Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

15/01/2011

Eu e os Livros (II)

Quando li o post da WhiteLady no Seu Cantinho, decidi partilhar também a minha história com os livros ao longo do tempo. E depois tive uma ideia melhor: desafiar um blog amigo a fazer o mesmo, e assim criar uma cadeia de histórias sobre livros.

Fica aqui o meu percurso no reino dos livros, apesar de não conseguir lembrar-me exactamente de quando começou.


Não sei quando comecei a gostar de livros. Não me lembro qual o primeiro livro que li. Não me lembro qual a primeira história que me apaixonou e que me fez gostar de ler. Mas sei que lá em casa sempre houve livros: enciclopédias, livros de Ciência, História, Arte e de Natureza Animal. Os meus pais compravam para mim e para o meu irmão colecções daqueles livros infantis de páginas de cartão grosso, criados para resistir aos membros desajeitados de qualquer criança, mesmo assim tão manuseados que acabaram por se desfazer com o tempo. Eles liam-nos as histórias algumas vezes, mas naquela altura nem interessava tanto, o livro em si era o objecto que inspirava as histórias que nós inventávamos enquanto não as conseguíamos ler. 

Quando tinha 6 anos o meu pai levou-me à Biblioteca Municipal da nossa cidade, para eu me inscrever. Sei que idade tinha porque tinha entrado para a escola primária. Explicou-me que sendo leitora da Biblioteca podia pedir livros emprestados, ler e depois devolver. E que podia sempre voltar para buscar mais. Um edifício antigo (tão antigo que já nem é o mesmo hoje em dia), paredes de pedra e escadas escuras, chão de madeira e…deserto, claro. É engraçado, lembro-me que na altura senti-me tão intimidada. Eu nem sabia ler ainda! Fiquei um pouco chateada por quererem que eu lesse sem ainda ter aprendido! Acho que apesar da insistência do meu pai e da senhora bibliotecária (que apesar do edifício e tantas outras coisas terem mudado, permanece ainda por lá) não trouxe nenhum livro naquele primeiro dia. 


Não me lembro bem quando voltei lá, mas sei que depois do arranque envergonhado passei a ir diariamente à Biblioteca entregar 5 livros e trazer outros 5, que era o número máximo permitido. Era uma chatice preencher todos os cartõezinhos de papel cor-de-rosa das requisições, mas na verdade valia a pena, e com o tempo já nem era preciso mostrar o cartão. Livros da Disney, da Anita, contos tradicionais incontáveis e histórias infantis eram devorados diariamente. E a Biblioteca cheirava tão bem… E os livros estavam sempre lá outra vez, e alguns eu requisitava repetidamente e voltava a lê-los. Os livros de contos tradicionais eram os meus favoritos. Até recebi num Natal um livro cheio de histórias, uma para cada dia do ano (é claro que li logo tudo, mas pronto).

E quando passei para o ciclo e descobri que na escola havia outra biblioteca? É engraçado pensar que apesar de tanta oferta reli e voltei a reler tantos e tantos livros. Há histórias que simplesmente não nos deixam. 



Numa feira do livro na escola o meu pai comprou uma colecção de livros infantis sobre Gnomos, Dragões, Fadas e outras criaturas mágicas, e deu-mos com a condição de ler primeiro um outro livro, velhinho e muito estranho. Sem imagens, só letras! Cheia de vontade de ler os outros mágicos, devorei Os Cinco e A Ilha dos Murmúrios, naquilo que foi o início de uma fase de leitura mais juvenil. Depois d’Os Cinco foi Uma Aventura, Alice Vieira e Sophia de Mello Breyner (anos mais tarde viria a apaixonar-me pelo Equador do seu filho), os livros de Adrian Mole







Pelo meio foram surgindo livros tão marcantes como o Diário de Anne Frank e O Perfume. Tive tempo para me apaixonar pelos espirituosos Asterix e Obelix e ler e reler e reler os livros de BD do Tio Patinhas e companhia antes de, por volta dos 13, conhecer o pequeno feiticeiro caixa de óculos, Harry Potter e me apaixonar por um mundo mágico que me acompanhou até depois dois 20. 

Como sempre tive o hábito de frequentar bibliotecas, para mim era perfeitamente natural trocar livros com amigos, e tratá-los como se fossem meus. Muitos dos livros que mais me marcaram na minha vida foram-me emprestados ou requisitados (muitos dos quais tenho andado a adquirir recentemente para a minha estante pessoal). Um deles foi precisamente Harry Potter e a Pedra Filosofal, a empréstimo de uma amiga. A Câmara dos Segredos foi-me depositado na mesinha de cabeceira de um sábado de manhã, depois de muito pedinchar, certamente, e estava terminado antes do final da noite. 

No 6º ano a minha professora de Português, tentando cativar alunos menos dados à leitura, propôs a leitura em voz alta de A Lua de Joana. Os 10 minutos finais de cada aula estavam reservados para ouvir a professora a ler mais um capítulo do livro, e quando tocava para a saída, implorávamos para ficar ouvir mais durante o intervalo. Já não me lembro do nome da professora, mas não me esqueci do livro. Li tudo de Paulo Coelho (apesar de hoje em dia não conseguir ver porquê, mas é daquelas coisas), apaixonei-me irrevogavelmente pelo Conde de Monte Cristo e adorei a magia no contexto histórico de Leonor de Aquitânia. Todos estes livros foram emprestados por amigas ou requisitados da Biblioteca. 

Também foi pela mão de uma amiga que conheci duas das minhas autoras favoritas. A Casa da Floresta foi o primeiro livro de Marion Zimmer Bradley que li, e os livros desta autora, principalmente a Saga de Avalon e O Presságio de Fogo, foram muito marcantes para mim e definiram muito do meu percurso como leitora no futuro. Um pouco mais tarde, quase como uma evolução natural, veio A Filha da Floresta, de Juliet Marillier, a minha escritora favorita. 

Por esta altura já se nota um certo padrão nas minhas leituras favoritas. Pois é, o meu género favorito é a fantasia. Muitas vezes considerado um género de literatura menor, não tenho vergonha de dizer que a fantasia me enche as medidas como leitora. A perfeita fusão entre o que de mais humano e real pode haver nas pessoas e a magia e os mistérios da Terra. 

Foi quando se esgotaram os novos livros da Juliet no mercado que me virei para a internet em busca de mais informações e contacto com a própria, e acabei por me infiltrar no mundo literário da net. A partilha de informação e opiniões levou-me a experimentar leituras que talvez não arriscasse. 

Mas tento ler de tudo e procuro pegar num livro em preconceitos relativos a géneros ou categorias (mas por reconhecer a minha queda para a fantasia, propus-me um compromisso literário para este ano). Estou sempre a querer ler mais, e parece sempre que é de menos. Costumo dizer que quando se tem um livro nunca se está só. Cresci no meio dos livros e cresci com eles. Mais do que companheiros que me acompanharam ao longo da minha vida, sei que aprendi alguma coisa com todos os livros que li. 


Qualquer pessoa pode tornar-se um bibliófilo. Aquele que já gostava de livros antes de saber ler e aquele que só percebeu que é apaixonado por livros quando leu aquela obra que tão inesperadamente o arrebatou e lhe encheu o coração de calor. 

As pessoas que não gostam de ler, simplesmente ainda não leram o seu livro favorito.

Gostava de ouvir as vossas histórias da maneira como os livros vos seguiram na vida. Vão ser todas diferentes, mas sei que vão ter muita coisa em comum.


Para continuar esta cadeia, desafio a Elphaba, do Histórias de Elphaba a contar a sua história literária.


Ficamos à espera :)

13 comentários:

  1. o livro em si era o objecto que inspirava as histórias que nós inventávamos enquanto não as conseguíamos ler.
    Na creche fazíamos um jogo desse género com os livros do Lucky Luke, Tintim, Axtérix, e as bandas desenhadas da Disney. :D

    É engraçado como com histórias diferentes, há sempre pontos em comum, nem que seja a paixão pelas histórias que nos fazem sonhar. Espero que mais pessoas aceitem o desafio e nos contem a sua! ;)

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  2. muito em comum o meu percurso. com algumas diferenças claro. :)

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  3. Ai Cat gostei tanto do teu texto, já me sinto inspirada :)
    É claro que aceito o desafio e vou começar hoje mesmo a tentar recordar-me onde começou a minha paixão pelos nossos amigos livros :)

    Obrigada pelo desafio, Beijinhos*

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  4. WhiteLady, é mesmo engraçado que todos temos percursos de vida diferentes, mas no que respeita aos livros, temos sempre algo em comum.

    Raquel Fru, foste uma das culpadas emprestadoras de livros :P

    Elphaba, fico muito contente por teres gostado! Estou desejosa de saber como foi o teu "primeiro encontro" com os livros :)

    Beijocas

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  5. Espero que não te importes... Eu como que desafiei a Tchetcha, que teve um percurso um pouco diferente e estava a morrer de curiosidade para ler. A resposta dela pode ser lida aqui.

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  6. WhiteLady, claro que não me importo! Adorei ler a história dela.

    Obrigada Ana :)

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  7. Cat,ao ler-te sobre o modo como te "apaixonaste" pelos livros e como fazem parte da tua vida ( e não vou contar hoje a minha história de como os livros se tornaram a minha "droga", em que mesmo não os lendo tenho de os adquirir!),lembrei-me de um livro que já tive oportunidade de recomendar aos editores da Bang!, no respectivo fórum, e que se chama "Mistery" de Peter Straub.
    Nunca li uma história que evocasse de forma tão brilhante o modo como os livros, todos os livros( mas de forma especial os de mistério), "entraram" na vida do personagem principal, que tendo "morrido" foi "ressuscitado" através dos livros e da leitura, e como estes o trazem para uma outra "Vida", que lhe permite descobrir os segredos mais tenebrosos que "corrompem" o coração humano!
    Já o li há uns bons dez anos, e no entanto, esta leitura permanece na minha memória como uma das leituras mais fantásticas que "vivi"!Um livro soberbo sobre a leitura e os livros e a forma como podem fazer parte das nossas vidas,e que não me canso de recomendar.Fica,pois, a recordação.

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  8. Recomendações tuas sempre bem vindas, meu caro.
    Fica registado.

    Qualquer dia desafio-te a ti para contar a tua história (cof cof). Para já adorei saber que tem algo em comum com a minha, porque esta droga de facto faz-me não evitar adquirir o livro físico, mesmo quando já tenho imensos à espera de vez para ler.

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  9. Adorei ler esta "história". Sinceramente não tenho muito para contar, por isso limito-me a ver as "aventuras" dos outros. :)

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  10. Obrigada Ana :) A mim deu-me imenso gozo partilhar.

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  11. Oh, eu tenho aquele livro "Um conto por dia"! Assim que vi a imagem não conseguir resistir a clicar e ler o porquê de estar ali. É um dos livros que tenho há mais tempo, daqueles que por mais estragado pelo tempo e pela meninice esteja eu não consigo esconde-lo ou algo mais terrível, como deitá-lo fora. Nunca tive o hábito de estragar os livros, nem cortar, nem rasgar ou riscar, e irrita-me profundamente quem o faz. Mas é claro que depois de tantos anos e tantas vezes lido e das milhares de vezes que as páginas foram viradas está a descolar-se por todos os lados. Recebi-o quando tinha seis anos e já sabia ler qualquer coisa, gostava de sabe o dia de aniversário das pessoas e identificá-las com a estórias correspondente :) Adoro as ilustrações e faz-me pensar no que era um livro para crianças antigamente e na barbaridade em que muitos dos novos são hoje.

    Joana

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  12. Olá Joana, obrigada pela visita :)

    O meu exemplar também já viu melhores dias (a foto encontrei-a na net), que apesar de eu sempre ter tratado bem os meus preciosos livros, não há como resistir a anos e anos com milhares de leituras pelas mãos de uma criança! Um dos poucos que ainda está guardado em casa dos meus pais (muitos foram dados a outras crianças ou instituições) e de vez em quando ainda tenho saudades de pegar nele à noite: era a hora oficial para ler o conto daquele dia, mas o frequente era ficar a ler até muito depois da hora (tão pequenina e já tinha esse vício!). No dia seguinte até podia reler o conto lido na noite anterior, e não fazia diferença.
    As ilustrações eram lindas. As princesas eram magníficas, adorava-as :) Verdadeiros livros para crianças, que enchiam a alma e ensinavam valores.

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