da RBA, e a qualidade é muito boa mesmo. Quer na publicação em si (capa dura e boa qualidade do papel) como da tradução e texto. 

Uma leitura leve mas absorvente, que dispensa apresentações. Recomendo.

O melhor: O raciocínio dedutivo. 
O pior: Nada que tenha identificado. 

4/5 – Gostei bastante.

03/03/2011

BTT - Batota

Fazes batota e esprei­tas o fim dos livros? (Vá lá, sê honesta)




Excelente questão. Eu, nunca! Abomino spoilers e sou capaz de cortar relações com amigos queridos devido a sessões intencionais de spoilers. Em discussões animadas de filmes e livros começo a gritar "Spoiler Alert" quando alguém se entusiasma. Em leituras mais entusiasmantes, os meus olhos querem saltar uns parágrafos, e acabo por ler umas linhas à frente (depois volto para trás, e depois volto a avançar), e quando isso acontece até tenho o hábito de pegar no marcador de livros ou num papel e tapar as linhas abaixo do que estou a ler.
Às vezes nem sinopses leio. Quando confio nas opiniões e gosto do autor, nunca leio a sinopse. Acho que às vezes revelam demasiado.

Mas é uma questão pertinente porque conheço quem faça batota.Tenho uma amiga que lê as primeiras e as últimas linhas (se possível, a página) de todos os livros que compra, e outra que tem o hábito de quando a leitura está naquela fase em que não se sabe como é possível aquilo acabar bem, não resiste a ir ler as últimas páginas. E ainda outra que adora ir à net ler o que vai acontecer nos livros que anda a ler. Acho que são doentes :)

Mas pronto, como a pergunta pede honestidade, tenho de confessar que li a última frase de um livro, assim que o comprei e antes de o começar a ler. Foi o Harry Potter and the Deathly Hallows. Tinha havido uma discussão online antes do lançamento do livro, acerca de qual seria a última palavra do último livro do Harry Potter. Algumas pessoas tinham lido aquelas cópias piratas e falsas, e diziam que era "scar", ao mesmo tempo que revelavam uma série de barbaridades que supostamente aconteciam no livro. Não resisti a verificar qual era a última palavra, mas os meus olhos leram a última frase completa, e nunca mais me esqueci: *SPOILER* "All was well."

02/03/2011

Autor vs Obra

Surgiu no fórum Bang! uma animada discussão que acabou por derivar para o seguinte tema:
Até que ponto o leitor consegue/deve separar a apreciação da obra da opinião acerca do autor?

Lembro-me de alguns casos concretos: Miguel Sousa Tavares, António Lobo Antunes. Ambos são pessoas que desencadeiam polémica com as suas declarações, e ambos são escritores de sucesso. Também José Saramago despertou ódios em muita boa gente, e algumas das pessoas que o consideraram alguém desagradável são também admiradores da sua escrita.

A verdade é que na literatura procuro não misturar as águas, e tento não partir para uma leitura influenciada pela minha opinião pessoal acerca do autor em quanto pessoa. No caso particular do MST, do qual tenho uma opinião mais definida e não muito positiva, demorei muitos anos a finalmente ler o romance Equador, mas as razões foram todas menos o facto de não simpatizar com ele. Acabei por adorar o livro, tornou-se um dos meus favoritos, e continuo a considerar MST igualmente detestável nas suas intervenções na televisão (mesmo que admita que tem razão no que diz).

Terry Goodwin, autor da saga The Sword of Truth, causou uma enorme polémica no seio dos leitores de Fantasia, com algumas declarações e tomadas de posição no mínimo "fortes" relativamente aos seus livros e à literatura do género Fantasia e com considerações políticas. As suas afirmações inflamaram a internet (onde eu descobri essas barbaridades do senhor, aqui) e os leitores de Fantástico.Com muitos leitores perdidos pelo caminho, arrisco dizer.

A questão alarga-se a outras áreas que não a literatura, por exemplo, as recentes notícias do despedimento do estilista Galliano por declarações anti-semitas e de admiração nazi. A verdade é que o talento de Galliano é reconhecido independentemente das suas convicções, mas obviamente a questão moral associada não pode ser ignorada. Mais uma vez a questão criador vs obra é difícil de gerir.
Há uns anos atrás Tommy Hilfigger foi envolvido numa polémica relacionada com alegados comentários racistas, que originou um boicote aos produtos da sua marca que durou anos. Não se verificou a veracidade desses comentários, mas milhares de pessoas no mundo inteiro não hesitaram em deixar de adquirir as peças do criador e a sua marca. 

Estou convencida que tenho conseguido separar as águas, mas tenho relutância em afirmar com certeza que se um escritor proferisse declarações como as de Galliano, ou piores ainda, eu gastaria o meu dinheiro num livro seu. 
E vocês, conseguem separar o autor da sua obra? Avaliar um livro pelo que é e ignorar a opinião que têm do seu autor?

Quarta estante


Em honra da Elphaba, que depois da última estante se mostrou desejosa de eclipsar as pilhas de livros que tem pelo quarto. As pilhas também podem ser adoráveis :)

(imagem original daqui)