Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

14/05/2013

Top Ten Tuesday - 10 Leituras complicadas


Tal como diversos blogs que sigo, também eu resolvi aderir a esta rubrica semanal, Top Ten Tuesday, originalmente publicada no blog The Broke and the Bookish. Todas as terças-feiras é publicado um tema, e blogs por essa internet fora publicam o seu top 10 (ou o máximo que consigam) de livros segundo esse tema. 
Os temas costumam ser bastante interessantes, e apesar de não prometer participar todas as semanas, fica aqui hoje a primeira participação: o meu top 9 (não me consegui lembrar de 10) de leituras desconfortáveis, livros que lidem com temas sérios, difíceis para o leitor, por ordem de leitura.



Diário de Anne Frank, por Anne Frank - Li este livro na adolescência (ainda uma criança, quase), e foi a primeira leitura que me marcou. Fiquei terrivelmente impressionada com a realidade de uma guerra que ouvia falar mas da qual nada sabia e pouco queria saber. A perspectiva da guerra e da perseguição nazi, de uma menina da minha idade, em tantos aspectos tão ignorante acerca da guerra como eu, marcou-me profundamente e apesar de ter adorado o livro, foi uma leitura difícil e devido a ela sempre senti uma atracção para as obras passadas nesta época da História.



Vendidas, Zana Mushen - Tal como o livro anterior, li o Vendidas no início da adolescência e teve em mim um impacto fortíssimo. Conta a história de duas irmãs, residentes no Reino Unido e filhas de pai iemenita e mãe inglesa, que são levadas para o Iémen e vendidas em casamento pelo pai . Por várias vezes quis largar o livro, para não ler mais os horrores e humilhações que Zana e Nadia são submetidas na vida de casadas num país árabe, em lares profundamente retrógrados. O facto do livro ser contado na primeira pessoa por Zana, e de ambas terem crescido numa sociedade ocidental semelhante à minha e terem sofrido o choque cultural terrível, na minha idade, fez com que me marcasse profundamente. Um livro forte, por ser uma história real.



Lolita, Vladimir Nobokov - Este livro podia ser (e é, na verdade), um caso de estudo literário. Ainda hoje não consigo dizer se gostei dele ou não. Em retrospectiva, tudo o que tem de bom é tudo o que me repugna no conteúdo. Gostei das personagens, bem construídas e incrivelmente reais. Gostei da narrativa e do trágico da obra. Mas como é que simpatizamos com Humbert Humbert, um homem que sem hesitação chamaríamos um pervertido? Como é que acreditamos  nos seus devaneios e justificações ao ponto de acreditarmos na sua perspectiva das coisas? Como pensar que Lolita não é tão inocente como qualquer menina de 13 anos? É um livro duplamente desconfortável, primeiro pelo tema que aborda, e depois por fazer o leitor auto-criticar-se por (quase) tomar o partido do adulto abusador.




Trilogia Millenium, Stieg Larsson - Apesar do título, quem começa a ler o primeiro livro da trilogia, Os Homens que Odeiam as Mulheres, não sabe que está a ler uma obra que retrata temas fortes como a violência de género, tráfico de seres humanos, prostituição forçada,  maus tratos, negligência parental e abusos físicos e psicológicos no seio da família, na aparente sofisticada e cristalina sociedade sueca. Apesar do primeiro livro ter como trama central uma situação de corrupção financeira, a fascinante personagem principal, Lisbeth Salander, vê-se envolvida em situações que me deixaram revoltada e horrorizada. As descrições cruas de cenas fortíssimas, do ponto de vista da própria Lisbeth perturbaram-me imenso, como só o tema de violência contra as mulheres me consegue perturbar. Ao longo dos restantes livros da trilogia percebemos que o tema global é a violência contra as mulheres, nas suas mais diversas formas, numa obra cuja escrita foi motivada por um acontecimento real na vida do autor, ao testemunhar uma situação de violência contra uma jovem desconhecida. 


The Help (As Serviçais), Kathryn Stockett - Este livro retrata a realidade da segregação de raça nos anos 60, no estado do Mississipi, Estados Unidos da América. A época de Martin Luther King, e escolas de negros e escolas de brancos e violência de raça a decorrer abertamente. É a história de 3 mulheres, duas criadas negras e uma branca. Os relatos destas personagens fictícias poderiam bem ser reais, no contexto desta fase da história recente dos Estados Unidos, e o desconforto e revolta que senti ao lê-los foi bem real. 



Room (O Quarto de Jack, em português), Emma Donohue - Este livro é contado por um menino de 5 anos, que vive com a mãe num quarto. Toda a sua vida e o seu mundo são aquele quarto fechado, onde nasceu e vai crescendo. É estranha a maneira como a história nos é contada, porque um menino de 5 anos tem um raciocínio e vocabulário lineares. Mas os contornos perturbadores desta história começam a definir-se quando começamos a perceber como e porquê Jack e a mãe vivem neste quarto. 




Pequena Abelha, Chris Cleave - Mais uma vez, um livro que me impressionou e deixou desconfortável pela dose de realidade que representa. Little Bee, uma menina nigeriana, conta na primeira pessoa a emocionante história da sua breve vida, e a maneira marcante como conheceu Sarah, uma inglesa na casa dos 30 anos. Este livro aborda não só o tema da realidade violenta e dificuldades sociais na Nigéria, mas também temas mais profundos como os refugiados no Reino Unido, como as nossas vidas podem mudar para sempre por um acontecimento imprevisível,  auto-sacrifício e até que ponto estamos dispostos a sair do nosso caminho para ajudar alguém.


Habibi, Craig Thompson - A sublime arte presente em cada uma das 672 páginas desta fantástica graphic novel não deixa ignorar o forte tema da segregação feminina na cultura árabe, além da escravatura. A triste história das duas personagens principais que passam  por diversas provações é mais triste ainda por saber que é a história de muitos seres humanos. 




Gone Girl (Em Parte Incerta) - Já falei imeeenso deste livro, e podem ouvir o que eu disse aqui, além da minha opinião. Este livro perturbou-me pela excelente caracterização psicológica das personagens. É assustadora a perspectiva de que pessoas com perturbações mentais retorcidas se cruzam connosco nas nossas vidas, mas é uma perspectiva real, e este livro demonstra-o de forma brilhante. 





5 comentários:

  1. Vendidas! Como é que eu me fui esquecer desse livro no meu top... Ainda hoje a história dessas duas irmãs me está na cabeça. Acho que foi o primeiro livro que li "de enfiada", tinha aí uns 12 ou 13 anos, e também fiquei profundamente chocada com toda aquela violência contra as mulheres.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também tinha mais ou menos essa idade, impressionante. Há mais dois livros que continuam a história e em PT foram editados agora os 3 num único livros, com o nome de Escravas.

      Eliminar
  2. Este foi um pouco complicado para mim... Temos o Stieg Larsson em comum :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também foi complicado para mim, tive de pensar muito e mesmo assim só 9 :P

      Eliminar
  3. Terminei este fim de semana a leitura das ''Serviçais'', ADOREI. Pelo tema abordado - segregação racial, pelas personagens e seus respetivos pontos de vista, opiniões e personalidades tão dispares, mas que num todo foram algo tão harmonioso e completo!
    Viajei aos anos 60, revi o sonho americano das família norte americanas, em oposição à discriminação e opressão dos negros.
    O Stieg Larsson também me agradou com ''Os homens que odeiam mulheres''.

    ResponderEliminar