Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

25/02/2011

Alex 9 - A Guardiã da Espada



Alex 9 - A Guardiã da Espada, Martin S. Braun
Colecção: TEEN
Nº de páginas: 256
Editora: Saída de Emergência



Sinopse: A caminho da frente de batalha contra os invasores, o Príncipe Dael de Brodom descansava com a sua guarda junto às margens de um lago quando um estranho fenómeno aconteceu: uma estrela despenha se no lago, e das águas emerge uma mulher quase nua que cai inconsciente nos seus braços. Será este o sinal de que uma antiga profecia se está a realizar? Sem saber porquê, a Tenente Coronel Alex 9, da 3ª Unidade de Comandos de Elite, é projectada para um planeta muito parecido com a Terra, onde uma guerra entre impérios medievais se está a travar. Aparentemente, a chegada de Alex à Segunda Terra despoletou uma miríade de consequências políticas que estão ainda longe de fazer sentido. Ao longo deste volume, repleto de batalhas com espadas e armas magnéticas, as linhas de trama começam a cruzar se e descobrimos um conflito que se prepara há séculos. Mas onde levará?

Opinião: Não sei o que dizer em relação a este livro. Não há qualquer indecisão quanto a um ponto: gostei muito desta leitura! Há algum tempo que não me surgia uma leitura escrita verdadeiramente em fantasia. Mas por outro lado não consegui deixar de considerar alguns pontos que teriam beneficiado de um amadurecimento da escrita do autor. Martin S. Braun apresenta-nos uma mistura de diversas culturas, universos e mesmo contextos temporais, que me deliciou na originalidade. Não tanto dos elementos separadamente (mas também) mas principalmente pela maneira graciosa como foram interligados.

Temos essencialmente duas realidades principais que se misturam logo nas primeiras páginas. De um lado temos o elemento clássico da fantasia: uma terra medieval, com territórios rivais e governantes reais, o fascínio e temor pela magia e pelo inexplicável, as personagens fortes e cativantes que lideram batalhas ou lideram nos caminhos mais discretos da intriga. Do outro lado temos uma realidade futurista, num cenário de expansão da civilização humana pelos planetas do nosso sistema solar. E como é próprio da natureza humana, tal como no contexto medieval, também no contexto do futuro espacial os homens de guerreiam por recursos e poder. A unir estes dois elementos temos Alex 9, uma guerreira de armas laser e plasma e exímia em artes marciais. Por algum truque do destino, a rota da nave onde viaja, para fugir da batalha em Marte no fim da sua missão, é radicalmente alterada e a programação da sua cápsula de hibernação é alterada. Alex acorda de uma sesta de 200 anos, ao aterrar num planeta de outro sistema, mas em tudo semelhante à Terra, com habitantes em tudo semelhantes aos seres humanos que conhece. A aventura começa e Alex começa a descobrir que talvez tenha uma missão em tudo diferente das que sempre teve. Entrelaçadas nestas duas tapeçarias distintas encontramos também a cultura oriental e também uma pitada de cultura árabe, de uma forma que me encantou.

Se adorei o conceito deste livro e a generalidade da escrita do autor, existiram alguns elementos que me custaram a digerir, principalmente algumas características mais jovens da escrita e o ritmo acelerado da história. Se por um lado me deixou cheia de vontade de continuar a ler, por outro sentia que sempre que estava a cativar-me o ponto de vista de uma personagem, terminava o capítulo e surgia a visão de outra. Penso que não tive em mente que este é um livro direccionado para público mais jovem, e isso me impediu um pouco de aproveitar a leitura. A verdade é que não conseguia deixar de pensar que o autor tem potencialidades para escrever uma grande obra de fantasia, e isso me cegou um pouco para o óptimo livro que estava a ler, dentro do seu género. Não leio muitos livros para jovens adultos, mas penso que o que na maioria dos casos esses livros carecem de maturidade sob a forma do universo em que se passam (em regra pouco elaborado e não muito extenso) e das personagens jovens e imaturas. Neste caso, penso que Alex 9 tem um contexto muito mais próximo de High Fantasy do que de Young Adults, bem como as excelentes personagens que foram criadas, mas que no entanto é apresentado com alguns elementos de escrita mais leve e juvenil. Daí achar que o este autor tem inequivocamente potencial para muito mais (não desprestigiando o género juvenil). Uma nota muito especial para as descrições de momentos de acção e batalha, que achei bastante precisos, plenos de movimento, e no fundo um ponto forte do livro (apesar de na minha opinião pessoal achar que uma edição mais pesada na escrita propriamente dita teria sido vantajosa).

Penso que este primeiro volume peca por demasiado introdutório, isto é, introduz muitas pistas e desafios para o leitor, sem chegar a desenvolver nenhuma linha em particular e sem oferecer respostas. O resultado foi uma leitora muito sedenta de informação e muito frustrada quando chegou ao fim do último capítulo!  Mas ao mesmo tempo já rendida às personagens e aos mistérios que se adensam. Fiquei imediatamente comprometida moral e existencialmente a ler o segundo volume assim que tiver oportunidade. É um livro que recomendo, e que foi sem dúvida uma surpresa, uma vez que parti para a sua leitura com um espírito muito céptico. A escrita de Martin S. Braun destruiu as minhas ilusões logo nas primeiras páginas.

O melhor: A graciosidade com que foram incluídas tantas vertentes culturais distintas, enriquecendo a história.
O pior: Sem dúvida o cariz mais jovem da escrita, em alguns pontos.

4/5 – Gostei bastante

Bang! 9

A Bang! 9 está já disponível nas Fnacs em todo o país, e em encomendas pelo site da Saída de Emergência. 

Graficamente a revista mantém e ainda supera o nível da edição 8, e certamente que o mesmo acontecerá com o conteúdo. Estou desejosa de lhe pôr as mãos em cima. Aqui fica a capa da revista, excelente por sinal!


A apresentação oficial deste número da revista trimestral do Fantástico vai decorrer às 21.30 de dia 4 de Março, na Fnac Colombo, em Lisboa. Caso tenham oportunidade, não deixem de dar um saltinho.
Os conteúdos prometem e esta edição dá algum destaque à comunidade blogger de amantes e leitores de livros. Além de um artigo que refere a importância crescente das críticas online (referenciado pelo Tiago aqui), a Bang! reservou um espaço de opiniões de alguns bloggers (incluindo esta Bibliófila). É a não perder, meus caros! :)  E relembro que é totalmente gratuita. Não há desculpas. 

24/02/2011

Booking Through Thursday — Algo novo, algo velho

Não havendo diferenças significativas - preferes livros usados? Ou livros novos? (refiro-me ao volume em si, não à antiguidade do título). A tua preferência faz-te notar as diferenças entre um livro usado normal e um exemplar novinho em folha, com capa em couro?


Quando se tratam de livros especiais e quando tenho condições para isso, gosto de comprar as edições mais “pomposas”, mas é muito raro. Por outro lado, tenho imensos livros que comprei em segunda mão. Na verdade, muitos foram comprados em alfarrabistas, e portanto nem tenho ideia quantas mãos por eles passaram. Obviamente quando o preço é semelhante entre exemplares novos e usados de edições equivalentes, opto pelos livros novos, mas quando se trata de livros semelhantes, não me incomoda adquirir um usado. Tenho adquirido o hábito de comprar livros de publicação recente em alfarrabistas por mesmo por leilão ou compra directa pela net. Penso que será o efeito da crise: muita gente deve comprar os livros para ler e rapidamente procura recuperar parte do dinheiro, eu procuro pagar menos por um livro recente e em bom estado. Não me incomoda minimamente que já tenha tido outro novo, desde que este o tenha tratado bem.
Frequento também alfarrabistas para encontrar aqueles livros que dificilmente encontro em livrarias, e confesso que adoro livros antigos. Só o cheiro ambiente entrar num alfarrabista me fascina e me faz demorar. Portanto não tenho preferência, e até gosto de comprar livros usados, mas desde que estejam em condições. Apesar de adorar livros antigos e bastante usados, dificilmente compro um que se esteja a desfazer, a não ser que seja o único que consigo encontrar! Já me aconteceu comprar um exemplar do Exodus, de Leon Uris, que procurei durante imenso tempo, e que estava um pouco (bastante) maltratado. Não me podia dar ao luxo de o rejeitar :)

22/02/2011

Déjà Lu, por uma boa causa

Venho partilhar convosco um blog que descobri recentemente.
É o Déjà Lu.
Trata-se um blog de leilões de livros já lidos e cedidos ao blog, revertendo o resultado dos leilões a favor da APPT21 (Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21) e para o Centro de Desenvolvimento Infantil DIFERENÇAS.
Todos nós gostamos de adquirir livros a bom preço e em bom estado. Melhor ainda quando isso constitui uma contribuição importante. E tem bons livros! O último leilão a ter sido postado tem 2 livros que li e gostei muito, A Imperatriz Orquídea e o primeiro livro da Saga dos Otori. Dêem uma vista de olhos, vale a pena.

21/02/2011

Verdade ou Consequência? A Casa das Sete Mulheres

Depois da Célia do Estante de Livros, desta vez fui eu a desafiada a escolher “Verdade ou Consequência”, a rubrica mensal do Este meu cantinho... . Escolhi "Consequência", ficando assim “intimada” a ler um livro e escrever a minha opinião. A WhiteLady sugeriu-me o tema História, e como tenho na minha pilha muitos romances históricos o difícil foi escolher! O recém-adquirido (mas desejado há muito) A Casa das Sete Mulheres, de Leticia Wierzchowski, foi o escolhido.


Este livro retrata um período da História do Brasil que ficou conhecida como a Revolução Farroupilha, de uma perspectiva muito feminina. O descontentamento dos fazendeiros do Rio Grande do Sul, província do Império do Brasil, relativamente ao preço da carne e à escravatura negra, desencadeia uma revolta militar liderada pelo General Bento Gonçalves da Silva e com o apoio de outros militares, com o objectivo a deposição do Governador. Essa revolta evoluiu para uma Revolução anti-império, e através de uma série de acontecimentos e batalhas é proclamada a República do Rio Grande do Sul. Uma guerra entre Republicanos e Imperiais instala-se e parece não ter fim, que ficou conhecida como Revolução Farroupilha.

A Casa das Sete Mulheres é um romance que foi adaptado à televisão sob a forma de uma série de TV da Rede Globo. Quando vi a “novela”, em 2003, adorei e passei os 52 episódios agarrada a esta história de mulheres fortes e homens garbosos. Desde essa altura que tencionava ler o livro, mas a verdade é que nunca o vi à venda. Mais recentemente, nos últimos anos, procurei deliberadamente comprar uma cópia, mas não consegui encontrá-lo em lado nenhum. Tive imensa sorte em encontrá-lo no WinkinBooks, apesar de até o ler não saber bem quanta.
A verdade é que adorei este livro. A narrativa é deslumbrante e as personagens são magistralmente construídas. O ritmo da narrativa é por vezes errático, com avanços e recuos, pontos de vista da guerra e notícias que chegam de boca em boca, e cartas que são lidas antes dos acontecimentos que descrevem nos serem contados. A narração do ponto de vista de várias personagens é intercalada com os cadernos de Manuela, a protagonista e eterna Noiva de Garibaldi, que por sua vez tanto se referem ao tempo passado na estância como têm lugar décadas depois da guerra.
A escrita de Letícia Wierzchowski é deliciosamente descritiva. Quando lemos as linhas que enquadram a vida na estância quase que sentimos o vento minuano a soprar, os cheiros das plantas e o tom amarelo da paisagem. Quando nos é permitido visitar o cenário da guerra, as descrições são detalhadas e precisas, mas sempre incrivelmente bem escritas, numa prosa quase poética.
Sendo uma fan dos romances históricos, adoro a concretização do perfeito compromisso entre verdade histórica e o romance e a ficção. Este livro trouxe-me isso mesmo.
Além de um entretenimento viciante e ser praticamente uma “degustação” da linguagem, é também uma boa dose de História, que adorei experienciar.
Dei por mim a pesquisar na net mais informação sobre esta época da História brasileira, de tal forma a escrita me cativou para este tema. Além de ficar com uma noção bastante precisa do que significou este período da História do Brasil, e de me ter apaixonado pelas personalidades que lhe deram forma, senti-me conquistada pela riqueza da Língua Portuguesa. Neste livro deparei-me com imensas expressões regionais do Rio Grande do Sul, algumas usadas ainda hoje, que no português de Portugal são consideradas arcaicas. Deliciei-me com esta linguagem, e de facto o português é uma língua tão rica que é uma pena que algumas palavras deixem ter utilização corrente por cá.

A história começa com o convergir das personagens nos campos que vão constituir a duas frentes do rumo dos acontecimentos: enquanto os homens da família de Bento Gonçalves, o líder da Revolução Farroupilha, se reúnem para a guerra que se aproxima, as mulheres viajam das suas casas na cidade para se refugiarem da guerra na Estância da Barra, propriedade de D. Ana Joaquina, irmã de Bento Gonçalves. Com D. Ana viajam a irmã mais nova, D. Maria Manuela, e as suas três jovens filhas, Rosário, Mariana e Manuela. Juntamente com a cunhada D. Caetana, esposa de Bento, a filha mais velha, Perpétua e os 4 filhos crianças. Estas são as 7 mulheres que vão passar os anos da guerra numa estância no pampa gaúcho (juntamente com D. Antônia, irmã mais velha de Bento, Ana e Maria, proprietária da Estância do Brejo, a poucos minutos a cavalo da Estância da Barra). A história termina com o final da guerra, que se arrastou por 10 longos anos. Dez anos repletos de tristezas próprias da guerra, algumas alegrias, e principalmente acontecimentos que mudaram de forma irrevogável as vidas destas mulheres e da sua família.
O destino desta família é o reflexo do que aconteceu no Rio Grande nestes dez anos, uma região que não voltou a ser a mesma, tal como as pessoas que viveram esta guerra. O que aconteceu nestes dez anos, terão de descobrir por vós próprios. É um livro que recomendo sem reservas.

Uma nota final para referir que descobri no final da leitura que existe uma continuação publicada. Um Farol no Pampa é a continuação escrita por Letícia Wierzchowski, que infelizmente não está publicada em Portugal, mas que quero muito ler (e penso que será quase impossível encontrar A Casa das Sete Mulheres à venda nas livrarias, por isso não espero uma edição portuguesa). Estou a pensar mandar vir pela Wook a versão brasileira. 

17/02/2011

Booking Through Thursday: Romance

"Qual foi o livro mais romântico que leste?
(E não me refiro ao material mais explícito que escondes debaixo do teu colchão. Refiro-me ao Verdadeiro Amor, ao Romance profundamente emocional, que fala ao coração e tudo isso.)
Em segundo lugar, gostaste da leitura? É o tipo de livros que costumas ler, ou constituiu uma surpresa?"

 Devo confessar que sou uma romance-junky. Na vida real, nos filmes e nos livros, adoro uma boa dose de romance. Mas raramente leio livros cujo contexto principal é apenas o romance entre os protagonistas. Isto é, uma boa dose de romance, bem escrito e desenvolvido, pode transformar um livro num dos meus favoritos, ao passo que um livro cuja única linha de acção é constituída pelos avanços e recuos do par amoroso, em direcção ao final feliz será provavelmente uma leitura medíocre para mim. Tenho uma certa dificuldade em escolher o livro mais romântico que já li, mas a trilogia Sevenwaters, de Juliet Marillier, tocou-me profundamente (principalmente O Filho das Sombras) e fez-me suspirar inúmeras vezes nas várias leituras que fiz. Mais recentemente, A Mulher do Viajante no Tempo, de Audrey Niffenegger fez-me chorar pela noite dentro e significou uma leitura intensa. Orgulho e Preconceito é também um dos livros que considero capaz de fazer suspirar um leitor romântico. 

16/02/2011

Quarta-Estante

Outra estante verdadeiramente desejável, nesta quarta-feira.

(Imagem original aqui)

10/02/2011

Booking Through Thursday - Primeiros Passos

"Há algo maravilhoso no acto de 'descobrir' um autor em início de carreira - em ser dos primeiros a ler a sua obra e a admirar o seu talento, antes de se tornarem conhecidos.
Que autores tiveste a sorte de descobrir no início das suas carreiras? E, se nunca tiveste essa oportunidade, que autor gostarias de ter descoberto mesmo no príncipio?"

Não posso dizer que tenha seguido a carreira de nenhum autor desde o início, desde a sua estreia. No geral,  os meus autores favoritos são estrangeiros, e tenho conhecimento da sua obra quando já têm algum reconhecimento internacional que estimule a sua publicação em português. Penso que as escritoras cuja carreira acompanho há mais tempo são Juliet Marillier e J. K. Rowling. Quando as conheci, ambas já tinham 4 livros publicados, e como tal, já tinham algum sucesso, mas posso dizer que pertenci ao grupo de fans portugueses que as acompanhou desde a sua estreia em Portugal. Conta para alguma coisa? 

Não se há algum autor que gostava de ter acompanhado desde o início, apenas pelo pequeno prazer de poder dizer "eu já gostava antes de ele ser conhecido". Entendo perfeitamente esse sentimento, mas acho que os autores que gostava de ter conhecido há mais tempo, é unicamente porque gostava de ter tido o prazer de conhecer aqueles livros há mais tempo! 

09/02/2011

Quarta estante...

A acompanhar a quarta estante, que tal trazer o resto da mobília para uma sala acolhedora como esta?

Imagem original aqui
(até que os Macs antigos dão uma certa graça)

07/02/2011

Juliet Marillier em Portugal

Em 2008, foi assim:


E em 2011 voltaremos a ver esta imagem! Seguramente com outra paisagem que não Sintra, mas teremos a nossa Juliet rodeada de fans portugueses.
Ainda não há muitos detalhes, mas já existem datas marcadas: anotem nas vossas agendas os dias de 4 a 7 de Julho de 2011, que a nossa escritora favorita vem visitar os seus fans favoritos!
São boas notícias ou não são? :)

05/02/2011

Porto Book Stock Fair

Porto Book Stock Fair - Pavilhão Rosa Mota

4 a 28 de Fevereiro de 2011




Programa




Sexta-feira, 4 de Fevereiro

13H00 - Abertura ao público
15H00 - Inauguração oficial do certame


Sábado, 5 de Fevereiro

13H00 - Início do “Livro (em) Directo”
Uma iniciativa inédita - o escritor e poeta Pedro Chagas Freitas vai estar a escrever durante 24 horas non stop: em frente ao seu computador, instalado numa cabina no interior do recinto, ele terá de, durante 24 horas, sem parar, escrever um livro (um capítulo por hora): O público pode assistir ao avançar da história ao vivo, através de ecrãs que transmitem aquilo que está a ser escrito na hora e em directo
21H00 - “Livro (em) Directo” no lounge do Hotel Infante de Sagres


Domingo, 6 de Fevereiro

13H00 - Encerramento do “Livro (em) Directo”, com apresentação da obra pelo autor, Pedro Chagas Freitas
17H00 - Uma conversa com Richard Zimmler, sobre o seu novo livro “Dança Quando Chegares ao Fim”


Sexta-feira, 11 de Fevereiro

14H30 - Oficina de Escrita Criativa
18H00 - Escritores da Nova Neração: uma conversa com João Tordo, moderada pelo jornalista Sérgio Almeida


Sábado, 12 de Fevereiro

15H00 - Hora do Conto: histórias para crianças contadas por Ana Oliveira


Segunda-feira, 14 de Fevereiro

15H00 - Passatempo Dia dos Namorados – “Um Poema com Amor”


Sexta-feira, 18 de Fevereiro

15H00 - Atelier de Ilustração para séniores


Sábado, 19 de Fevereiro

15H00 - Hora do Conto: histórias para crianças contadas por Anabela Mimoso


Sábado, 26 de Fevereiro

15H00 - Atelier de Ilustração para crianças
17H30 - Primeiros Romances: uma conversa com jovens escritores à volta do seu primeiro romance


Domingo, 27 de Fevereiro

17H30 - Apresentação do livro “A Escrava de Córdova”, de Alberto S. Santos. Sessão de autógrafos



- 20 Dias. 20 Livros (cada dia uma obra seleccionada com desconto especial)
- Corner da Literatura do Fantástico
- Lounge Literário
- Exposição de pintura e ilustrações de Helena Veloso (de 4 a 28 de Fevereiro)





Horário: Diariamente, entre as 13 e as 20 horas.



Entrada livre.


edit: Estive lá hoje (dia 7), e a Feira tem muitas novidades a preços "de feira" que pouco mais são do que o preço de editor. Mas tem uma mesa com livros com 30% de desconto, incluídos na iniciativa 20 dias=20 livros. Tem também algumas mesas cobertas de livros a preços baixos (até 1,5€, 5€, 7,5€...) que suponho tenham sido as sobras da festa na Fundação Cupertino de Miranda. Mas tem também muita coisa boa e barata que não  chegou à Fundação. Acho que vale a pena uma visita, sem dúvida.

04/02/2011

2666, Roberto Bolaño


2666, Roberto Bolaño

Tradução: Cristina Rodríguez e Artur Guerra

Editora: Quetzal (2009)


Sinopse:

O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterioso escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666.

Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis.  


Opinião: Demorei praticamente um mês a percorrer as mais de mil páginas deste enorme livre. Além de ter sido o maior livro que já li na íntegra, foi também um livro como nunca tinha lido. Fazer uma análise deste livro é uma tarefa de uma enormidade inglória e nem sequer pretendo fazê-lo. A verdade é que escrever uma simples opinião pessoal acerca desta leitura é-me extremamente difícil e fica aquém de qualquer texto que consiga construir.


As suas histórias são histórias dentro de outras histórias, com outras histórias dentro. Roberto Bolaño constrói uma teia ambiciosa com as suas palavras (que sentimos faladas, mais do que escritas), e o leitor é a mosca atraída para essa teia, e que fica capturada nela, juntamente com as dezenas de personagens que o acompanham. Essas histórias afastam-se da narrativa central, arrastando o leitor consigo, por vezes em saltos de narrativa que nos fazem esquecer por momentos quem estamos a seguir. Mas ao invés de ficarmos confusos e perdidos, quando voltamos à personagem e ao cenário de onde partimos é como se tivéssemos andado viajando, regressando naturalmente ao ponto de partida. A linguagem é tão própria e magnetizante que nos mantém no rumo, mesmo sem percebermos que rumo é esse. 

Sinto que Bolaño escreve com a alma mais do que com a cabeça. Escreve sem travão, acerca de tudo o que decidiu despejar no texto de forma paralela à narrativa principal, e seguimos as estradas secundárias sobre a angústia humana, sobre injustiça, amor, dinheiro, violência e medo (da morte, de viver, de ser maltratado, de ser rejeitado, de perder e de ganhar), poder, história, cultura contemporânea, máquinas de escrever, tuberculose e Hitler. Seguimos a vida das personagens e das acções que motivam o desenvolvimento da história, mas somos constantemente deslocados dessas acções para uma saída de exploração ao interior das personagens ou em direcção a outras, e às tantas o autor regressa de repente à estrada principal como se nunca dela tivesse saído.
É um livro com um ritmo próprio, para ler com toda a disponibilidade para que se possa saborear a linguagem e todo o conteúdo. 
Contém uma enorme dose da cultura latino-americana, quer seja na linguagem empregue, no contexto das narrativas ou no estado ao mesmo tempo alegre e melancólico das personagens e do tempo.  Por outro lado, é ao mesmo tempo profundamente europeu, reflectindo muito percurso do próprio escritor. Tenho vontade de transcrever excertos inteiros para que me entendam como este livro é fenomenal.


Está dividido em 5 partes, aparentemente distintas. 

Livro I - A Parte dos Críticos. 
Começamos com a história de 4 estudiosos das letras, particularmente literatura alemã, que são unidos pela sua devoção à obra do escritor Benno von Archimboldi, um obscuro escritor do qual ninguém sabe quase nada e que nunca ninguém viu. Sabe-se apenas que é magro e incrivelmente alto. Em redor da paixão pelo escritor alemão, o francês Pelletier, o espanhol Espinoza, o italiano Morini e a inglesa Liz Norton vão desenvolver uma relação de amizade e cumplicidade que ultrapassa a devoção académica. Na busca por Archimboldi, Pelletier, Espinoza e Liz viajam até ao México (Morini, dono de uma saúde frágil, permaneceu, não por acaso, em Itália), mais concretamente a uma brutal e árida cidade perto da fronteira, Santa Teresa, onde se diz que o escritor teria estado. Qualquer semelhança com Cidade Juarez não é pura coincidência. Em Santa Teresa, os críticos tomam conhecimento da terrível onda de brutais homicídios de mulheres, além de conhecerem Óscar Amalfitano, um chileno, originário de Barcelona que traduziu para castelhano uma das obras de Archimboldi, não sendo no entanto grande entusiasta do escritor.


Livro II - A Parte de Amalfitano.
O professor universitário em Barcelona cuja mulher o deixou com a sua filha Rosa ainda bebé, muda-se para Santa Teresa, no norte do México. Numa cidade próspera, onde o desemprego é quase inexistente, Amalfitano sente o ambiente pesado e sombrio da cidade e preocupa-se com a segurança da sua jovem filha, que por sua vez se preocupa com a sanidade mental do seu não tão jovem pai, que pendurou um livro de geometria no estendal da roupa. E aí o deixou ficar.


Livro III - A Parte de Fate
A mãe de Fate morreu. A notícia da sua morte por ataque cardíaco foi-lhe dada por uma vizinha da mãe em Harlem, que no mesmo telefonema sofre ela própria uma paragem cardíaca, acabando por ter o mesmo destino. Fate é um jornalista afro-americano de uma revista "negra", que normalmente escreve sobre temas político-sociais relacionados com sua comunidade, mas devido ao homicídio do seu colega da secção de desporto, é enviado para Santa Teresa, México, para fazer a cobertura de um combate de boxe. Em Santa Teresa, Fate envolve-se no andamento sombrio e perigoso da cidade, juntamente com alguns colegas de profissão mexicanos e compatriotas não jornalistas. Algures entre a melancolia e as drogas e o sexo, Fate conhece a rapariga mais bonita que já teve a sorte de colocar os olhos em cima. Mas Rosa Amalfitano está, sem se aperceber, a enredar-se na atmosfera perigosa e doentia da cidade, que Fate detecta assim que chega a Santa Teresa. Também detecta que nenhuma mulher bonita está totalmente a salvo em Santa Teresa.


Livro IV - A Parte dos Crimes
As centenas de homicídios brutais que acontecem em Santa Teresa ao longo de anos são a base deste volume do livro. São relatos específicos, quase relatórios das brutais violações e actos de violência que culminam na morte miserável de centenas de mulheres. A idade das vítimas varia entre os 10 e os 40 anos, e se a maioria delas são mulheres trabalhadoras, operárias nas "maquilladoras" de Santa Teresa, são também prostitutas ou acompanhantes de luxo, ou mulheres de educação superior e nível social mais elevado. Os crimes são pobremente investigados, uns mais que outros, mas ainda assim é possível concluir que os criminosos são inúmeros e os crimes são diferentes. Têm apenas em comum o sexo das suas vítimas e a perversidade dos assassinos. Não obstante, surge um suspeito, alemão naturalizado norte-americano, que é acusado de algumas das mortes, e encerrado na prisão de Santa Teresa.


Livro V - A Parte de Archimboldi.
Hans Reiter nasceu na Prússia, depois da primeira guerra, filho de pai coxo e mãe zarolha. Aos 10 anos de idade, quando nasce a sua adorável e ternurenta irmã, Hans já é um jovem da mesma altura dos rapazes de 12 da sua aldeia e mais alto que a maioria dos de 15. Hans desiste da escola e vai trabalhar na ajuda à manutenção da casa do Barão von Zumpe, onde a biblioteca da família começa a atraí-lo como a escola não fez. Até a guerra chegar novamente e ser incorporado na Frente do Leste do exército alemão.
Após a guerra, Hans Reiter envolve-se na primeira relação amorosa, ao mesmo tempo que começa a escrever. Ao enviar o seu primeiro manuscrito para uma editora, decide-se pelo nome de Benno von Archimboldi.

Muito (bastante, extremamente, estupidamente) resumido, é disto que se trata 2666. No entanto, esta obra fala de muito, muito mais. É como um iceberg: encerra no seu interior muito mais do que poderíamos conseguir adivinhar ao observar a superfície. Tem muito mais conteúdo do que as suas 1030 páginas conseguem abarcar. O discurso tem frequentemente um tom mordaz e irónico, e constitui um retrato bastante acutilante de muitos aspectos negativos da sociedade mexicana e da natureza humana no geral. Deixa-nos a pensar mesmo muito tempo depois de fecharmos as suas páginas.



Abro um pequeno parênteses para referir que nesta última fase do livro, a parte de Archimboldi, a escrita de Bolaño assume um carácter ainda mais mordaz e irónico. Chegando mesmo a ser espirituoso, como se a personalidade de Archimboldi/Reiter de emiscuisse na escrita, ou como se a escrita de Bolaño nesta fase tivesse influenciado a personagem. Deixo aqui um "pequeno" excerto que adorei:

"O editor, que se chamava Michael Bittner, mas que gostava ou que lhe agradava que os amigos o tratassem por Mickey, como o ratinho, explicou-lhe que um bombardeamento de saturação era quando um monte de aviões inimigos, mas um monte grande, enorme, superlativo, lançava as suas bombas sobre uma faixa de terreno na frente um bocado de campo previamente delimitado, até que dele não restasse nem uma folha de erva. 
- Não sei se me expliquei com clareza, Benno - disse ele olhando fixamente Archimboldi nos olhos.
- O senhor explicou-me com clareza total, Mickey - disse Archimboldi, ao mesmo tempo que pensava que o tipo em questão não era só chato, como também ridículo, com aquela ridicularia que só os histriões têm e os pobres-diabos convencidos de ter participado num momento determinante da História, quando é bem sabido, pensou Archimboldi, que a História, que é uma puta simples, não tem momentos determinantes, mas é sim uma proliferação de instantes de brevidades que rivalizam entre si em monstruosidade."

O autor, com o conhecimento da morte bastante próxima, tentou a todo o custo deixar a obra terminada, principalmente como legado financeiro para os seus herdeiros. As suas instruções foram para publicar as 5 partes individualmente, de forma a permitir uma maior segurança financeira aos herdeiros. No entanto estes decidiram acatar a opinião do seu amigo e editor, que a apreciação da obra só faria sentido como um todo e publicaram o livro único. Sobre o autor, deixo aqui uma ligação ao blog Bibliotecário de Babel, com um artigo interessante acerca de Bolaño e de 2666, pelo José Mário Silva.


Foram precisas seguramente mais de 100 páginas para eu me aperceber duma particularidade que é a principal característica "física" da escrita deste livro. Fiquei espantada por só após tanto texto lido (e este livro tem letra bem pequena e margens reduzidas) me ter apercebido e com a maior das naturalidades, que a escrita de Bolaño não apresenta parágrafos. Chegam a ser páginas e páginas de texto contínuo. Com o uso magistral da vírgula, com travessões e aspas a introduzir os diálogos (mas nem sempre). Depois de ouvir tanta gente afirmar que José Saramago, que nunca li, é difícil de ler devido aos diálogos corridos, frases longas e à ausência de parágrafos, fiquei naturalmente surpreendida. Dei-me ao trabalho de ir procurar algum livro de Saramago que sei que havia em casa dos meus pais (já desviado para a minha, claro!). Encontrei O Ano da Morte de Ricardo Reis (eu ia jurar que também tínhamos o  Memorial do Convento) e sem ler o texto, comparei a estrutura. É que a estrutura da prosa de Roberto Bolaño, sendo semelhante, é deliciosa.  Depois lá me lembrei que apesar das várias vozes que afirmam que José Saramago é "seca" e difícil de ler, tantas ou mais o veneram, e a palavra Nobel surgiu-me por fim. Fiz uma nota mental para ler Saramago o mais rapidamente possível. 
Enquanto não leio o Nobel, posso dizer que a escrita de Bolaño, pela ausência de pontos finais e parágrafos, se torna alucinante e de uma velocidade estonteante (indo ao encontro à escrita sem travão, que referi acima). Ao mesmo tempo evoca a naturalidade do discurso associado ao raciocínio, sem pausas nem limitações, e passando brevemente do narrador para o diálogo.


Com a leitura deste livro decidi, e já implementei, que vou passar a andar sempre com post-its colados no livro que estou a ler (daqueles bons, que colam bem sem estragar o papel, o que é que pensam?), e marcar a página de alguma passagem particularmente especial. Isto porque ao longo deste livro abundaram as passagens deliciosas. Sei que é um livro no qual vou pegar mais vezes, quando tiver vontade, mas para já, deixo-vos aqui uns excertos que já estavam publicados na net, e que apesar de não terem sido escolhidos por mim, bem que poderiam ter sido.


Excerto da parte I:

"A certeza porém foi que nem Pelletier nem Espinoza visitaram Norton no seu quarto nem uma única vez, pelo contrário,o quarto que Espinoza visitou, uma vez, foi o de Pelletier, e o quarto que Pelletier visitou, duas vezes, foi o de Espinoza, entusiasmados como crianças perante a notícia que se espalhava mais depressa do que um rastilho de pólvora, do que uma bomba atómica, pelos corredores e pelas reuniões em petitcomitédas jornadas, ou seja, que Archimboldi era candidato ao Nobel naquele ano, uma coisa que para os archimboldistas de todos os lados era não só um motivo de imensa alegria como também um triunfo e uma vingança. A tal ponto que foi em Salzburgo, precisamente, na Cervejaria O Touro Vermelho, durante uma noite cheia de brindes, que se assinou a paz entre os dois grupos principais de estudiosos archimboldianos, isto é, entre a facção de Pelletier e Espinoza e a facção de Borchmeyer, Pohl e Schwarz, que a partir de então decidiram, respeitando as suas diferenças e os seus métodos de interpretação, juntar esforços e não voltarem a passar rasteiras uns aos outros, o que expresso em termos práticos queria dizer que Pelletier já não vetaria os ensaios de Schwartz nas revistas onde ele mantinha um certo ascendente, e Schwartz já não vetaria os trabalhos de Pelletier nas publicações onde ele, Schwartz, era considerado um deus."

Excerto da parte IV:
"Viver neste deserto, pensou Lalo Cura enquanto o carro conduzido por Epifanio se afastava do descampado, é como viver no mar. A fronteira entre Sonora e o Arizona é um grupo de ilhas fantasmagóricas ou encantadas. As cidades e as aldeias são barcos. O deserto é um mar interminável. Este é um bom sítio para os peixes, sobretudo para os peixes que vivem nas fossas mais profundas, não para os homens."


Excerto da parte V:

"Toda a obra menor tem um autor secreto e todo o autor secreto é, por definição, um escritor de obras-primas. Quem é que escreveu tal obra menor? Aparentemente um escritor menor. A mulher deste pobre escritor pode testemunhar isso, ela viu-o sentado à mesa, inclinado sobre as páginas em branco, a retorcer-se e a deslizar a sua caneta sobre o papel. Parece uma testemunha irrebatível. Mas o que ela viu é só a parte exterior. A carapaça da literatura. Uma aparência – disse o velho ex-escritor a Archimboldi e Archimboldi lembrou-se de Ansky. – Quem na verdade está a escrever essa obra menor é um escritor secreto que só aceita os ditados de uma obra-prima.
O nosso bom artesão escreve. Está enfronhado naquilo que vai plasmando bem ou mal no papel. A sua mulher, sem que ele o saiba, observa-o. Efectivamente, é ele quem escreve. Mas se a sua mulher tivesse uma visão de raios X aperceber-se-ia de que não assiste propriamente a um exercício de criação literária, mas sim a uma sessão de hipnotismo. No interior do homem que está sentado a escrever não há nada. Nada que seja ele, quero dizer. Quão melhor faria esse pobre homem dedicando-se à leitura. A leitura é prazer e alegria de estar vivo ou tristeza de estar vivo e sobretudo é conhecimento e perguntas. A escrita, em compensação, costuma ser vazio. Nas entranhas do homem que escreve não há nada. Nada, quero dizer, que a sua mulher, num dado momento, possa reconhecer. Escreve por ditado. O seu romance ou poemário, decentes, decentezinhos, saem não por um exercício de estilo ou vontade, como o pobre desgraçado julga, mas sim graças a um exercício de ocultamento. É necessário que haja muitos livros, muitos pinheiros encantadores, para que escondam de olhares avessos o livro que realmente importa, a maldita gruta da nossa desgraça, a flor mágica do Inverno!
Desculpe as metáforas. Às vezes excito-me e fico romântico. Mas escute. Toda a obra que não seja uma obra-prima é, como lhe dizer, uma peça de uma vasta camuflagem. Você foi soldado, calculo, e já sabe ao que me refiro. Todo o livro que não seja uma obra-prima é carne para canhão, infantaria esforçada, peça sacrificável dado que reproduz, de múltiplas maneiras, o esquema da obra-prima. Quando compreendi esta verdade deixei de escrever. A minha mente, porém, não deixou de funcionar. Pelo contrário, ao não escrever
funcionava melhor. Perguntei-me: porque é que uma obra-prima precisa de estar oculta?, que estranhas forças a arrastam para o segredo e o mistério?
Já sabia que escrever era inútil. Ou que só valia a pena se uma pessoa estiver disposta a escrever uma obra-prima. A maior parte dos escritores engana-se ou brinca. Talvez enganar-se e brincar seja a mesma coisa, as duas faces da mesma moeda. Na realidade, nunca deixamos de ser crianças, crianças monstruosas cheias de dói-dóis e de varizes e de tumores e de manchas na pele, mas crianças afinal, isto é, nunca deixamos de nos agarrar ferreamente à vida dado que somos vida. Também se poderia dizer: somos teatro, somos música. De igual maneira, pouco são os escritores que renunciam. Brincamos a julgarmo-nos imortais. Enganamo-nos no
julgamento das nossas próprias obras e no julgamento sempre impreciso das obras dos outros. Vemo-nos no Nobel, dizem os escritores, como quem diz: vemo-nos no Inferno."

in 2666, Roberto Bolaño. Tradução de Cristina Rodríguez e Artur Guerra, Quetzal, 2009





Sei que muito do que queria expor ficou por dizer, e certamente muito me terá escapado (e que poucas almas leram este texto até ao fim). É um livro denso e tão engraçado como terrivelmente sério. Marca-nos assim que começamos a desfolhar as primeiras páginas. A única justiça que posso fazer a este livro é recomendar a sua leitura. Entendo que não seja uma leitura fácil para alguns e que  possa ser cansativa pela sua extensão (é um livro realmente longo) e densidade. Recomendo pois que este livro seja lido com calma e seguindo um ritmo muito particular, pois se for lido com prazer e devidamente apreciado, é sem dúvida uma leitura daquelas que nunca esquecemos. 

Por fim, para os resistentes e audazes que leram este testamento e querem ler mais… Vão ler o livro! Depois disso, passem no blog HÁ SEMPRE UM LIVRO… à nossa espera!, onde está publicada uma fenomenal análise de 2666 (atentem, não uma mera opinião ou suposta crítica, mas uma verdadeira análise), pela Cláudia de Sousa Dias. A análise do livro está publicada em 5 partes (uma para cada parte do livro), não percam nenhuma. Recomendo que leiam primeiro o livro ou circulem cuidadosamente, devido aos spoilers.



O melhor: A entrega de Bolaño na sua escrita
O pior: É tão pesado…
5/5 – Excelente!


 

03/02/2011

Booking Through Thursday — Literatura na vida real


Parafraseando a questão de uma amiga no seu mural do Facebook: "Como é que um rapaz adolescente que vai trabalhar com as mãos alguma vez utilizará a Literatura no seu trabalho"?

Acho esta questão deveras interessante. Quantos de nós no seu percurso escolar não achou que estava a ser obrigado a aprender coisas que nunca mais iria usar na vida?
Essencialmente o papel da escola e da formação é preparar os jovens não apenas para exercer uma profissão mas também para ajudar a formá-las como seres humanos e cidadãos. A um rapaz adolescente é importante mostrar que a escola é uma espécie de janela para o mundo. É-lhe dada uma amostra de uma série de áreas do conhecimento e da vida à sua volta, e com essas amostras poderá deliberadamente aprender o caminho que quer seguir. Mesmo nos ensinam conhecimentos que não nos apaixonam particularmente, continua a ser isso mesmo: conhecimento. E essa aprendizagem vai servir-nos sempre de alguma coisa no nosso percurso de vida, nem que seja apenas para percebermos aquilo que não gostamos, o que não queremos, o que queremos fazer.
Mais especificamente em relação à utilidade da literatura para um jovem que pretende trabalhar num ofício "hands-on", posso dizer que para ele a literatura terá o mesmo significado que terá para um amante das letras, ainda que numa dimensão diferente. A literatura é o alimento da mente, e é o escape que nos faz sair na nossa realidade e sonhar, viajar, aprender. Se quisermos pensar em termos mais práticos, mais, precisamente, hands-on, dou o exemplo da aprendizagem constante que a leitura permite. O conhecimento acerca de cidades e povos, oportunidades de viagens, natureza e comportamentos de pessoas que vivem e pensam de maneira diferente de nós pode ser adquirido com obras literárias de ficção ou não ficção. Conhecimentos específicos como o evoluir de mentalidades, o funcionamento da mente humana e aprendizagem acerca das relações entre pessoas são sempre úteis em todos os trabalhos. Todo o conhecimento é útil em determinada altura ou situação. E mesmo quando essa situação se nos apresenta longínqua, essa aprendizagem diversa moldou de alguma forma a pessoa que foi transformando.
Em última instância a literatura e o hábito de ler estimula a mente e enriquece a imaginação. Mesmo uma pessoa que trabalhe com as mãos, numa profissão mais prática, valoriza a criatividade e o estímulo mental providenciado pela literatura.

Sinto que não me expressei devidamente, mas aqui fica a minha opinião.



Para seguir aqui

02/02/2011

Quarta Estante

Eu gostava....

de ter uma biblioteca de dois andares...



(imagem retirada daqui.Clicar para ver imagem maior)

Por enquanto, com um décimo dos livros da da imagem, a minha biblioteca já me está a dar algum trabalho. A minha estante da sala, que tem duas filas de livros, já está cheia e com livros na horizontal também. Bem como a estante do hall de entrada.
Sem contar com os meus livros "viajantes" que estão fora de casa emprestados, já tenho 3 pilhas espalhadas pela sala. Preciso de uma quarta estante.

Oh, as dores de cabeça dos bibliófilos!