Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

11/09/2013

Estante à Quarta (46)

(imagem daqui)

09/09/2013

Queen Hereafter

A novel of Margaret of Scotland

Autora: Susan Fraser King

Editado por: Broadway Books (2010)

Nº de páginas: 354

Editado Originalmente: Crown (2010)

Sinopse: The story of Margaret, the Hungarian-born Saxon princess who married Malcolm Canmore, King of Scots, bringing reform and foreign ways to Scotland—Queen Hereafter is also a tale of Margaret’s friendship and rivalry with Eva, a Scottish harper, and Eva’s kinswoman, the former Queen Gruadh, known as Lady Macbeth.





Opinião: Uma das rainhas mais relembrada da Escócia, a rainha Margarida é uma importante personalidade histórica e religiosa das Grã-Bretanha. Chamada Rainha Santa, canonizada pelo Vaticano e aclamada na Escócia, deixou um importante legado e a sua memória sobrevive ainda hoje, em nomes de localidades, igrejas e escolas. É nos anos de juventude desta rainha que se centra este livro, desde a sua chegada não programada às costas da Escócia com a mãe e os irmãos, até aos primeiros anos do seu casamento com Malcolm III da Escócia. 

Edgar of Wessex, herdeiro ao trono de Inglaterra, vive na corte inglesa com a mãe Agatha e as irmãs Margaret e Cristina. Edgar viveu toda a sua vida em exílio na Europa, e sendo menor de idade e sem condições para governar numa época atribulada, é protegido por Harold II, que assume o governo de Inglaterra até à coroação do jovem Edgar. Com a invasão normanda da Inglaterra, Harold é morto por William, o Conquistador, que usurpa o trono, não deixando outra alternativa ao herdeiro Edgar, e à sua família senão fugir de terras inglesas. O barco em que viajam tem destino a Europa continental, mas uma tempestade (natureza, destino ou providência) arrasta os fugitivos para fora de rota, atirando-os para a porta do Rei Malcolm III da Escócia. Malcolm vive com alguns problemas no seu próprio reino. Tendo morto em batalha os anteriores reis, assumiu o trono de um país dividido entre si, além dos confrontos com Inglaterra. Os senhores do Norte não assumem abertamente rebelião, mas demonstram má vontade para com o Rei, mantendo-se fieis à viúva e mãe dos anteriores reis, Lady Mcbeth. Esta planeia enviar a sua neta, Eva, uma bardo de talento extraordinário e enorme beleza, para a corte de Malcolm, para que esta a informe acerca da nova rainha, e dos planos do rei para o norte do reino. 

Com estas duas facções no seio do reino da Escócia surgem duas personagens que vão guiar o rumo deste livro: Margaret, esposa do Rei Malcolm, lidando de perto com a guerra com os Normandos em Inglaterra, a luta do irmão para retomar o trono e a sua própria luta religiosa interior; e Eva, uma jovem com a missão de lutar pela independência cultural e religiosa de uma Escócia que absorve as influências inglesas da nova rainha. 

Conhecemos estas duas mulheres num capítulo inicial que corresponde à parte final do livro. Eva está presa, Margaret confronta-a com as suas acções e tomamos conhecimento de uma amizade profunda que foi traída, e de um julgamento religioso que se aproxima. O resto do livro conta-nos como ambas chegaram a este ponto. 

Foi uma leitura que me entusiasmou bastante. Adorei a voz da autora e a maneira como introduziu os elementos históricos na narrativa, incluindo pequenos detalhes acerca de Margaret (como as duas tranças loiras sob o véu branco, como é frequentemente retratada, os locais onde passou ou fez obra e que hoje têm o seu nome, a amizade com o monge que viria a ser o seu confessor e os responsável pela documentação da sua biografia, etc). Este detalhe e profundidade da personagem fizeram-me simpatizar com esta rainha religiosa. Por outro lado, a jovem e nobre Eva é também ela uma personagem cativante e interessante. O melhor elogio que posso fazer à maneira como a autora mostrou os pontos de vista destas duas mulheres, é que fez-me não saber por quem torcer no desenrolar dos acontecimentos e do futuro da Escócia, de tal forma ambas as causas me cativaram. No final de tudo, a História determina o final do livro, mas a maneira como lá cheguei manteve-me agarrada à leitura.

Este livro tinha quase tudo para ser uma leitura perfeita para mim, mas achei que faltou algum acontecimento trágico, uma drama emocional ou físico, uma parte mais emocionante que envolvesse as personagens antes do fim. Creio que a autora tentou fazê-lo, mas para mim não foi muito bem conseguido, e acabou por ser um pouco anti-climático. Gostava também que a personagem de Eva tivesse mantido até ao final mais do seu carácter e postura de bardo, e saber um pouco mais sobre esta importante figura da cultura celta. Inesperadamente, fiquei muito curiosa em relação à personagem histórica da esposa e rainha de Mcbeth,  e talvez leia o livro que acabei por descobrir que a autora tem, dedicado a ela.

Em suma, é um belo romance histórico, bem escrito e com personagens cativantes e uma história bem contada. Recomendo, sobretudo a fãs do género. 


O melhor: As personagens Margaret e Eva. A forma como a autora conseguiu incluir os factos históricos na personalidade e destino das personagens. 

O pior: A ausência de um verdadeiro climax na história. 


4/5 - Gostei bastante

04/09/2013

Estante à Quarta (45)



(visto aqui)

03/09/2013

Letters from Skye

Autora: Jessica Brockmole

Publicado por: Ballantine Books (Julho 2013)

Nº de páginas: 304

Sinopse: A sweeping story told in letters, spanning two continents and two world wars, Jessica Brockmole’s atmospheric debut novel captures the indelible ways that people fall in love, and celebrates the power of the written word to stir the heart.

March 1912: Twenty-four-year-old Elspeth Dunn, a published poet, has never seen the world beyond her home on Scotland’s remote Isle of Skye. So she is astonished when her first fan letter arrives, from a college student, David Graham, in far-away America. As the two strike up a correspondence—sharing their favorite books, wildest hopes, and deepest secrets—their exchanges blossom into friendship, and eventually into love. But as World War I engulfs Europe and David volunteers as an ambulance driver on the Western front, Elspeth can only wait for him on Skye, hoping he’ll survive.
June 1940: At the start of World War II, Elspeth’s daughter, Margaret, has fallen for a pilot in the Royal Air Force. Her mother warns her against seeking love in wartime, an admonition Margaret doesn’t understand. Then, after a bomb rocks Elspeth’s house, and letters that were hidden in a wall come raining down, Elspeth disappears. Only a single letter remains as a clue to Elspeth’s whereabouts. As Margaret sets out to discover where her mother has gone, she must also face the truth of what happened to her family long ago.


Opinião: A história divide-se entre duas linhas temporais distintas, contada pelas cartas trocadas entre duas gerações de mulheres cujas vidas foram interrompidas pela guerra. Começamos por conhecer Elspeth, uma poeta escocesa que vive e sempre viveu na isolada Ilha de Skye, no norte da Escócia, e David, um jovem e boémio estudante universitário norte-americano. A distância de dois mundos entre estas duas pessoas torna-se insignificante em cada volta do correio, em cartas onde partilham autores e livros favoritos, confidências e sonhos pessoais, numa troca de correspondência que se mantém, mesmo no auge da Primeira Guerra Mundial. Em correspondência datada de algumas décadas mais tarde, em plena Segunda Guerra Mundial, conhecemos Margaret, filha de Elspeth, que acaba se de apaixonar por um piloto da Força Aérea Britânica, e que não entende a reticência da mãe em aprovar um romance nascido no seio de uma guerra. 

Este livro chegou-me electronicamente às mãos, totalmente por acaso. Estava a pesquisar títulos de livros no catálogo do NetGalley, quando o nome Skye me chamou a atenção, e fiz o pedido para me ser enviada uma cópia do e-book antes da publicação do livro. Não sabia absolutamente nada acerca do enredo do livro, uma vez que apenas li a sinopse até ao ponto em que me confirmou que a história envolvia de facto a minha ilha escocesa favorita (a única que visitei, sejamos honestos). Dois meses depois, passeando pelo Goodreads em busca da minha leitura seguinte, verifiquei que a minha adorada Juliet Marillier tinha gostado do livro, e comparava-o a um outro que eu própria adorei: A Sociedade Literária da Tarde da Casca de Batata, de Mary Ann Shaffer and Annie Barrows. 

Portanto, além da aprovação da minha querida Juliet, este livro continha elementos-chave para mim: romance epistolar, período histórico da Segunda Guerra Mundial, e Escócia. Como não gostar? E a verdade é que gostei. Fui cativada imediatamente pela primeira carta de David, e assim continuei até à última de todas, que quase me fez chorar. Com os mesmos remetente e destinatário, essas duas cartas, separadas por décadas e vidas inteiras, não podiam ser mais diferentes. Entre estas duas cartas há uma belíssima história de amizade, destino e sentimentos profundos que surgem como se sempre estivessem lá estado. Há cartas divertidas e cartas sérias, que relatam felicidade e guerra, e cartas mundanas de rotinas e novidades, e mesmo no meio de desgraças um tom espirituoso que me fez sorrir. 

Em todas as cartas há uma voz particular da personagem que a escreve. Quantas vezes saltei o cabeçalho com data e local, ansiosa por chegar ao texto, e sabia de imediato de quem e para quem era a carta, quase como se fosse um filme e ouvisse a voz do actor a ler a carta em voz alta, e visse a imagem do destinatário a lê-la.

A dada altura na leitura achei que a história se ia focar unicamente no lado romântico, e fui agradavelmente surpreendida com uma complexidade inesperada na narrativa, com dilemas e situações envolvendo outras personagens secundárias, e até um pouco de mistério, à medida que Margaret se esforça por entender o passado e a origem das cartas da mãe. 

Este não é um livro brilhante nem uma história extraordinária. Nem sequer tem no tema ou no cenário algo de particularmente original. No entanto, algo neste livro é genuíno e tocante, e está escrito duma forma cativante, que demonstra o talento da autora para nos fazer gostar das personagens que estamos a seguir. O facto de lermos a sua correspondência e nada mais, sem outro narrador que não as cartas que estas personagens enviaram, permite-nos seguir esta história quase em suspenso, como se ansiássemos também nós pela carta seguinte, com o desenrolar dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, as cartas estão realisticamente escritas, o que implica por vezes a menção de acontecimentos passados entre as personagens, que não sendo descritos nas cartas entre ambos, deixam o leitor ansioso por descobrir o como e o porquê.  

Achei o tom das cartas simplesmente delicioso, e senti saudades dum tempo em que seres humanos comunicavam desta forma entre si. Se tivesse nascido nesse tempo seria algum dia capaz de escrever cartas tão espirituosas e marcantes? Manter uma correspondência tão frequente e sólida? Dificilmente. Porque afinal de contas trata-se de um livro de ficção, e tal como qualquer bom livro que se preze, quase nos faz desejar que as suas personagens sejam verdadeiras e a sua história seja real. 

Ideal para quem gosta de romances epistolares, mas não só, este foi uma leitura que me deu bastante gozo e que fico contente por tão casualmente a ter descoberto. 

O melhor: A personagem de Elspeth e a busca de Margaret.

O pior: A personagem do noivo de Margaret, sub desenvolvida, como se apenas para criar um destinatário para as suas cartas.


4/5 - Gostei bastante


30/08/2013

The Ocean at the End of the Lane

Autor: Neil Gaiman

Publicado por: Headline Review (2013)

Nº de páginas: 248

Sinopse: THE OCEAN AT THE END OF THE LANE is a fable that reshapes modern fantasy: moving, terrifying and elegiac - as pure as a dream, as delicate as a butterfly's wing, as dangerous as a knife in the dark, from storytelling genius Neil Gaiman. 

It began for our narrator forty years ago when the family lodger stole their car and committed suicide in it, stirring up ancient powers best left undisturbed. Dark creatures from beyond the world are on the loose, and it will take everything our narrator has just to stay alive: there is primal horror here, and menace unleashed - within his family and from the forces that have gathered to destroy it. 

His only defense is three women, on a farm at the end of the lane. The youngest of them claims that her duckpond is ocean. The oldest can remember the Big Bang.

Opinião: Este é daqueles livros acerca dos quais me é difícil escrever uma opinião. Primeiro surge o meu historial Neil Gaiman:

- Dois livros do autor lidos (Deuses Americanos e A Estranha Vida de Nobody Owens), ambos com pontos muito positivos a salientar mas sem me terem deixado realmente fã; 
- Devoção ao autor da parte de amigos e colegas bibliófilos;
- Uma simpatia pessoal muito grande pelo autor e pela sua postura online (nomeadamente no twitter) e offline, em particular em relação aos fãs e tudo relacionado com livros no geral.

Depois surge o historial que incentivo à leitura deste The Ocean at the End of the Lane:

- Um inacreditável hype em redor do livro e do autor semanas antes e depois da publicação;
- Opiniões de pessoas maravilhadas com o livro;
- Capa bonita! (também conta, e foi o que me fez comprar o hardcover em Londres quando o vi ao vivo)

Feita esta contextualização, espero que compreendam melhor quando digo que este era um livro que eu adorava ter adorado. Pelo autor em si, pela simpatia que lhe tenho, e todo o reconhecimento que tem, Neil Gaiman é um autor do qual eu quero (desesperadamente) gostar, mas que de alguma forma fico sempre um furo abaixo de conseguir. 

The Ocean at the End of the Lane é um livro pequeno que foi lido rapidamente (principalmente para o meu ritmo preguiçoso de Verão e sol), devido quer ao ritmo ao qual os acontecimentos se sucedem, quer à prosa do autor, da qual gostei bastante. Tendo em conta o ponto de vista de um menino, era muito fácil falhar no tom da narrativa, no entanto Neil Gaiman conseguiu tornar a sua voz cativante e inocente, sem ser demasiado infantil. Gaiman é, afinal de contas, um autor de muitas obras infantis de sucesso. 

Foi por isso uma surpresa (ou não), quando ao chegar ao fim deste livro me encontrei perdida. A verdade é que não sabia se tinha gostado ou não. Sim, vi-me envolvida na história enquanto a lia, mas nada dela ficou em mim depois de ter terminado o livro. Apesar de reconhecer que está bem escrito (o tom nostálgico do livro é palpável e sem dúvida intencional), nem personagens, nem história, nem escrita me marcaram particularmente. Este é mais um livro de Neil Gaiman que eu tenho de admitir ter pontos bastantes positivos e um conceito interessante, mas que simplesmente não é para mim. 

Apesar de admitir que os seus livros não me cativam sobremaneira, não ouso afirmar que é um mau escritor. Ainda que não me sinta particularmente cativada, tenho a sensibilidade suficiente para perceber que escreve de forma fantástica e domina completamente a prosa que lhe sai das mãos. Todo o aclamado "génio do autor", que identifiquei em livros anteriores, não resulta comigo. Ou ainda não li o livro certo. Como sou teimosa e como já disse, tenho uma simpatia por este autor, vou continuar a tentar. Faço uma nota mental que a escrita do autor em si me agrada mais de livro para livro (o primeiro foi lido em português, o segundo metade tradução, metade original, e o terceiro no original), portanto no futuro manter-me-ei pelas versões originais.

Assim sendo, não recomendo nem deixo de recomendar este livro. Recomendo sim, que o leitor curioso faça o seu próprio juízo desta obra e deste autor, e espero honestamente que resulte com outros leitores como não resultou comigo. 

O melhor: A escrita que transparece a nostalgia e melancolia, de um adulto que recorda a sua infância como uma parte da sua vida que não pode recuperar. As mulheres Hempstock. 

O pior: Falta de empatia com personagens e história. 


2/5 - Está OK.