Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

24/06/2013

Guia Kindle para Totós - parte II

(continuação do post anterior)

Parte I





Parte II






5. Leitores
Passemos agora à interface física dos e-books. Os e-readers (ou leitores de e-books), dispositivos que nos permitem efectivamente ler os livros digitais, como toda a tecnologia, têm evoluído grandemente nos últimos anos. Longe vão os tempos em que ler um livro digital implicava horas de tortura ocular em frente a um monitor de computador.

Hoje em dia, com a tecnologia e-ink que é comum a todos os e-readers dignos desse nome, a experiência de leitura num deles é em quase tudo como ler um livro. Já expliquei neste post as características dos novos kindles que considero determinantes para uma satisfatória experiência de leitura, e que revolucionaram o mercado dos livros digitais. Aqui limito-me a resumir (muito) as características dos equipamentos.


5.1. O meu kindle. O Kindle 4 é o que chamo o modelo low cost da Amazon. Aquele que é o modelo mais básico e limitado do segmento dos novos kindles, tendo na leitura o seu foco principal. 


  • Ecrã de aproximadamente 15 cm de tecnologia e-ink pearl, em tons de cinza, optimizada para leitura, com tipos e tamanhos de letra adaptáveis e rápida mudança de página;





  • Interface com 5 botões intuitivos (incluindo botão de navegação) e botões "página seguinte" e "página anterior" de ambos os lados do aparelho;

  • Cabo USB para carregar o dispositivo ou transferir conteúdo;

  • Conectividade por WiFi, a redes públicas ou privadas, para actualização de software, transferência de livros, aceder a conteúdo ligado aos livros, partilhar/publicar actualizações ou notas, sincronizar com outros dispositivos ou aplicações kinde;

  • Funcionalidades como:

- Criação de colecções ou categorias para organização da biblioteca digital, ou simples organização por título, autor, data, etc.,

- Acesso instantâneo a dicionários que permitem ler o significado de palavras sem ter de sair do livro,

- Adição de marcadores de página ao longo do livro, para fácil acesso mais tarde (o kindle memoriza a ultima página lida),

- Possibilidade de sublinhar ou marcar passagens que se considerem interessantes, e partilhá-las,

- Possibilidade de adicionar notas pessoais, que podem ser partilhadas com todos os leitores kindle do livro em questão,

- Sincronização de leitura com outros dispositivos em que se esteja a ler o mesmo livro (telemóvel, pc, etc),

- Pesquisa em todo o equipamento, nos títulos e autores e no conteúdos dos livros,

- Índices que permitem navegar no documento por capítulos e localizações específicas,

- Barra de percentagem de leitura (com correspondência real com o número de página da edição impressa do livro)


  • Bateria que dura cerca de 4 semanas com o WiFi sempre desligado. Na minha utilização, e já um ano de desgaste de bateria depois, a duração actual da bateria do meu kindle é de 3 semanas;

  • Capacidade de cerca de 1.45Gb. Tenho actualmente cerca de 270 livros no meu kindle, e ainda há espaço para mais.

  •  Peso e dimensões, segundo dados da Amazon: 165.75 mm x 114.5 mm x 8.7 mm e 170 gramas. 

  • Peso e dimensões, segundo eu: Suficientemente pequeno para uma excelente portabilidade, e suficientemente grande para uma leitura confortável, sendo o ecrã sensivelmente do tamanho de um livro de bolso. Ultra leve.



5.2. Os modelos mais recentes apresentam novas funcionalidades e características mais modernas, mantendo a essencial e-ink do ecrã. Dessas importantes inovações destaco duas:

5.2.1 O ecrã táctil, que permite uma navegação muito mais optimizada, seguindo a tendência dos dispositivos portáteis mais actuais. Opções como zoom, selecção de palavras ou mesmo de livro tornaram-se mais fáceis e intuitivas. O avançar ou retroceder de página é feito nas extremidades do ecrã ao invés de utilizar botões físicos no dispositivo. Tecnicamente, esta tecnologia touch utiliza uma rede de sensores uma camada do ecrã superior à camada responsável pela tecnologia e-ink, não a afectando.




5.2.2. A iluminação do ecrã, mantendo também a funcionalidade touch no ecrã. Aquele que era considerado por muitos leitores o elemento que faltava para o e-reader perfeito surgiu finalmente: luz. Numa tecnologia diferente da iluminação que conhecemos dos telemóveis e tablets, estes novos e-readers apresentam retro-iluminação sem reflexos e sem brilho. Na prática, esta nova forma de iluminação de ecrã significa que as lâmpadas LED de baixo consumo iluminam o ecrã em si, e não a cara do utilizador. A luz não é emitida para fora do dispositivo, mas sim para dentro, de forma a evitar a agressão dos olhos e a vista cansada, que é o maior pesadelo dos leitores e que foi desde sempre foi um dos entraves à leitura electrónica. Vemos o texto iluminado, mas não o brilho da luz, que é reflectida de volta para o interior. Como é natural, os modelos com luz dos principais distribuidores mantêm a tecnologia touch.




5.2.3. Kindle 4 vs Novos modelos

Com as vantagens dos novos modelos surgiram também alguns (pequenos) inconvenientes.

A generalidade dos utilizadores considera que os modelos touch proporcionam uma mais fácil e rápida utilização da interface do dispositivo, no geral, uma utilização mais satisfatória. No entanto, a maior crítica continua a ser a ausência de botões físicos para mudar de página. No kindle 4 e anteriores a posição dos botões de passagem de página é perfeita, podendo o utilizador manter o dedo a mesma posição e pressionar à medida que lê. Nos modelos touch, não só não pode manter o dedo no mesmo local enquanto lê, como avança ou retrocede inadvertidamente com apenas um toque (por exemplo a mudar de posição da mão).
(Imagens daqui)

Quanto aos modelos retro-iluminados, a esmagadora vantagem de poder ler no escuro é o ponto mais positivo. Particularmente popular é a experiência de leitores que gostam de ler na cama, pela noite dentro, e que assim o podem fazer tranquilamente sem perturbar o parceiro. Outro ponto positivo é o facto da inclusão de lâmpadas não comprometer a longa duração da bateria do dispositivo, tendo-se atingido o tempo record de 2 meses (!) com mínima utilização da luz, ou 1 mês de uso intensivo da mesma. As principais críticas (além da mesma questão dos botões físicos) ao Kindle Paperwhite foram uma iluminação irregular do ecrã (menos iluminado nas extremidades, ainda que em zonas sem texto), e impossibilidade de desligar a iluminação completamente.

Pessoalmente, considero que o Kindle Paperwhite (e os seus equivalentes concorrentes) é o melhor equipamento para ler e-books do momento. Tem todas as vantagens dos livros digitais e ultrapassou (quase) todas as desvantagens que não sejam "o toque e o cheiro dos livros físiscos". Com a sua iluminação pouco agressiva, há quem considere ainda mais confortável para os olhos do que ler um livro físico à luz de um candeeiro.

O factor preço acaba por ser o principal inconveniente do Kindle Paperwhite ($139) face ao Kindle 4 ($89). Como em todas as compras ponderadas, para decidir há que ter em conta as necessidades do utilizador.

Para um utilizador casual, um leitor que quer apenas ler pelo prazer de ler, quem quer dar uma primeira oportunidade aos e-books ou um cliente limitado pelo orçamento, o kindle 4 é a solução indicada e que cumpre perfeitamente as necessidades, com a vantagem do preço reduzido.

Para um utilizador mais exigente, alguém que considera essencial a iluminação do ecrã ou o ecrã táctil, ou alguém que quer iniciar-se nos livros digitais com a melhor experiência possível, a diferença de preço vale a pena para ter um equipamento superior. Deixo aqui (em castelhano e em inglês) comparações bastante completas entre os dois modelos da Amazon.

Comparando com os principais concorrentes do Kindle, o NOOK e o Kobo, considero que os equipamentos são bastante equivalentes em cada um dos segmentos. A principal diferença que pode determinar a escolha é relativa ao conteúdo, limitações de DRM, etc, e que fica ao critério de cada um avaliar.

O Kindle 4 é o único modelo "básico" das três principais concorrentes a permanecer no mercado. Modelos anteriores ao NOOK Touch e Kobo Touch foram descontinuados. A Amazon manteve o popular Kindle 4, mas descontinuou o Kindle Touch, que foi substituído pelo Kindle Paperwhite. 

Kindle vs Tablets, um aparte
Até agora não inclui nas minhas comparações aqueles que são também eles líderes de mercado nos e-books: os tablets. Kindle Fire e NOOK HD permitiram às respectivas empresas manter-se no comboio da competição com os iPads da Apple e outros tablets. Cada um destes equipamentos pode ser utilizado para ler livros, pela instalação de aplicações compatíveis com os diversos formatos de e-books. Não os incluí, porque mais uma vez, é importante ter em consideração as necessidades de utilização quando se adquire um dispositivo destes, ou simplesmente se avalia a sua utilidade.
Para utilizadores que incluem nas suas preferências a leitura de publicações gráficas como revistas, jornais ou artigos científicos e mesmo comics ou graphic novels, os e-readers não são a melhor opção. Apesar dos formatos serem suportados e inclusive se tenham resolvido problemas de compatibilidade (nomeadamente no kindle em relação aos formatos de banda desenhada), e dos distribuidores venderem periódicos nas suas lojas online, um leitor a preto e branco desenhado e optimizado para ler livros de texto corrido é o ideal para... ler livros. Para as restantes opções de leitura, ou para alguém que quer ter um equipamento mais versátil, e cujas necessidades vão além de ler livros (utilização de internet, composição de textos, imagens, etc), recomendaria sem hesitação um tablet em vez de um e-reader. 

6. Kindle em Portugal.

6.1. Comprar um Kindle em Portugal. Apesar de existirem algumas excepções, o kindle compra-se online. Há três pontos a ter em conta ao comprar um kindle:

- Comprar dos E.U.A. Para quem quer comprar um kindle e vive num dos países com versão nacional da Amazon (uk, fr, it, es, etc) basta aceder ao respectivo site e iniciar o processo de compra e entrega em mão. Para o resto do mundo, como os residentes em Portugal, o mesmo processo tem de ter lugar através do site norte-americano e site-mãe, Amazon.com.

- Contabilizar despesas de envio. Comprar seja o que for na Amazon.com implica que a encomenda tenha origem nos Estados Unidos, e como tal, implica o pagamento de despesas alfandegárias, e o kindle não é excepção. Segundo uma simulação recente as despesas associadas ao envio variam entre 30 e 40€, valor com o qual se deve contar ao planear uma encomenda.

- Verificar que o modelo em questão está disponível para envio para Portugal. Apesar da compra ser feita pelo site americano, não significa que qualquer produto possa ser enviado para o nosso país. Limitações legais e comerciais são os principais motivos que podem levar a Amazon a limitar a venda dos kindles para os diversos países. Quer o kindle 4 como o Kindle Paperwhite demoraram cerca de 3 meses a ficarem disponíveis em Portugal, mas o Kindle Fire HD, por exemplo, só agora se pode comprar, quase 2 anos depois do lançamento do primeiro modelo.


6.2. Kobo em Portugal

Conforme expliquei aqui, é fácil adquirir livros do catálogo da Amazon, mas a oferta de livros em português é inexistente bastante reduzida, e a maioria são livros em português do Brasil.

Em contrapartida, desde que o Kobo é vendido em Portugal através da Fnac, o catálogo de e-books em português tem aumentado bastante, tendo algumas editoras começado a apostar, devagarinho, mas cada vez mais, em edições digitais dos seus livros.

Tendo em conta que esses livros em português são vendidos em formato .epub, compatível com o Kobo mas não com o Kindle, e que evitando encomendas online e gastos de envio, se pode facilmente adquirir um Kobo na Fnac mais próxima, considero que para os utilizadores portugueses a melhor opção actual será optar por um Kobo. Em adição, a Fnac está com reduções bastante atractivas nos preços dos Kobo.

** ADENDA **

Sempre atenta, a Célia chamou a minha atenção para o facto de actualmente algumas editoras portuguesas terem adicionado os seus livros ao catálogo da Amazon, possibilitando assim o acesso directo para os leitores de kindle a livros recentes em português. 


6.3 IVA dos E-books em Portugal

Em Portugal, o IVA dos livros físicos pertence ao escalão de IVA reduzido de 6%, no entanto, a versão digital dos mesmos livros é taxada pelo escalão máximo de 23%. Em Janeiro de 2012, a França e o Luxemburgo foram os primeiros países a determinar uma escala de IVA reduzida para os e-books, de 7% e 3% respectivamente, mas esta deliberação chocou com os entraves legais da Comissão Europeia. Bruxelas considera que uma redução fiscal tão significativa nos e-books causa distorções de concorrência no seio da União, favorecendo os países dominantes e desfavorecendo os restantes. 

A Amazon.uk tem os seus clientes de e-books no Reino Unido, mas está registada legalmente no Luxemburgo, usufruindo dessa forma da redução fiscal associada ao livros digitais, enquanto a sua concorrência nacional é obrigada a taxar os livros a uma taxa superior. 

Esta imposição legal da Comissão Europeia de equiparar as taxas de IVA dos 25 países, por um lado evita a dominância de grandes distribuidores como a Amazon, mas por outro perpetua uma inflação dos preços dos e-books em relação aos seus equivalentes físicos. Em Portugal pretende-se baixar o IVA dos e-books, tendo esta questão feito parte do Orçamento de Estado para 2013, mas a determinação caiu por terra com  a decisão da Comissão Europeia.

Apesar de reconhecer que a situação legal actual dá origem a uma discriminação digital, face ao livro físico, Bruxelas remete uma discussão do tema para depois do final deste ano. 

Uma discussão semelhante surge também nos Estados Unidos, onde em alguns estados os e-books não sao taxados de todo, tornando claro que as regulamentações legais ainda não acompanham o crescimento do mercado digital.


** FIM DA ADENDA **

7. Acessórios para Bibliófilos


Porque ter-me rendido aos e-books não fez de mim uma ex-bibliófila, continuo a ter um fraquinho por tudo o que é acessórios de leitura, incluindo leitura digital.

Alguns são essenciais para o leitor digital, como as luzes de leitura ou as capas protectoras, incluindo as que são perfeitas para quem não se consegue separar do livro físico mesmo lendo e-books.





Outros acessórios práticos incluem capas à prova de água, ideais para a uma leitura na piscina ou na praia, livre de acidentes, ou suportes mãos-livres para ler sem cansar os braços. Para quem quiser personalizar o seu kindle, as opções são diversas, com as skins que se colam no dispositivo.




(fonte)

8. A minha experiência kindle

Como pode parecer óbvio, a minha experiência kindle tem sido bastante positiva e é fácil de perceber pela quantidade de posts sobre o assunto que vou fazendo por aqui. Volto a remeter para este post o resumo do início da minha experiência com os livros digitais, mas a aventura vai continuando, com constantes novidades, notícias, novas tecnologias e avanços, que fazem com que a experiência nos e-books seja algo em constante desenvolvimento. Há quem diga que os readers dedicados têm fim à vista, mas de uma forma ou de outra prevejo que eu e os livros digitais vamos continuar juntos por muito tempo.
Principalmente, o kindle permitiu-me aumentar e diversificar as minhas leituras, e permite-me ler livros em qualquer hora e qualquer lugar, e isso é o mais importante.

20/06/2013

Guia Kindle para Totós - parte I


Oh não, outro post sobre o kindle.
Eu sei, eu sei, muita tinta (electrónica ou não) já correu acerca de e-readers e e-books, e provavelmente para a maioria dos leitores este post traz pouca coisa de novo. Mas na semana passada coube-me a missão de converter um resistente a e-books num kindle-lover. Não que tenha sido um processo difícil, mas enquanto explicava tudo o que sei sobre e-books a alguém que quase nada sabia, dei por mim sem saber como organizar e melhor explicar tanta informação. A verdade é que hoje em dia, com tanta informação na internet, é por vezes difícil filtrar essa informação e começar totalmente do zero sem se ficar confuso. 

Para os info-excluídos como um dia fui, aqui fica uma espécie de guia "explica-me como se eu tivesse 5 anos". Não sendo nenhuma autoridade no assunto dos livros digitais, este post é basicamente um resumo da aprendizagem que eu própria levei a cabo, e sem dúvida que muita coisa ficará por dizer ou por corrigir, e convido-vos a fazê-lo. Falo do kindle, porque foi o meu equipamento de eleição, mas naturalmente alguma informação aplica-se a e-readers em geral.


Parte I





Parte II









Começando pelo início... 

1. O que é um e-book? Livro electrónico, ou livro digital, inicialmente a sua definição consistia na versão digital de um livro impresso. Hoje em dia existem livros que são publicados em formato digital sem nunca terem sido impressos, alargando a definição a  publicações de livros em formato digital de obras textuais ou gráficas, que são lidos através de um dispositivo electrónico (tradução livre da wikipedia).

(fonte)

Se ganhasse um livro de cada vez que alguém me pergunta se os e-books que leio são digitalizações de livros impressos, provavelmente já teria mais livros na minha estante do que e-books (não tenho!). Apesar de existirem livros digitais que são meras digitalizações, essa realidade está actualmente ultrapassada quando falamos de e-books comerciais de obras facilmente acessíveis. Ainda se digitalizam livros, nomeadamente publicações antigas, edições históricas e raras, mas arriscaria dizer que a maioria dos e-books que são lidos são fruto de conversões. Essas conversões podem ser levadas a cabo através de digitalizações que depois são submetidas a softwares que convertem as imagens em texto; ou simplesmente copiadas e inseridas manualmente como qualquer outro texto. Publicações actuais, cujo próprio livro impresso existe em formato digital, necessitam meramente de converter o texto num formato passível de ser lido num e-reader.





Essa  conversão implica técnicas específicas de paginação, formatação, inclusão de índices e hiperligações e introdução de dados descritivos digitais da obra (metadados). Em adição à informação digital básica que constitui um e-book, muitas edições começam a incluir conteúdos extra, como imagens, hiperligações específicas na internet, etc.



2. Adquirir e-books. Como seria de esperar, os e-books são adquiridos online. Cada um dos grandes fabricantes e vendedores de leitores digitais está associado a um catálogo online de livros (físicos e digitais). Mencionando os principais, a Amazon vende o seu Kindle, a Barnes & Noble o Nook, e em Portugal a Fnac vende o Kobo. Resumindo a aquisição de livros em 3 opções:





2.1. Adquirir livros utilizando a conta no respectivo site e comprar os livros online, sendo estes entregues via wireless assim que se ligar o leitor à internet, por WiFi ou 3G. Há livros pagos e livros gratuitos, e os preços vão desde os 99 cêntimos  ao preço de um hardback, milhares de títulos à distância de um clique.

2.2. Utilizar catálogos de livros gratuitos como o Projecto Gutemberg, que disponibiliza gratuitamente e em diversos formatos livros cujos direitos de autor já pertencem à Humanidade, as chamadas obras em domínio público. Este site conta já com 4 décadas de funcionamento e foi um dos pioneiros na divulgação e liberalização dos livros digitais. 

2.3. A internet. Certo, ambas as opções anteriores fazem parte da internet, mas essas são as opções legais e oficiais. Não preciso de elaborar, pois não? Não tenho na minha posse dados estatísticos precisos, mas arrisco afirmar que mais de 90% dos livros que procuro em inglês se encontram facilmente perdidos nos meandros da internet. À distância de vários cliques e alguns minutos de espera, conversões de melhor ou pior qualidade, mas é uma opção popular. 



Um aparte em relação aos preços dos e-books 
Pelas razões enumeradas mais acima, nem sempre a versão digital de uma obra é a mais barata, pelo contrário e indo contra tudo o que parece lógico ao leitor/consumidor. Não tenho conhecimento de causa suficiente na indústria para afirmar o porquê, mas neste artigo do CEO de uma editora, ele afirma que os custos físicos de impressão e distribuição dos livros impressos não representa uma fatia tão grande das despesas de produção de um livro como se poderia pensar. Segundo ele, a publicação de um e-book mantém as mesmas despesas associadas a um livro impresso (direitos de autor, traduções, revisões, design gráfico, marketing, despesas legais, etc, etc), com a adição de despesas consideráveis com a "produção digital" que referi acima, desenvolvimento dos ficheiros em termos de compatibilidade com os diversos modelos de e-readers, adição de tecnologia DRM e provavelmente mais. 
Há quem defenda que mesmo tendo em conta todas estas despesas, os e-books poderiam ser mais baratos, caso as distribuidoras e editoras baixassem a margem de lucro. Muita coisa se poderia dizer em relação aos lucros em e-books da gigante Amazon, por exemplo, mas isso fica para outra altura. Quer se acredite quer não nas explicações oficiais, a verdade é que, de modo geral, os e-books não são muito mais baratos (são algumas vezes mais caros) do que as suas versões impressas. 



3. Formatos e conversões.
Existem dezenas de formatos de e-books, optimizados para diferentes leitores e tipo de livros. As diferenças técnicas entre eles são extensas, mas pouco relevantes para o utilizador comum de e-readers, por isso vou referir-me apenas aos que considero mais importantes.




3.1. PDF. De modo geral, o formato PDF é o mais o conhecido, aquele com o qual a maioria de nós está mais familiarizado. Há anos utilizado para transportar e partilhar documentos, este formato não editável é de certa forma o menos interactivo e menos prático quando se trata de um livro. É ideal para documentos como artigos científicos e jornalísticos. Apesar do seu cariz estático não favorecer a leitura em e-readers, o facto de poder ser lido em quase todos os equipamentos móveis e computadores (incluindo o Kindle, Kobo e Nook) constitui uma enorme vantagem.

3.2. Mobi. Formato exclusivo do Kindle da Amazon (na verdade o formato Amazon engloba vários ficheiros e uma série de formatos que foram evoluindo desde os primeiros kindles, mas por comodidade e porque na verdade não faz diferença chamemos apenas .mobi)

3.3. EPub. Formato de e-books mais global e versátil actualmente. Com a excepção do Kindle da Amazon, (quase) todos os e-readers lêem formato .ePub.

3.4 Converter e-books. Tendo o software adequado, é virtualmente possível converter qualquer formato de e-book noutro. No entanto, para o leitor comum que pretende converter um livro para o seu leitor, os ficheiros deverão ter condições específicas para que a conversão resulte num livro aceitável. É, por exemplo, possível converter .pdf para .mobi, no entanto é provável que o livro fique desconfigurado, uma vez que são formatos muito diferentes e conteúdos organizados em princípios distintos. Uma maior probabilidade de sucesso surge na interconversão entre formatos .mobi e .epub, mais parecidos, e é algo que leitores pelo mundo fora fazem com facilidade.



Um dos programas mais utilizados para converter ebooks é o Calibre, mas é muito mais do que um conversor de e-books. Com o Calibre posso manter uma biblioteca sincronizada com o meu kindle, organizar os livros em colecções, adicionar e alterar os metadados dos livros, e muito mais. Existem plug-ins que adicionam funcionalidades ao software, nomeadamente mecanismos específicos de remoção de DRM que entram em cena quando nos surge isto:

(fonte)


4. DRM: O que é, implicações, como ultrapassar.

Digital Rights Management (Gestão de Direitos Digitais em português), vulgo DRM, esta tecnologia é controversa desde o início. Criada para controlar a cópia e distribuição de obras digitais após a sua compra, alguns defendem que a sua eficácia anti-pirataria é reduzida, ao mesmo tempo que constitui um atentado à livre circulação de conhecimento e propriedade intelectual. Todos nos lembramos, algures na década dos anos 2000, de quando passámos a não conseguir fazer cópias dos CDs de música que comprávamos ou dos jogos de PC emprestados pelos nossos amigos. A infame mensagem "This disk cannot be copied" chegou a causar-me crises de ansiedade por uns tempos, até eventualmente surgir uma solução obscura para adquirir o mesmo produto por outras vias.
Tem sido este o caminho dos sistemas de DRM, como quase tudo no mundo da internet, é ultrapassado, reinventado, até à seguinte quebra.

O que significa para os e-books? Basicamente, o mesmo que significa para qualquer obra digital comprada online, seja cinema, música ou livros. Actualmente, quase todos os livros vendidos online são portadores de tecnologia de DRM. As tecnologias variam, mas as implicações são gerais:

- A compra do e-book implica o seu envio para os dispositivos associados à conta, com um número limite de cópias/dispositivos;

- A cópia e/ou conversão para outro formato ou dispositivo estão bloqueadas (nada de emprestar livros aos amigos sem partilhar a própria conta);

- O distribuidor tem o poder e o direito legal de, a qualquer momento e quando o considerar justificável, aceder remotamente ao dispositivo e remover as obras adquiridas (já aconteceu o próprio dispositivo ser bloqueado ao utilizador, no mais-ou-menos recente caso Amazon-gate, e a Barnes & Noble reserva-se o direito de bloquear o acesso aos e-books se o cartão de crédito associado à conta caducar, mesmo tendo em conta que os livros já foram pagos);



(fonte)
Em suma, pode-se afirmar que ao comprar um livro com DRM, o livro não é efectivamente meu, pois pode ser-me retirado pelo vendedor a qualquer momento. Tecnicamente e conforme descrito nos seus termos e condições que ninguém lê, a Amazon nem sequer vende e-books, vende o acesso ao mesmo, e esse pode ser revogado. Mas mais uma vez, quando há vontade e talento, surgem soluções, e para combater esta noção tão estapafúrdia para criaturas que vivem do sentimento de posse de livros, a internet ajuda. 

Existem diversos tipos de DRM e, numa era de tecnologia sempre em mudança, (acho que) todos podem ser ultrapassados de alguma forma, se se souber como. Basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar soluções acessíveis para o leitor que deseja partilhar um livro com um amigo ou simplesmente fazer uma cópia de segurança de uma obra pela qual pagou. 

Há quem diga que é uma questão de tempo até o DRM em e-books ser abandonado, e que seria uma medida positiva para a indústria, com vantagens para leitores, editoras e autores. A gigante editorial Tor anunciou no ano passado que todos os seus e-books seriam vendidos sem tecnologia DRM, e um ano depois, os resultados são positivos. Em Portugal, foram aprovados dois projectos de lei que se pretende que venham a constituir a base legal para permitir que utilizadores façam cópias dos seus conteúdos digitais, e impedir que livros em domínio público sejam protegidas por DRM.



Do outro lado da barricada, um instituto alemão está a desenvolver uma nova tecnologia de DRM que em vez de procurar impedir a cópia, altera activamente o conteúdo do texto (!) de cada vez que o ficheiro é copiado, de forma a poder rastrear o utilizador original, que partilhou a obra. Desta forma o utilizador pensará duas vezes antes de partilhar o ficheiro, com receio de ser identificado 


Pessoalmente, creio que irão surgir sempre formas de contornar as limitações de circulação de obras, e que de facto o livre acesso aos conteúdos digitais pode significar ganhos consideráveis para a indústria. Até lá, socorrer-nos-emos da internet quando for preciso. 



(Continuação aqui)

06/06/2013

The Other Queen

Autora: Phillippa Gregory

Editora: Harper Collins

Nº de páginas: 452

Publicado originalmente: Harper Collins (2008)

Sinopse (da edição portuguesa): Um romance dramático de paixão, política e traição, da autora de Duas Irmãs, Um Rei. Com a sua característica combinação de magnífica narrativa com um contexto histórico autêntico, Philippa Gregory dá vida a esta época de grandes mudanças, numa fascinante história de traição, lealdade, política e paixão.

Maria Stuart, Rainha dos Escoceses, está em prisão domiciliária em casa de Bess de Hardwick, recém-casada com o Conde de Shrewsbury, mas continua a lutar para recuperar o seu reino.

Maria é Rainha da Escócia mas foi forçada a abandonar o seu país e a refugiar-se na Inglaterra, governada pela sua prima Isabel. Nesta época, a Inglaterra é um país com um protestantismo mal alicerçado, pressionado pelo poder da Espanha, da França e de Roma, e a presença de uma carismática governante católica pode ser perigosa. Cecil, o conselheiro-mor da Rainha Isabel, concebe então um plano para que Maria viva enclausurada com a sua cúmplice, Bess de Hardwick. Bess é uma mulher empreendedora, uma sobrevivente perspicaz, recém-casada com o Conde de Shrewsbury (o seu quarto marido). Mas que casamento resiste aos encantos de Maria? Ou à ameaça de rebelião que a acompanha a todo o momento? No seu cativeiro privilegiado, Maria tem de aguardar pelo regresso à Escócia e pelo reencontro com o seu filho. Mas esperar não significa nada fazer!



Opinião: Sempre adorei a parte da história britânica relativa ao período dos Tudor. Tendo já lido alguns livros da Philippa Gregory e gostado bastante, este livro foi uma escolha obrigatória para a minha leitura temática, já que retrata não só um período do reinado da Rainha Elizabeth I, como o ponto de vista de Mary Stuart, Rainha dos Escoceses, que quis ser rainha de Inglaterra. 

Mary é uma rainha sem reino. Coroada em bebé, mas desde então refugiada em França, esta bela rainha encontra oposição no seu próprio reino da Escócia, sendo forçada pelos nobres escoceses a abandonar uma vez mais o seu reino. A Inglaterra protestante de Elizabeth acolhe a sua prima real. Mas à luz de um ambiente religioso e social pouco favorável e temendo a ameaça à segurança do seu trono que representa esta outra rainha, Elizabeth, aconselhada por Cecil, o Conselheiro-Mor, decide submeter a católica Mary Stuart a uma prisão domiciliária por tempo indeterminado. Este livro conta a história do seu encarceramento nas propriedades dos seus aliados Conde de Shrewsbury e esposa Bess de Hardwick, e é narrado por estas três personagens principais, intercaladamente. Mary é uma mulher belíssima e lutadora, uma rainha irresistível, que suporta a antiga fé. Shrewsbury é um nobre de uma das mais antigas e importantes linhagens de Inglaterra, e incapaz de fazer algo contra a sua noção de honra, e sempre leal ao trono de Inglaterra. Bess é uma mulher peculiar para a sua época, independente e empreendedora, que foi subindo em posição financeira e a quem este casamento trouxe a posição social que ambicionava. É pelos olhos destas personagens tão diferentes que vemos o desenrolar desta história.

Estando habituada a ler livros da época Tudor do ponto de vista da própria Elizabeth ou alguém próximo dela na corte, esta nova perspectiva foi uma agradável surpresa, e Philippa Gregory tem o talento de escrever como se as vozes das suas personagens tomassem vida no papel. Se nos livros que li anteriormente me habituei a olhar para esta Mary Stuart como uma vilã, a usurpadora do trono de Elizabeth e perturbadora da paz do reino, desta vez dei por mim a tomar o partido da pobre Mary, desapoiada, sofrida e tão encantadora. À medida que a sua beleza e graça conquistam todos na casa que a aprisiona, também o leitor é conquistado para a sua causa. Mas como o livro nos apresenta não apenas as páginas narradas por Mary, ficamos divididos nas nossas opiniões, enquanto vemos também o reverso da moeda, o carácter manipulador de Mary, e o caos causado pelas rebeliões que surgiram em Inglaterra durante os anos de aprisionamento da rainha dos escoceses. Este sentimento ambivalente surge, aliás, com cada uma das três personagens, e deixou-me sem saber por quem "torcer" afinal. Na belíssima forma como Philippa Gregory orquestra estes três diferentes pontos de vista, vamos vendo tomando forma a história dentro da História. 

Foi uma leitura que me agradou imenso, densa em ricos conteúdos históricos sem deixar de apresentar personagens que me surgem reais e verdadeiras, enquanto leitora. Em que os factos históricos e intrigas da corte se revestiram de emoções reais e convincentes. E no fundo é isto que eu procuro num romance histórico e a razão pela qual, quando são bons, constituem um dos géneros que mais gosto de ler. E esta autora não desiludiu. 

Numa nota ainda mais pessoal, fico particularmente contente por ter lido este livro imediatamente antes de uma visita à Escócia, onde me vi rodeada constantemente de referências, homenagens e monumentos que evocam a história da vida e morte desta rainha. De certo modo afectou a minha experiência de leitura e ajudou a marcar este livro na minha memória de forma especial (e provavelmente afectou a avaliação global da obra). Fez-me pensar que, não tendo sido amada na Escócia em vida, esta trágica Rainha decerto o é depois da morte. 


O melhor: Uma nova perspectiva acerca de uma rainha da qual pouco sabia,além do que representou para Elizabeth.

O pior: A natureza "tri-fásica" da narrativa origina alguns pontos mais repetitivos, quando as várias personagens relatam o mesmo acontecimento.


4/5 - Gostei bastante


05/06/2013

Estante à Quarta (42)


(imagem daqui)

03/06/2013

The Winter Sea

Autora: Susanna Kearsley

Editora: Sourcebooks Landmark (2010)

Nº de páginas: 527

Editado originalmente: Allison & Busby (2008)

Sinopse: History has all but forgotten...

In the spring of 1708, an invading Jacobite fleet of French and Scottish soldiers nearly succeeded in landing the exiled James Stewart in Scotland to reclaim his crown.

Now, Carrie McClelland hopes to turn that story into her next bestselling novel. Settling herself in the shadow of Slains Castle, she creates a heroine named for one of her own ancestors and starts to write.

But when she discovers her novel is more fact than fiction, Carrie wonders if she might be dealing with ancestral memory, making her the only living person who knows the truth-the ultimate betrayal-that happened all those years ago, and that knowledge comes very close to destroying her...





Opinião: Na minha busca por livros passados na Escócia, este The Winter Sea foi redescoberto na minha lista de livros para ler. De uma autora desconhecida para mim, na altura foi adicionado meramente devido a opiniões positivas de algumas pessoas cuja opinião valorizo (ok, e pela capa!), e agora surgiu a ocasião perfeita para a sua leitura. 

Tal como na maioria das minhas leituras actualmente, não sabia quase nada sobre este livro (hábito que cada vez mais tenciono manter). Opiniões positivas e reviews pouco reveladoras bastam-me para decidir ler um livro, e assim conseguir partir para uma obra sem expectativas. Neste caso em particular, como estava à procura de livros sobre a Escócia (naquilo que resultou na minha leitura temática), limitei-me a ler a sinopse muito brevemente e ver os dados de "setting" do Goodreads para me certificar que o livro cumpria os requisitos que procurava. 

Por essa razão fiquei surpreendida quando a história me apresenta Carrie, uma personagem contemporânea, que está a escrever um livro sobre um período da História da Escócia. Essa surpresa depressa deu lugar a satisfação ao ver como a autora constrói a sua história em redor destas duas épocas distintas, ligadas pela História de um pequeno castelo em ruínas na costa da Escócia.

Carrie é escritora de romances históricos, vive em França, em busca de inspiração para o seu livro: a história da falhada invasão Jacobita pela frota francesa em 1708, que tinha como objectivo trazer de volta para o território escocês o príncipe exilado James, para reclamar o seu trono. O bloqueio de escritor de a assola dissipa-se na viagem que faz à Escócia para visitar a sua editora, quando perdida na estrada dá por si nos arredores do Castelo de Slains. Uma inexplicável ligação a este lugar inspira-a a escrever como se a história sempre tivesse estado na sua memória, e só precisasse de ser relembrada. A heroína da sua história, Sophia, é um antepassado escocês da própria Carrie, "emprestada" por ela ao livro que está a escrever, para satisfazer a sua necessidade de uma personagem principal feminina. A narrativa descreve o dia a dia de Carrie, enquanto escreve o seu livro, que é apresentado ao leitor como uma viagem ao passado. 

Passando-se numa fase da História da Escócia acerca da qual sou completamente ignorante, não tenho qualquer base para opinar quanto à veracidade dos factos históricos, mas para mim isso pouco importa neste caso. O que afectou a minha leitura foi sentir que as descrições daquele mundo e daquela época me pareciam credíveis, com personagens reais e diálogos deliciosos, dando-me uma experiência de leitura à altura do que procurava. 

Este livro livro prendeu-me desde o início. Há já algum tempo que não lia com tanto prazer e regressei após algum tempo àquele que é um dos meus géneros favoritos, o romance histórico. E que regresso. Talvez por ter passado demasiado tempo sem ler este género, talvez por se passar na Escócia numa altura em que estou sedenta por qualquer pedaço de história e cultura desse país, talvez pela escrita da autora e os diálogos me conseguirem transportar para uma época que me fascina desde sempre. Seguramente por tudo isto, a verdade é que este livro me encheu as medidas. Foi tudo o que eu desejava ler, e lido na altura certa.

Divido esta história em duas partes que me pareceram distintas inicialmente, mas profundamente ligadas, e os pontos fracos de uma são compensados pela outra. Presente e passado interligam-se não apenas pela localização em comum, mas pelas personagens, pela cultura e pela voz da autora. Gostei bastante da sua escrita e dos diálogos, especialmente nas partes passadas no passado, e se as personagens contemporâneas são interessantes, as medievais são cativantes de uma forma que ficava em suspenso de cada vez que voltava à vida de Carrie e deixava Sophia para trás. 

Apesar do ponto forte da narrativa ser, naturalmente, a história de Sophia, a autora consegue equilibrar bastante bem as duas linhas temporais, intercalando entre uma e outra de forma subtil e inteligente. Mas não se pense que a narrativa de Carrie é desinteressante, pelo contrário, chegando a adquirir um tom autobiográfico (os pontos em comum na história pessoal de Carrie e de Susanna Kearsley são notórios). Além da inclusão do dialecto local derivado do Gaélico, das descrições da pesquisa histórica levada a cabo por um autor de romances históricos e as suas convicções de onde estabelecer a linha entre ficção e História, a autora introduz o tema da genealogia de forma bastante interessante, que me deu imenso gozo ler. E, tal como na linha paralela da história de Sophia, ainda há espaço para algum romance, e para uma adoração pela paisagem da Escócia. Apesar de ter adivinhado parte do final do livro, terminei esta leitura com uma satisfação daquelas que só chegam com os livros que nos tocam de verdade. 

O melhor: As personagens do Castelo de Slains, as descrições das paisagens escocesas, a viagem ao passado. A genealogia. 

O pior: O romance contemporâneo um pouco "morno", especialmente comparando com a história de Sophia. 


5/5 - Excelente!



01/06/2013

Never Let Me Go


Autor: Kazuo Ishiguro

Editora: Faber and Faber

Nº de páginas: 263

Publicado originalmente: Faber and Faber (2005)


Sinopse: In one of the most acclaimed and strange novels of recent years, Kazuo Ishiguro imagines the lives of a group of students growing up in a darkly skewered version of contemporary England. 
Narrated by Kathy, now 31, "Never Let Me Go" hauntingly dramatises her attempts to come to terms with her childhood at the seemingly idyllic Hailsham School, and with the fate that has always awaited her and her closest friends in the wider world. 

A story of love, friendship and memory, "Never Let Me Go" is charged throughout with a sense of the fragility of life.


Opinião: Parti para este livro com algumas expectactivas, apesar de não saber nada sobre o conteúdo. Um livro amplamente aclamado e recomendado por amigos que prometia uma leitura cativante e emotiva. Infelizmente, para mim não representou nenhuma das duas. 

A narradora da história, Kathy, tem 31 anos e trabalha a prestar cuidados a outras pessoas debilitadas fisicamente, os dadores. Kathy descreve a sua vida actual sem explicar quem são as pessoas que cuida nem a razão pela qual precisam de cuidados como dadores. Ao mesmo tempo, fala dos amigos Tommy e Ruth, do tempo de Hailsham, o colégio interno no interior de Inglaterra, onde cresceram. Diria que este livro é a história dessa amizade. Uma amizade profunda e verdadeira, que ultrapassa décadas, separações e provações. 

À medida que Kathy conta ao leitor a sua história e a vida em Hailsham, vai-se percebendo o contexto estranho e misterioso em que estas crianças foram criadas, e que Hailsham não é um colégio normal. Vivem felizes, mas sem contacto com o exterior, nenhuma delas tem uma vaga ideia de como é a vida no exterior de Hailsham, e são educadas para não fazer perguntas. Como qualquer criança, essas questões surgem, mas mesmo sem as compreenderem, cumprem as regras definidas e mantêm a sua integridade física e emocional, tal como são incentivados a fazer pelos tutores.

Apesar da expectativa inicial, desde o início que lutei para me manter interessada neste livro. É daquelas historias que têm tudo de bom na teoria, mas que simplesmente não me cativou. No meio de tanto mistério, ao longo do livro fui lendo, à espera do momento de revelação, o ponto de viragem da leitura, o ponto de maior emoção que me faria finalmente compreender tudo e ter vontade de ler sem parar. Mas antes de chegar esse momento chegou o fim do livro. Fui lendo, e quando dei por mim a história tinha acabado, eu já tinha compreendido todos os mistérios, e mesmo assim a história não me tinha cativado. 

Achei que o autor conseguiu de forma subtil elucidar o leitor da mesma forma que estas crianças foram crescendo. Vivendo as histórias e aventuras do momento entre amigos, e assimilando pouco a pouco pequenas peças de informação que vão sendo reveladas sobre o que é na realidade o contexto desta história, sem sequer se aperceberem que sabem de algo diferente. Simples e naturalmente, passam da ignorância para a aceitação como dado adquirido daquilo que os espera fora de Hailsham. Assim é para o leitor: Começa a história sem saber nada, e quando chega ao fim entende o contexto, mas é como se sempre tivesse sabido, não houve nenhuma "revelação".

Apesar de ter achado a dinâmica das personagens interessante, nunca cheguei a criar empatia com Kathy nem com os seus amigos tão importantes. Ao mesmo tempo, considerei o conceito global do livro, o material que coloca este livro na categoria de "distopia", a parte mais interessante de toda a história, e fiquei frustrada por isso não ser tão explorado como achei que seria, ou como gostaria. 

Agora em perspectiva, vejo que ao construir um tema forte em redor da vida destes três amigos, o autor conseguiu criar uma história feita de emoções humanas, de forma bastante pesada e irónica. Talvez por uma questão de timing e disponibilidade pessoais, infelizmente não consegui captar essas emoções em nenhuma fase da leitura, mas consigo perceber que este livro tenha agradado a tanta gente. Consigo apreciar a obra de forma global, mas simplesmente não resultou para mim. 

O melhor: O conceito distópico.

O pior: Falta de empatia com as personagens e o rumo da história.

3/5 - Gostei.